A estampa e suas evoluções: no Fashion Talks do Senai Cetiqt, Ronaldo Fraga e Angelo Frigerio debatem sobre as possibilidades de padronagem de hoje


Entre as inovaçõe, está a técnica de fusionagem que o estilista usou em sua última coleção. Nela, a estampa é criada com a junção de dois tecidos a uma alta temperatura. “É um fusionado de tecidos sobre um outro tecido e que não tem toque e nem tinta. Inclusive, essa máquina faz a fusão de tecido sintético com poliéster”, contou Ronaldo Fraga

“O Brasil é o país da estampa”. A frase dita por Ronaldo Fraga adianta a riqueza do debate “Novos Caminhos da Estamparia” na tarde de conhecimento promovida pelo Senai Cetiqt, na semana passada, no Rio de Janeiro. O painel, que contou com a experiência do estilista e a rica bagagem de Angelo Frigerio, da Rosset Têxtil, analisou as novas tecnologias dentro da padronagem, as mudanças na forma de produzir as peças e como se destacar neste novo mercado. No Fashion Talks, evento que reuniu estudantes de todo o Brasil, a ideia foi comentar essa evolução da estamparia, com destaque também para uma desaceleração moderna, e valorizar a criatividade de cada estilista.

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Afinal, como foi comentado no painel mediado por Jackson Araújo e Camila Yahn, em um cenário com tantas tecnologias e possibilidades, a criatividade passa a ser o elemento chave do sucesso na moda contemporânea. “Agora o desafio é muito grande para os criadores. É preciso pensar como eu vou me diferenciar com as tecnologias de hoje que todos já possuem. Antigamente, era bom quem fazia estamparia no quadro com 25 cores. Hoje, qualquer um faz com muito mais que isso”, apontou Angelo que lembrou que, no passado, a criatividade era, inclusive, limitada pelas possibilidades técnicas. “Até um certo ponto, a criatividade tinha que considerar as condições técnicas para fazer isso. Não dava para ser só criativo e querer fazer de um jeito que não existia método ainda”, disse.

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Ronaldo Fraga e Angelo Frigerio no painel Novos Caminhos da Estamparia (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

Além da criatividade, que é unânime em qualquer ponto quando o assunto é moda, o conhecimento passa a ser uma importante engrenagem desta máquina que é o mercado fashion. Para Ronaldo Fraga, mais do que saber criar, é preciso conhecer o tecido que será usado para antecipar as ideias finais. “Para ter um bom resultado na estampa, você também precisa conhecer o tecido no qual está aplicando. Uma poliamida nunca vai ter o mesmo efeito de um poliéster, por exemplo. Então, quando você conhece o material, é possível ter caminhos diversos e transitar com mais propriedade”, destacou.

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Aliás, propriedade é algo que Ronaldo Fraga tem quando o assunto é a estamparia. Em seu trabalho, a riqueza de detalhes e possibilidades sempre foi uma característica e, consequentemente, a padronagem quase uma obrigação. No entanto, esta não é uma identidade exclusiva ao estilista. Como ele destacou, o Brasil possui esse DNA estampado e é reconhecido desta forma para além de nossas fronteiras. “O Brasil é o país da estampa. Quando a gente viaja, não precisa nem ir para muito longe, na América Latina eles já reconhecem a moda brasileira por causa das padronagens. A estampa em nosso país é modelagem, costura e tecido. Por isso a importância desse trabalho”, comentou.

O Fashion Talks reuniu diversos nomes de peso no Senai Cetiqt do Rio (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

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E neste sentido, a estampa passa a ter a tecnologia como aliada. Ao mesmo tempo que as evoluções passam a exigir mais da criatividade dos designers, ela também democratiza e pluraliza as opções de cores e formas na moda. Inclusive, hoje, é possível resgatar o passado graças ao futuro. “Quanto mais a tecnologia evoluir, mais valores você pode ir agregando aos itens que saíram de moda. Então, hoje, com esse boom do digital, também vemos a volta das estampas de quadro bem rudimentar. Nessa técnica, a gente consegue sentir até a tinta sobre o tecido. Mas também, na minha última coleção, eu usei uma técnica de padronagem que não é estampa. É um fusionado de tecidos sobre um outro tecido e que não tem toque e nem tinta”, contou Ronaldo que explicou sobre esta novidade que faz a mistura de materiais em alta temperatura. “Inclusive, essa máquina faz a fusão de tecido sintético com poliéster. Eu acho que isso é o mais fantástico. Então, aquela história de costurar seda com nylon que depois franzia tudo acabou. A linha e a agulha ficaram no século passado. Agora temos tecnologias que também substituem isso”, destacou.

Por falar em século passado, quem começou a carreira antes da estamparia digital precisou se atualizar para acompanhar o ritmo aquecido do mercado de inovações. Com seu sotaque italiano, Angelo Frigerio lembrou quando a novidade tecnológica chegou à produção de moda. “Quando eu vi a estamparia digital pela primeira vez, pensei que era só uma máquina impressora. Tudo bem. Desse dia até hoje, tudo mudou completamente. A minha bagagem e a experiência que eu tinha de passar a régua para estampar foram para as cucuias. Não tem mais valor nenhum”, contou Angelo que, por mais que o handmade da estamparia tenha sido superado pelas novas técnicas, Ronaldo Fraga destacou a volta e a valorização dos desenhos feitos à mão neste momento digitalizado.

Jackson Araújo e Camila Yahn foram os mediadores do encontro (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

Mesmo assim, Angelo se atualizou, agregou as novidades à empresa e hoje defende com propriedade o trabalho de estamparia digital. Aliás, ele destacou um importante lado positivo da nova tecnologia. De acordo com Angelo Frigerio, a estamparia digital é também sustentável e polui menos o ambiente. “A gente coloca a tinta para a quantidade exata de tecido. Com isso, a lavagem é mais simples e gera menos água suja. Também não há desperdício de tinta e isso facilita e economiza a limpeza depois”, apontou.