No Fashion Talks do Senai Cetiqt, as inovações na moda ganham espaço em tarde com estudantes e Lenny Niemeyer comenta tecnologia atual: “O céu é o limite”


Neste painel, além da dama do beachwear nacional, o stylist Daniel Ueda e a diretora do Centro de Criação de São Paulo da Adidas, Muriel Campanha, também participaram da conversa que abordou as novas possibilidades e a importância da moda na exploração de produtos funcionais

A tecnologia como nova personagem do cenário fashion foi a temática que iniciou a tarde de debates realizada esta semana no Senai Cetiqt do Riachuelo, no Rio. Para comentar esta dobradinha dos avanços técnicos dentro da moda, o Fashion Talks, evento que reuniu grandes estilistas para uma plateia de estudantes de diversos estados brasileiros, escalou a dama do beachwear nacional Lenny Niemeyer, o stylist Daniel Ueda e a diretora do Centro de Criação de São Paulo da Adidas, Muriel Campanha. Mediado por Jackson Araújo e Camila Yahn, o painel “Tecnologias e Tendências” destacou a importância do olhar fashion sobre a funcionalidade técnica dos produtos.

Como comentou Camila, é este olhar de moda que permite que inovações como um sutiã que identifica o câncer de mama se torne usável, apesar de funcional. “O que eu sinto dessa ligação é que a moda ajuda a tornar um produto técnico desejado e mais fácil de ser comercializado. Na maioria das vezes, essas ideias não são bonitas esteticamente. E é aí que a moda entra com o objetivo de fazer aquilo usável pela funcionalidade e pela aparência também”, disse a mediadora que, recentemente, participou de um congresso que apresentou tecnologias como a do sutiã médico.

Painel sobre tecnologia e moda com Muriel Campanha, Lenny Niemeyer e Daniel Ueda no Fashion Talks (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

No entanto, super inovações técnicas como essa são novidades no cenário da moda mundial. Quando começou, Lenny Niemeyer contou que não existiam tecnologias que permitiam criações ousadas e modernas como as de hoje. “Isso mudou demais. Agora, nós temos muitos recursos a favor da estética e não mais apenas do conforto”, destacou a estilista de beachwear que, entre esses avanços que fazem parte de sua grife homônima, está a pluralidade da lycra. Hoje em dia, o tecido que é base para as coleções de Lenny Niemeyer permite criações com diversas texturas e aparências, tais como brilho, fosco e até proteção UV nos biquínis. “Atualmente, nós temos mais de 100 tipos de lycra, umas mais finas e outras mais grossas”, contou.

A tecnologia nos tecidos da moda também está muito presente nos produtos esportivos. Aliás, como a diretora de criação da Adidas destacou, este é um dos pilares das coleções da grife que é referência na produção de material para atletas. “O nosso foco é a tecnologia. Na verdade, este segmento nasceu com o objetivo de atender às demandas dos atletas e melhorar as performances. Então, os nossos produtos começam a ser desenvolvidos a partir da tecnologia inovadora. Nesse caso, a moda entra como um elemento de graciosidade e desejo dessas ideias funcionais”, disse Muriel Campanha.

Camila Yahn, Muriel Campanha, Lenny Niemeyer, Daniel Ueda e Jackson Araújo no encontro de quarta-feira no Senai Cetiqt (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

Ainda mais nos bastidores desses tecidos que permitem criações tecnológicas e funcionais para o cenário da moda contemporânea, estão os maquinários que desenvolvem e trabalham as bases nas grifes. No caso de Lenny Niemeyer, a estilista contou que em sua marca a maior parte dos equipamentos são nacionais e disponíveis para todos os concorrentes. Inclusive, na última edição da São Paulo Fashion Week, a estilista explorou uma tecnologia que permite fios mais finos de lycra para a produção dos modelos de beachwear. “Nessa última coleção eu usei uns fios muito finos que seriam impossíveis de serem feitos há pouco tempo atrás. Então, eu acho que temos que explorar essas novidades e, de fato, o céu é o limite. Se tem alguma coisa que aparentemente parece ser impossível, é só pesquisar porque tem chances de já existir a tecnologia”, disse Lenny.

Mas, ainda assim, nem tudo é possível com as tecnologias que temos hoje. Um dos pontos que a estilista comentou que não conseguiu fazer é o efeito degradê na lycra como tanto sonhava. Mesmo assim, Lenny Niemeyer segue usando o tecido próprio do beachwear como sua principal base têxtil na moda. Para ela, a inovação está nas formas e nas cores, e não na cartela de fios da marca. “Eu acho que, no meu caso, eu preciso inovar mesmo é em forma, cor e estampa. A lycra geralmente é a mesma e eu só vario entre um tecido com mais ou menos brilho”, disse a estilista.

O Fashion Talks reuniu diversos nomes de peso no Senai Cetiqt do Rio ontem à tarde (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

Já para a diretora de criação da Adidas, a inovação é sinônimo de outros conceitos. Na marca que tem cores e estampas como consequências das tecnologias de aprimoramento de performance, Muriel Campanha comentou como a grife esportiva enxerga a dobradinha de tecnologia e moda. “Inovação para mim é sinônimo de desafio e conflito. Além dessas palavras, eu gosto muito do termo disruptivo”, apontou. Como um dos desafios da Adidas, a diretora afirmou que a impressora 3D já faz parte da realidade da marca. Acessível até para o grande público nas lojas de tecnologias norte-americana, Muriel explicou como a inovação é aplicada na produção. “Eu vejo a impressora 3D como uma ferramenta que auxilia a criação. É lógico que não podemos ficar dependente dela e, na moda, essa tecnologia tem uma função quase paliativa. Mas é claro que importante e, inclusive, já temos impressora 3D na produção da Adidas”, disse.

Paralelo a todo esse assunto que combina moda e tecnologia, o Fashoin Talks do Senai Cetiqt ainda trouxe outra dobradinha para a conversa. Nesse caso, a tecnologia abriu espaço para o trabalho de styling, que traduz e apresenta as ideias do estilista na passarela. Como representante da profissão, Daniel Ueda comentou como funciona seu trabalho com os criadores. “A Lenny geralmente me chama bem no comecinho quando ela define a temática do desfile e nós iniciamos o debate de como explorar o assunto. A partir daí, nós pensamos no melhor caminho para seguir e como iremos traduzir as ideias. A nosso favor, temos uma parceria de muitos anos que facilita essa comunicação e entendimento. Afinal, neste processo, cada um dos lados precisa ceder um pouco para que a gente chegue em um final positivo”, explicou.