Inovação na base: o futuro da tecelagem foi o assunto abordado pelos estilistas Lino Villaventura e Wilson Ranieri no Fashion Talks no Senai Cetiqt do Rio


No segundo painel da programação, a diretora geral da Invista no Brasil, marca dona da Lycra, trouxe as questões empresariais e burocráticas do assunto para o debate. De acordo com a executiva, toda inovação têxtil precisa ser pensada seguindo as necessidades dos consumidores. “É fundamental que qualquer inovação seja relevante para o usuário”

O tecido é a base de qualquer criação fashion e, em um evento que tem o tema “Moda é Futuro”, a questão têxtil não poderia ficar de fora. E não ficou. O segundo painel do Fashion Talks, encontro promovido pelo Senai Cetiqt que reuniu grandes nomes da moda brasileira no Rio de Janeiro semana passaa, foi sobre o “Futuro da Tecelagem”. Para comentar a temática, Jackson Araújo e Camila Yahn mediaram o debate entre o estilista conhecido pelo poderoso trabalho com texturas Lino Villaventura, a diretora geral da Invista no Brasil, empresa dona da Lycra, Denise Sakuma e o designer fashion Wilson Ranieri.

Neste painel, o tecido foi o protagonista das discussões que passearam pelo passado, presente e, claro, futuro. Entre as temáticas, Lino Villaventura comentou sobre o reaproveitamento e a inteligência na hora de modelar para que os tecidos se tornem aliados na produção fashion. Em sua grife homônima, por exemplo, o estilista adota a ideia de roupas adaptáveis que, além de não se restringirem a um único manequim, ainda reaproveitam tecidos estocados. “Nós estamos resgatando um trabalho de modelagem para conseguir usar melhor os tecidos, inclusive os que temos em estoque. Então, para evitar que uma roupa fique presa a determinado tamanho, tenho feito pregas que aumentam a vestimenta. Isso faz com que o produto fique adaptável e não estacione. Além disso, consigo usar muitos tecidos antigos nessa ideia”, contou.

Denise Sakuma, Wilson Ranieri e Lino Villaventura no painel que abordou os próximos passos da tecelagem na moda (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

Inclusive, a técnica foi explorada na última edição da São Paulo Fashion Week em mais um desfile poderoso de Lino Villaventura. Aliás, nesta apresentação, o estilista seguiu sua identidade criativa de misturar e destacar as texturas das peças. Como ele contou, esta é uma característica que o acompanha desde o início da carreira e tem uma explicação que vai além do designer. “Eu não tenho preconceito com tecido e sempre fui de misturar vários. A dificuldade para conseguir bases existe há anos e não é isso que vai nos travar. Pelo contrário, foi por causa deste obstáculo que eu comecei a construir essa identidade de texturas na moda”, explicou o estilista que, mesmo assim, afirmou que possui um leque de tecidos favoritos. “Agora está um pouco mais complicado, porque vários fornecedores parceiros estão fechando suas fábricas e, com isso, estou perdendo opções. Mas, mesmo assim, ainda tenho alguns tecidos que fazem parte da minha carreira desde o começo, como organza, seda pura, tricoline e malha”, contou Lino.

Se por um lado as opções estão diminuindo por causa da crise que atingiu o setor da moda no Brasil, algumas inovações vêm ganhando espaço no mercado e nas escolhas têxteis dos estilistas. Testemunha deste processo de novidades na moda e na produção dessas bases, Denise Sakuma detalhou o que acredita ser o futuro da tecelagem. “Eu acho que precisamos incrementar as inovações que já estão por aí aos tecidos. Hoje, por exemplo, temos como agregar proteção UV, contra mosquito, transpiração e uma série de tecnologias que facilitam a vida das pessoas. Porém, ainda não estão popularizadas. A inovação existe, mas hoje temos dificuldade de levá-las para o consumo de massa”, disse a diretora da Invista que ainda explicou como essas inovações ganham forma.

O Fashion Talks reuniu diversos nomes de peso no Senai Cetiqt do Rio ontem à tarde (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

De acordo com a executiva, novos tecidos são criados a partir das necessidades identificadas do comportamento humano contemporâneo. Ou seja, nenhum lançamento é por acaso. “A gente busca olhar o que o consumidor precisa e ainda não existe. É fundamental que qualquer inovação seja relevante para o usuário. Caso contrário, nada justifica estudo, pesquisa e trabalho na criação. Sendo importante para o mercado, desenvolvemos as mudanças químicas que atenderão às necessidades”, contou.

Nesse assunto sobre futuro, há ainda aqueles que se apegam ao presente com toques de passado. Em sua carreira como estilista, Wilson Ranieri confessou que, por mais que as inovações têxteis cheguem a ele, algumas bases são como protagonistas em suas criações. “Quando a gente está fazendo um trabalho de desenvolvimento, sempre acabamos buscando tecidos que já fazem parte do que gostamos. No meu caso, por exemplo, eu adoro tricoline. Por mais que surja uma opção super tecnológica que substitua, existe um amorzinho específico”, disse.

Jackson Araújo e Camila Yahn foram os mediadores do encontro (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)

O fato é que, se a tecelagem usada é o último lançamento ou aquela dos tempos passados, ela precisa ser a tradução física daquilo que sonhamos e acreditamos. De acordo com Denise Sakuma, não importa a escolha têxtil que temos. A diretora geral da Invista acredita que o amor por aquela opção e pelo resultado que ela trará à roupa é o mais importante. “A minha mensagem para os estudantes é que se você quiser ser um estilista ou uma marca, o mais importante é que haja paixão nisso. É o amor pelo que está fazendo que faz diferença no mercado. Senão, será só mais um. E o tecido aparece nisso também. Para mim, essa escolha não tem que ser por causa de tendência ou temporada. O amor e a paixão precisam estar na escolha do tecido também como aquele que representa o que você quer passar”, comentou.

E esta paixão pode ainda estar longe das fábricas. Com o cenário fashion cada vez mais mecanizado e tecnológico, a empresária ainda destacou o crescimento do feito à mão em meio a isso tudo. No sentido contrário, o handmade passa a ganhar ainda mais espaço na moda moderna. “Com toda essa industrialização e globalização, o artesanal vai crescer muito. Além desses fatores externo, também vai ganhar força pela necessidade de alfaiates e costureiras. Pagar um pouco a mais tem sido a decisão de muitas pessoas que não querem o mesmo e o que já existe”, defendeu Denise que, com isso, destacou a individualidade da criações, característica singular de Lino Villaventura. “Eu acho que o mercado sempre vai sair ganhando com a originalidade e identidade de um produto. E não é só na moda. Quando se tem personalidade, o mercado e os negócios ficam mais claros. Fora que, como hoje tudo está muito parecido, ter um trabalho diferenciado faz diferença”, argumentou o estilista.

Ronaldo Fraga, Lino Villaventura e Alexandre Herchcovitch no Fashion Talks no Senai Cetiqt do Riachuelo (Foto: Divulgação SENAI/Camila Mira)