E o dragão voou! Cláudio Silveira, diretor do Dragão Fashion Brasil, analisa o sucesso do evento em ano de recessão: “Não me deixo abater por nenhuma crise”


O Dragão – maior semana de moda autoral da América Latina – conseguiu, em ano de recessão econômica (ou de “cenário duvidoso”, como Cláudio prefere falar) dobrar a estrutura física do evento. E sem o patrocínio master de uma loja de departamentos, como no último ano. O segredo? “Nós do Dragão não nos deixamos contaminar por uma maré pessimista”

Cláudio Silveira, idealizador do Dragão Fashion Brasil (DFB), tinha um diretor o olhando de longe, conferindo se todo o script montado por ele para a abertura do evento à imprensa nacional saía como o combinado. Não saiu. Aliás, foi o primeiro aviso de Cláudio Silveira: “Vou quebrar o protocolo”. A cena se repetiu três dias depois, após apresentação dos três finalistas do reality show “Comunidade:Moda” (TV Cidade/Rede Record) e, ao final do Dragão, no anúncio do resultado do Concurso dos Novos. Assim como a quebra de protocolo, as falas consequentes de Cláudio tinham um conteúdo meio que uníssono: o da superação, o de acreditar que vai dar certo, o do ir em frente e da gratidão. Porque seu evento, o Dragão Fashion Brasil – a maior semana de moda autoral da América Latina, que chega a sua 17ª edição – reflete esses pontos: conseguiu, em ano de recessão econômica (ou de “cenário duvidoso”, como Cláudio prefere falar) dobrar a estrutura física do evento. E sem o patrocínio master de uma loja de departamentos, como no último ano. O segredo? “Não me deixo abater por nenhuma crise. Nós do Dragão não nos deixamos contaminar por uma maré pessimista”.

Cláudio Silveira, diretor do DFB (Foto: Henrique Fonseca)

Cláudio Silveira, diretor do DFB (Foto: Henrique Fonseca)

E assim foi: 32 grifes – seguindo aquela tendência de moda autoral, conceitual, de valorizar o regional -, atravessaram as duas passarelas montadas no Terminal Marítimo de Passageiros de Fortaleza, no Ceará, em quatro dias. Isso sem contar com o 1º Encontro dos Cursos de Moda do Ceará – que reuniu cerca de 600 alunos de faculdades e cursos de moda do estado, para debater, dentre vários pontos, a inclusão no ensaio das tipologias artesanais na grade curricular. Para Cláudio, é uma forma de “provocar inquietações”. Assim como o 1º Seminário Latino-americano da Moda, Cultura e Desenvolvimento, com o intuito de “discutir o diálogo”, nas palavras do diretor. Nele, convidados do Brasil e de “países-irmãos” discutiram os rumos da indústria têxtil e do DNA tão peculiar e rico do nosso continente latino. Falando em latino, o próprio tema dessa edição ajudou a sacudir a poeira do pessimismo e fazer o dragão cearense alçar voo, soltando mais fogo que nunca. Sob o lema “Sangue Latino”, o DFB destacou a Colômbia como país consolidado na indústria têxtil e de grande relevância mundial no segmento.

Além da presença de jornalistas internacionais, a grife Lenerd, do país, desfilou na catwalk do Dragão no penúltimo dia (para saber nossa análise sobre o desfile é só clicar aqui). Segundo Cláudio Silveira, esse sangue latino é “novo, de gente moderna”. Ele ajuda a bombear o “sangue latino que fazer com o Dragão voe mais alto e mais longe”. A parceria também rendeu, bom lembrar, a exposição “Moda Viva” (responsabilidade da Artesanías Colombiana SA, empresa fundada em 1964 que visa incentivar e promover o trabalho de especialistas da Colômbia), uma mostra com peças de moda e designer assinadas por jovem criadores colombianos. O Moda Viva buscou uma identidade visual do país, com peças que carregam diferentes comunidades e que em si mostram novos tempos. Bem como o Dragão: que corrobora a ideia de que pluralidade e positivismo, não importa quando.

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Concurso dos Novos

HT, pelo quarto ano consecutivo, teve o prazer de participar do corpo de jurados do Concurso dos Novos – realizado há mais de uma década pelo Dragão Fashion Brasil. A iniciativa, que reúne todas as instituições que oferecem o curso de moda, preza pelo objetivo de dar visibilidade ao trabalho autoral de jovens talentos em período discente. Concorreram Centro Universitário Senac de Santo Amaro (São Paulo), Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Instituto de Desenvolvimento Educação e Cultura do Ceará (IDECC), Faculdade Senac de Porto Alegre, Universidade Federal do Ceará, Universidade da Amazônia e Universidade Estadual de Maringá. Cada uma apresentou uma coleção-cápsula que foi julgada nos quesitos paleta de cores, conceito, stylist e criatividade – com notas de zero a dez. O briefing? Pensar em looks de fácil reprodução industrial, que conversassem com o sangue latino – qualquer país do continente poderia ser escolhido como mote.

Segundo Heloisa Tolipan, “foi prazeroso ver os holofotes da moda serem direcionados para fora do eixo Rio-São Paulo”. Os destaques? “Linhão, renda filé de primeira e o saber manipular os tecidos que privilegiam a regionalidade”. O que se viu foi um passeio pelos territórios da Cordilheira dos Andes – e toda a sobreposição que o figurino da região pede, de acordo com o que os nativos imprimem, por meio de ponchos, uma paleta de cores multicolorida e lã. A alfaiataria masculina (de ótimo corte e acabamento) recebeu um perfume das revoluções do continente, com destaque para aplicações e fios de lã. E não só: Frida Kahlo, símbolo da força feminina, passeou pelo sertão com cortes terrosas, aplicações, couro e construções inusitadas. Destaque também para uma viagem fashion ao Deserto do Atacama, no Chile, e para os dias de carnaval na cidade de Oruruo, na Bolívia, em um jogo entre o bem e o mal por meio de máscaras. Nas trends? Oversized, babados, tule, patchwork e sobreposições.

A grande ganhadora foi a coleção “Soul Frida en Viva los Muertos”, da UNIFOR. Inspirado na artista mexicana e na festa cultural do dia dos mortos, o trabalho deu à instituição a quantia de R$ 8 mil e o Troféu DFB 2016. O segundo lugar ficou com a equipe do Centro Universitário Senac de Santo Amaro que atravessou as passarelas com a cultura do frio peruano. O terceiro lugar foi para a brasiliense IESB que derramou sobre as peças da alfaiataria masculina as cores e as estampas étnicas da Colômbia.

Comunidade:Moda

O reality fashion “Comunidade:Moda”, parceria do Dragão Fashion Brasil com a TV Cidade – afiliada da Rede Record no Ceará -, chegou mais uma vez à final nas passarelas do DFB. O programa acompanha as diferentes etapas da criação e produção de uma coleção cápsula assinadas por jovens talentos de comunidades das periferias de Fortaleza. O prêmio? O vencedor do reality – como é o caso de Hemanuel Viktor – além de ter a oportunidade de desfilar no Dragão Fashion Brasil do próximo ano, ainda tem sua coleção produzida pelo SENAC-CE. Heloisa Tolipan, também jurada do concurso, votou juntamente do todo corpo de jurados optando pelo look de número 3. Play no vídeo!

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