Ícone na web, Dapariz fala das sequelas da Paralisia de Bell e da ONG que criou para quem tem o distúrbio na face


Dapariz como nunca se viu. Ainda que a frase anterior possa, de alguma forma, soar clichê, definitivamente se coloca como uma verdade. Ela se despe da persona “influencer” com milhões de seguidores e, para além dos likes, revela nesta entrevista a sua verve pensadora, sua sensibilidade e personalidade. Desnuda suas vulnerabilidades como a de conviver com a Paralisia de Bell, condição relativamente rara, que também pode ser chamada de paralisia facial periférica. Essa alteração o impede de transmitir os impulsos nervosos para os músculos responsáveis pela mímica facial, provocando incapacidade funcional e assimetria da expressão fisionômica, que deixou sequelas em seu rosto e a de maternar, ato que sempre margeia a corda bamba. Fala, inclusive, sobre temas espinhosos como a migração de influenciadores digitais trabalhando como atores e o árido terreno dos que desejam ser empreendedores no Brasil. Mais uma faceta de uma mulher surpreendente

*por Vítor Antunes

O nome de batismo é Dainara Pariz e adotou o nome artístico de Dapariz, um fenômeno nas redes sociais. No Instagram são 4,5 milhões de seguidores; no YouTube, 1,7 mi. Os números de Dapariz são tão impressionantes que um vídeo postado em seu YouTube atingiu 3,1 milhões de visualizações. Se comparado apenas os números absolutos – já que a medição é diferente – se esse post de Dapariz fosse um programa de TV, marcaria 4 pontos na Grande São Paulo. Ou seja, ela é um sucesso! E nesta entrevista ao site Heloisa Tolipan sobre a mulher que habita na figura pública. Dapariz traz à cena um importante debate sobre a Paralisia de Bell, que ela teve a primeira aos 7, a segunda aos 12 e a terceira, por fim, aos 19 e tem sequelas na face até hoje. A paralisia de Bell é causada por uma inflamação do nervo da face, que é o responsável por levar os comandos do cérebro até a região, permitindo os movimentos. Segundo artigo publicado pela Universidade de São Paulo (USP), esta paralisia aparece em uma incidência de 13 até 34 casos a cada 100 mil habitantes, podendo atingir qualquer lado do rosto, e é menos frequente em crianças. Essa é uma condição relativamente rara, que também pode ser chamada de paralisia facial periférica. Essa alteração o impede de transmitir os impulsos nervosos para os músculos responsáveis pela mímica facial, provocando incapacidade funcional e assimetria da expressão fisionômica.

“Tenho paralisia facial há muito tempo na minha vida. Sendo sincera, me assustou bastante. Achava que as pessoas gostavam de mim simplesmente pela minha beleza. E quando eu escutei do médico que meu rosto só voltaria ao normal depois de seis meses, eu fiquei em choque. Mal eu sabia que iria tê-la por mais de quatro anos, mas eu decidi que eu não ia ‘abandonar’ meu rosto, os meus sonhos e que eu mostraria o que estava acontecendo comigo, até porque eu sempre mostrei o meu lifestyle e aquilo fazia parte da minha vida”, analisa.

Acrescenta ainda que “gostaria que as pessoas conhecessem a Dapariz do dia a dia. A que mal pega no celular, a que acorda e inventa que vai fazer alguma receita e faz os pais provarem aquilo. (…) A Dapariz agitada, que adora fazer churrasco, que vai pescar com o avô no dia de domingo e que não consegue nem postar essas cenas, porque quando junta a minha família é uma gritaria só que ninguém vai entender nada nos stories, mas acredito que os meus seguidores conheçam muito bem meu coração, apesar de tudo”.

Quando optei por mostrar a minha paralisia, eu abordei toda a minha trajetória, meus medos, choros, e às vezes que eu achava que eu não ia ter forças para aquilo e tive. Acabei criando uma ONG para atender pessoas que vivem o mesmo problema e isso mostrou de mim uma nova pessoa além das aparências. A paralisia me transformou, criou um ser humano muito forte. Mas eu acho que não existe a Dapariz sem a paralisia e toda essa história que eu tive – Dapariz, influenciadora digital

E ela prossegue: “Vivo com as sequelas da paralisia hoje e todo mundo me pergunta, já que ela é perceptível se eu fico muito tempo sem fazer o tratamento. Busco sempre explicar para as pessoas, de uma forma bem simples – já que é uma doença que pode acontecer com qualquer um. Sinto que a paralisia abriu muitas portas na minha vida, muitas marcas que eu sonhava em trabalhar quando eu não tinha sequelas. Hoje eu trabalho independente de não ter um rosto simétrico, como a mídia quer que as pessoas sejam com aquele padrão ali. E hoje em dia, eu resolvi que eu não ia me olhar mais como uma vítima, e sim como um exemplo de superação. Como uma garota que precisa ter força, porque diariamente chegam até mim pessoas que dizem que eu sirvo de referência a elas por termos a mesma condição, já que há um tratamento, que nem sempre é certeiro, mas que pode ajudar um pouco o que diz respeito às sequelas e é isso que minha ONG oferece hoje em dia”.

Para o segundo semestre, Dapariz está focada em nichar o seu conteúdo em moda, beleza, e maternidade livre, onde objetiva “inspirar as mulheres a serem mães, principalmente as mães solo, poderosas, empreendedoras e donas de si. Hoje em dia a minha rede social é bem abrangente, porque desde muito nova, eu venho mostrando meu lifestyle“. Ainda nesta seara, qual a maior responsabilidade que rege um influenciador que precisa se comunicar com tanta gente e ao mesmo tempo? “São duas as responsabilidades principais: a primeira é com a minha credibilidade. Como eu estou há muito tempo nesse mercado, eu sempre procuro ter uma credibilidade genuína com os meus seguidores, escolhendo marcas que tenham a ver com o que eu penso e que realmente combinam comigo e não só olhando o cachê e quanto as marcas querem pagar para poder estar no seu feed. A segunda responsabilidade é a  emocional. Eu não sou uma personagem no meu Instagram e nas minhas redes sociais. Eu sou uma pessoa real. Então, quando eu estou feliz ou triste, eu sou 100% real. Acredito conseguir motivar muitas pessoas dessa forma, porque elas olham para mim e se veem ali, veem um ser humano normal”.

Acredito que essa é a minha maior responsabilidade: tentar ajudar emocionalmente os meus seguidores – Dapariz, influenciadora digital

Dapariz fala para mais de 6 mi de pessoas através do seu Instagram (Foto: Divulgação)

TEMPO-VIDA-FEED-STORIE-GERAÇÃO-DO-TUDO-AO-MESMO-TEMPO-AGORA

A geração atual é composta por pessoas que não tem muito tempo em razão de ocupá-lo com muitas atividades. Não há um tempo em suspensão, um tempo de respiro. Não. É tudo imediato, pontual, preciso, imagético. E muito informativo. Nos anos 1970, Roberto Carlos sonhava ter um milhão de amigos e Rita Lee (1947-2023) dizia que era moda “ter vocação para ser famoso”. Ambos não previam que tudo isso aconteceria anos depois, justamente na época do instantâneo, em que a vida privada e pública se misturam muito e são notícia. Dapariz concorda que essas duas ideia se confundem em sua vida. “Eu tento estabelecer limites, mas acaba sendo um pouco complicado. Tem coisas com as quais sou extremamente rígida, como em relação à segurança do meu filho e da minha família. Então, não posto intrigas, problema entre amigos, término de relacionamento. Tento privar algumas coisas revelar outras, mas acaba sendo um pouco misturado”.

Dainara é menina moleca, com a displicência ingênua da juventude que a colore de charme. “Sou aquela que leva o bebê atrasado para a escola, porque ficou tempo demais dentro do carro escutando música com o filho, menino que nem sempre está com um look icônico, mas por vezes pelado, só de fralda e tênis por gostar de andar assim. Também sou a que está sempre de camiseta, óculos e com uma Havaianas branca. E o fato de já ter conquistado muita coisa ainda cabe espaço para novos desejos. Sou uma aquariana nata que levanta da cama e todos os dias tem uma nova ideia”.

Entre seus desejos, alguns: “Quero construir uma casa minimalista com o meu closet, as minhas roupas das marcas que eu gosto, bem clean, porém no meio da floresta. Uma casa para os meus pais, para o meu filho, para a minha futura família, para a gente poder se sentir super confortável e dentro de um ambiente que a gente ama. Nessa casa, quero que os móveis sejam do meu pai, um grande artista e faz móveis rústicos perfeitos”. E, profissionalmente, há também um desejo de investir numa carreira artística. “Quando eu era mais nova, tinha interesse em ser atriz, inclusive fiz teatro na Escola de Teatro Célia Helena e compus o elenco de uma websérie da Viih Tube.

Tenho super vontade de fazer algum papel ou até mesmo um filme, mas eu acho que teria que estudar muito, mas muito mesmo antes disso. Trabalhar com a internet e lidar com a exposição é algo muito diferente do que ir lá e viver um personagem. É algo que exige um preparo corporal, mental… Admiro muito o trabalho dos atores. E sim, eu faria novela, mas com bastante estudo antes para entregar um papel bom – Dapariz

Inclusive, contemporaneamente, há muitos atores que criticam influencers  por “migrarem” de plataforma e irem para as artes dramáticas. Dapariz concorda com os atores. “Acho válida a crítica, mas considero que não deva ser direta aos influencers, mas sim a quem está contratando. Entendo que é muito difícil para um ator se consolidar, ser reconhecido, e perder um papel para um influencer, sendo que ele estudou para isso, ele tem um DRT e ele vai ter um desenvolvimento muito melhor para aquele trabalho”.

Dapariz e a Paralisia de Bell. Verdade nas redes sociais (Foto: Divulgação)

EMOÇÃO, CARREIRA E MATERNIDADE

Não são poucos os desafios para se empreender no Brasil. Dapariz possui algumas empresas e é sócia de outras e embaixadora da Kylie Cosmetics no Brasil, empresa norte-americana de cosméticos e maquiagens de propriedade da Kylie Jenner. E empreender num país complexo como o Brasil, é algo para fortes: “O maior desafio que eu tenho enfrentado no ramo da moda é lidar com os altos custos operacionais, principalmente por estar criando uma marca com tecidos mais tecnológicos, precisar importar para o Brasil e toda essa instabilidade financeira, instabilidade do mercado. Os dias de hoje estão um pouco difícil para os empreendedores que buscam inovar, sair do comum, buscar material de fora, importar isso para o país, mas gosto de olhar as coisas pelo lado positivo. O empresário precisa conversar com novas pessoas, conhecer novas estratégias de mercado e estar preparado para as oscilações”.

Diferente do pragmatismo da economia, a maternidade não oferece nada de prático, afinal, o ser humano, e por que não dizer, as crianças, são surpreendentes. “Por mais que eu tenha lido uns 20 livros sobre maternidade antes de ter meu filho, parece que nada é roteirizado. As crianças são totalmente únicas, uma caixinha de surpresas. Ser mãe me ensina que mesmo tentando acertar 100% do tempo a gente, ainda assim, vai errar em algumas coisas. Enquanto cresce um bebê nasce e cresce uma mãe. Ao mesmo tempo em que eles nos deixam de cabelos em pé, nos aconchegam, cuidam, retribuem em forma de amor”.

Dapariz e Kai. Maternidade desglamurizada (Foto: Divulgação)

“Eu até me arrepio e me emociono falando sobre o maternar, que me fez ver o quanto sou valiosa para aquela criança, que está crescendo e se desenvolvendo graças ao seu esforço. Sinto que vou ser sempre o porto seguro do meu filho, mesmo que eu esteja criando ele pra construir a sua própria trajetória, para conhecer o mundo. Ele ainda assim vai ter a casa, meu abraço, meu amor, a comida da mamãe, as músicas que eu mostro pra ele hoje em dia, e que cantamos juntos e que no fim, quando eu estiver bem velhinha, sentada numa cadeira, no rancho que quero comprar, ele vai cantar para mim através dos seus olhos. Tudo que ele sonhar, eu tenho certeza que eu vou apoiar muito e que também vão ser meus sonhos”.

Ela conclui: “O que me emociona é a vida, o desenvolver do ser humano. Poder ter colocado um ser humano no mundo e ver desde o zero até toda a sua evolução. O meu filho, no momento, ele tem dois anos, mas eu consigo ver que todos os dias é um dia novo, de evolução, onde ele vai estar aprendendo alguma coisa. Isso me emociona. O amor me emociona, a simplicidade, as histórias de família, sentar na mesa com as minhas tias e elas contarem as histórias do meu avô que eu não conheci. Ver a vida através dos olhos dos meus pais que não têm ambição nenhuma, isso me emociona muito. A minha origem, olhar para aquela garotinha que eu era no passado e ver tudo que ela conquistou sozinha, com força, com garra, os momentos que ela foi corajosa. Essa garotinha me emociona e me motiva no momento que eu estou agora. Penso nela a todo tempo e ela me sensibiliza”. A quem tem mais de 4 milhões de amigos, agora tem mais outros 4 tantos motivos… para se emocionar.

Dapariz e Kai. “Sonho com ele cantando as músicas que conhecemos juntos, no rancho que ainda terei” (Foto: Divulgação)