Peru #Day5: histórias sobre casamentos, bicicletadas ladeira abaixo, acima e às margens do rio Urubamba e a chegada a Ollantaytambo


Machu Picchu estava cada dia mais perto, mas o coração já estava cheio de lindas lembranças da aventura pelo Vale Sagrado, a convite a Lares Adventures

Quinto dia (Dia 1, dia 2, dia 3 e dia 4) de mergulho na cultura peruana, a convite da Lares Adventure, e já estávamos mais próximos do fim do programa de multiatividades do que gostaríamos. Já tinhamos aprendido tanto, visto tanta coisa e descoberto tantos sabores, imagens e hábitos, que, certamente, voltaríamos com a bagagem metafórica repleta de ótimas lembranças.

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Mas ainda tinha muito para ver e, por isso, acordamos bem cedo num sábado de céu escandalosamente azul, temperatura amena e energia nas alturas. Deixamos o Huacahuasi Lodge, um dos empreendimentos geridos pela Mountain Lodges of Peru em parceria com a comunidade local, caminhando em direção ao povoado que empresta o nome ao hotel. Atravessamos uma estrada de terra, um rio, passamos pela praça principal – de chão batido, grama e uma igreja construída com barro e madeira – e subimos até uma estradinha mais no alto que nos dava uma vista panorâmica do povoado que fica a quase 4 mil metros de altitude.

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As crianças de Huacahuasi (Foto: Junior de Paula)

Nos juntamos ali para ouvir um pouco das explicações sobre a comunidade, a região e um pouco sobre a parceria da Mountain Lodges of Peru com os moradores locais, que ficam responsáveis por 25% dos lucros obtidos com o lodge. Nosso guia Johan aproveitou que estávamos cercado por crianças moradoras da cidadela, curiosas com nossa presença, para contar sobre como era o processo de casamento na região. A primeira aproximação é feita pelo menino por volta dos 14 anos, quando ele demonstra seu interesse através da música – cantada, tocada ou com um radinho de pilha mesmo. A aceitação do cortejo é da menina, quando ela entrega um tecido ao seu pretendente, demonstrando que o caminho está aberto para que as famílias entrem no jogo.

Os pais da menina esperam que o rapaz vá à caça e à colheita, mostrando que pode trazer comida para dentro de casa, e os pais do menino desafiam a moça a descascar uma batata (!!!) sem quebrar a casca e sem machucar o legume. Aprovados numa espécie de olimpíadas do amor, eles passam a morar juntos por cerca de dois anos, quando métodos contraceptivos naturais – que incluem plantas abortivas – passam a ser usados para evitar que eles tenham filhos antes do casamento de fato. Após os 24 meses juntos, eles têm a opção de marcar o casamento ou cada um seguir sua vida, sem dramas ou grandes questões. Aos que optam pelo matrimônio, é hora de preparar a festa mais importante da vida deles. O casamento na região é levado a sério e, de acordo com o nosso guia, dura um dia inteiro, com muita festa, dança, bebida e alegria. E ele é eterno, até que a morte os separe. Divórcio, para o povo de Huacahuasi – e das regiões do Peru profundo – é mais vergonhoso do que ir para a cadeia.

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O vilarejo de Huacahuasi

Já os donos da empresa que nos convidou para estar ali, Enrique Umbert e Enrique Junior, nos contaram sobre a aproximação com os moradores e sobre os dilemas que enfrentam em relação à necessidade de incentivar um turismo sustentável. Enrique Junior nos levou a pensar sobre a pobreza aparente em que vivem essas pessoas, quando olhadas com o nosso olhar colonizador capitalista, mas que, de perto, percebe-se que riqueza não é ter muito, é precisar de pouco para viver. E era só olhar no rosto daquelas crianças que a gente poderia entender que a felicidade é uma coisa muito mais simples do que a gente pode imaginar. Passado o momento filosofia nos andes – que me deixou pensando por muito e muito tempo -, nos despedimos dos nossos novos pequenos amigos e também da turma animada do trekking que ia enfrentar sete horas de caminhada de Huacauahsi a Patacancha com direito a almoço às margens do Lago Ypaycocha e paisagens de tirar o fôlego – literalmente, já que eles subiriam a quase 5 mil metros de altitude.

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O que é um ponto amarelo no vale sagrado? Este que vos escreve num passeio de bike

Eu, sedentário e preguiçoso, preferi uma atividade moderada, uma bicicletada de 15 km às margens do Rio Urubamba. Entramos na van em direção a Calca, onde a turma do Sacred Wheel, empresa responsável por organizar passeios de bicicleta pelo Vale Sagrado, nos esperava com as bikes supermodernas para uma viagem linda por uma ciclovia aberta no meio do Vale. Ainda no ponto de partida – com direito a uma ida rápida ao banheiro de uma das casas da área por 1 sole – ouvimos as instruções sobre o caminho, os aspectos técnicos da bike e estávamos prontos para cair na estrada.

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O caminho às margens do Rio Urubamba (Foto: Junior de Paula)

O começo é fácil, plano, e com o rio nos margeando por alguns quilômetros, deixando o clima leve e ameno, apesar do sol inclemente de inverno. Depois, começam as subidas e o passeio deixa de ser contemplativo e passa a ser um esforço só. Pedala, pedala, diminui a marcha, diminui mais, mais, mais, até que se pedala, pedala e quase não sai do lugar. Para para respirar, tomar um gole de água e pedala mais, mais, mais e o fim do morro ainda está longe. Esperto que sou, desci da bicicleta e terminei a subida empurrando a bike. Já quase no fim, antes de me juntar ao grupo que me esperava, subi de novo na bicicleta e fingi que venci o desafio todo sozinho de uma vez só. O vale é sagrado, mas uma mentirinha não faz mal a ninguém.

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Depois de muito subir, claro, era hora de descer, e aí foi só alegria. Apesar do chão de terra, das pedras soltas e da poeira que levantava vez ou outra por conta das motos que cruzavam nosso caminho, resolvi colocar à prova a máxima de que para baixo todo santo ajuda e fui de uma vez só, sem me lembrar dos freios e da prudência. E foi das experiências mais libertadores que se poderia ter.

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A igreja de Torrechayoc, em Urubamba

Paramos na igreja de Torrechayoc, em Urubamba, e seguimos – por uma mais uma subida – até a estrada de asfalto, a caminho do hotel Kuychi Rumi, onde um almoço delicioso estava nos esperando.

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O hotel hotel Kuychi Rumi, onde almoços pós-bike

Já alimentados – com uma salada de quinua, legumes salteados e uma coxona de frango super bem temperada – era hora de deixarmos as bicicletas de lado, pegarmos a van e seguirmos em direção a Ollantaytambo, onde dormiríamos no hotel Parakitampu.

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O hotel Parakitampu, onde pernoitariamos em Ollantaytambo (Foto: Junior de Paula)

Por lá, nos reunimos com a turma do trekking – que voltava cheia de histórias, como o jogo de futebol com os locais a cerca de 4.500 metros de altitude -, jantamos e tomamos umas cervejas na praça central, antes de recarregarmos as baterias para mais um dia de aventuras deliciosas. Mas isso fica para amanhã.

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O futebol dos trekkeiros com os moradores locais