Peru #day4: da cidade antiga das águias, passando por almoço na praça de Lares até uma visita mais do que especial ao povoado de Choquecancha


No meio do caminho até Machu Picchu, o site HT, a convite da Lares Adventure, seguiu explorando e registrando todos os detalhes de um mergulho pelo Vale Sagrado

A altitude já não era mais um problema depois de três dias (Dia 1, Dia 2 e Dia 3) desbravando os pontos turísticos e os povoados mais remotos do Vale Sagrado e do Peru profundo, no programa de multiatividades criado pela Lares Adventure. Depois de um dia intenso de subidas, descidas e novos cheiros, gostos e costumes seguido por uma noite de sono reconfortante no lindo Lamay Lodge, era hora de cair na estrada de novo.

A primeira parada foi o pequeno povoado de Lamay, um dos oito distritos da província de Calca, onde a gente conheceu a praça principal e ainda foi à casa de uma moradora para provar seus pães que tinham acabado de sair do forno. Os pães da região, aliás, são deliciosos, bem leves, com uma massa meio adocicada que parece um brioche, só que com menos frescura. Mais do que recomendado.

Depois, embarcamos rumo às ruínas de Ankasmarka, um ponto pouco ou quase nada explorado pelos turistas que se aventuram pelo Vale Sagrado. Chegamos por volta das 9h e éramos os únicos visitantes deste complexo arqueológico que entrou para o rol dos meus favoritas do Peru. Ankasmarka fica a pouco mais de 20km de Lamay e está localizada a 3.850 metros acima do nível do mar. Ou seja, oxigênio é coisa rara por lá e você vai precisar dele, já que é necessário subir um tanto até chegar ao topo do complexo para avistar as lindas ruínas circulares que um dia serviram como estoque e espaço de desidratação de grãos e carne para alimentar a população inca.

O nome do complexo vem da união de duas palavras Runasimi: Ancash (azul) e Marka ( cidade), que, em conjunto seria a cidade azul, mas também tem uma outra corrente que diz que trata-se da união de outras duas palavras Runasimi: Anca ( águia ) e Marka (cidade), em conjunto: Cidade onde as águias vivem. Aliás, a gente viu umas águias rondando por lá, o que nos fez acreditar mais na segunda opção de batismo.

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Dali, voltamos para a van e seguimos pelo Vale de Lares, com suas paisagens de cinema e uma estrada tão estreita que quando se cruza com outro carro é preciso quase cair do desfiladeiro para dar passagem. Mas como tudo com emoção é mais divertido, eu achei a estrada a mais incrível de toda a viagem. Vimos lagoas, lhamas, ovelhas, casinhas de pedra que parecem perdidas no tempo, plantações de quinoa, cachoeiras e até uma capela no ponto mais alto da estrada, a cerca de 4.500 metros de altitude, onde param os moradores da região para um prece e uma bebidinha, conclusão a que cheguei, já que os arredores da capela era cheio de garrafas de cusqueñas. Um gole pro santo e outro pra si mesmo, claro. Fotos tiradas, imagens guardadas na memória, era hora de começar a descer a serra em direção à cidade de Lares, que dá nome à trilha alternativa a Machu Picchu, e onde iríamos almoçar.

Foi lindo ver a paisagem de montanha mudar e dar lugar a uma mais selvagem, de floresta tropical, com árvores maiores, outros tons de verde e água abundante por todos os lados. Lares, que fica a cerca de 3 mil metros de altitude, é uma cidade rodeada por natureza abundante e uma população que vive quase que exclusivamente da agricultura de subsistência – assim como quase todas as outras cidadelas que percorremos e ainda percorreríamos nos dias seguintes da trilha da Lares Adventure.

Nosso almoço por ali foi na praça central, em meio à curiosidade dos moradores, que se aproximavam para conversar e se espantar com nossos hábitos, roupas e câmeras. Foi um interessante momento de deixar de observar e passar a ser observado, depois de dias direcionando os olhos com curiosidade para tudo e para todos, ali, sentados no banco da praça com nossos lanches no colo, éramos os diferentes a serem analisados. Uma bonita experiência.

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Já alimentados, era hora do grupo se dividir em três, já que eram três as opções possíveis para seguir a trilha até chegarmos ao nosso próximo lodge, em Huacahuasi, onde passaríamos a noite. O primeiro era uma visita cultural ao povoado de Choquecancha, o segundo uma caminhada leve de 2 a 4 horas de Quelquena a Huacahausi, e a terceira uma caminhada mais intensa, com mais dificuldades no caminho, entre Cuncani e Huacahuasi. Eu, claro, com bolhas nos pés da descida íngrime – e inesquecível do dia anterior – optei pela van até Choquecancha.

Mais imagens inesquecíveis pelo caminho – e uma mudança brusca de temperatura e céu – chegamos ao povoado de casas cinzas e tetos de ferro que, em média, tem uma população que vive com cerca de 50 dólares anuais. Sim, isso mesmo. O que a gente gasta com uma ida a um restaurante meia boca no Rio, eles usam para viver um ano em Choquecancha. E acha que eles estão tristes ou passando fome, por isso? Muito pelo contrário. O que pude vivenciar nas ruas íngremes da cidadela – que exigem um esforço hercúleo para se movimentar por lá – é que todos estão sempre com um sorriso no rosto, prontos para ajudar e serem ajudados e felizes em abrir as portas de sua casa para uma turma de forasteiros entrar em suas casas e entender melhor a realidade.

E foi isso que aconteceu, depois de subirmos até o topo da cidade, onde tem uma igreja erguida ao lado de um templo inca e de onde se tem uma das mais lindas vistas do vale de Lares. Assim que caíram os primeiros pingos de chuva, entramos na casa de dona Maria, que já nos esperava na porta vestida com sua roupa mais especial. Seguindo a tradição, ela nos recebeu com uma chuva de pétalas de flores, para nos purificar, e, já no pátio de sua casa, fomos apresentados à sua família e, em seguida, ela fez uma pequena demonstração de como ela tece os produtos que revende para turistas e os mercados da região. Tudo como manda o figurino: sentada em uma pela de lhama e usando um osso do mesmo animal para criar as figuras coloridas dos tecidos, mantas e bolsas que ela fazia com o maior carinho. Uma tarde de imersão cultural em um dos povoados mais especiais da região do Vale de Lares.

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Já abastecidos de afeto, informações históricas e lições de vida, voltamos para a nossa van e seguimos viagem por cerca de uma hora até chegar a Huacahuasi, povoado onde a Mountain Lodges, em esquema de parceria com os moradores locais, construiu um de seus lodges da rota Lares, onde jantaríamos, dormiríamos e recarregaríamos nossas baterias físicas e metafóricas para mais um dia a caminho de Machu Picchu.

Ainda na recepção fomos surpreendidos pelas moradoras locais – mais uma vez com sua profusão de cores e sorrisos – com toalhinhas úmidas e quentes para limpar as mãos e o suor do rosto, além de um mesa de snacks, que incluía guacamamole, batatas peruanas fritas, empanadas de frango, canapés e outras delícias, acompanhadas, claro, de chá gelado de manzanilla – um ótimo digestivo – e muita cusqueña. Porque ninguém é de ferro, né? No quarto, mais surpresas: uma jacuzzi ao ar livre, com vista para as montanhas, nos esperava para um banho reparador. Tem como terminar melhor um dia como esses? E amanhã tem mais…