Polêmica! E, afinal, o Rio ainda lança moda pela televisão ou essa história é passado?


Confira a opinião dos famosos e wannabes que circularam no Fashion Rio!

Há pelo menos quarenta anos, a gente sabe que o Rio lança moda através da TV. Desde quando a Rede Globo se consolidou como a emissora Número 1 do Brasil, na virada dos anos 70, artistas, apresentadores, jornalistas e estrelas de todos os tipos circulam pela urbe carioca, despertando a curiosidade de todos acerca de seus hábitos e daquilo que vestem. Sob olhares atentos, tanto dos habitantes locais quanto dos visitantes, as celebridades transformaram a Cidade-Maravilha em uma espécie de Hollywood tropicaliente, influenciando todos, para o bem ou para o mal, com seus gostos e preferências. Em princípio, não é difícil imaginar esse contexto. Afinal, a concentração de famosos por metro quadrado, na Zona Sul e Barra da Tijuca, é superior a de qualquer outra cidade brasileira, em um patamar imensurável, e, portanto, a legião de profissionais que cuidam de suas belezuras é igualmente enorme, entre produtores de moda, estilistas, stylists, cabeleireiros, maquiadores e personal shoppers, se configurando em um gigantesco exército de disseminadores de tendências.

Além disso, existem casos clássicos que fizeram história nas novelas, como as meias de lurex listrado criadas por Marília Carneiro para a personagem disco-dance de Sonia Braga em ‘Dancing days’, nos idos de 1978. Ou as sainhas curtésimas de piriguete da Babalu interpretada por Letícia Spiller em ‘Quatro por quatro‘ em 1994. E, ainda, os exóticos turbantes da Viúva Porcina de Regina Duarte em ‘Roque Santeiro’ e, recentemente, o visual de camisas sociais e calças de alfaiataria off white da megera Carminha em ‘Avenida Brasil’, imitadas por dez entre dez madames que melhoraram de vida. Isso, claro, sem falar nos looks repletos de animal print envergados pela delegada vivida por Giovanna Antonelli em ‘Salve Jorge’. Era até divertido imaginar a policial correndo atrás da bandidagem, envergando salto alto e distintivo preso na lapela da chemise de oncinha.

Sem dúvida, a moda está nas novelas (e outros programas televisivos), também se refletindo naquilo que as estrelas escolhem para usar durante seu dolce far niente. Mas, afinal, essa realidade é ainda tão forte como já foi nas últimas décadas ou o Rio vem perdendo esse fôlego como lançador de moda? Fomos fundo nesta questão e perguntamos o que famosos e anônimos pensam sobre o assunto, entre um desfile e outro do Fashion Rio. Confira tudinho e tire suas conclusões.

Gloria Kalil (consultora de moda à frente do site Chic): “O assunto é discutível. O Rio e as novelas lançam modismos sim, mas são pequenas invenções que vem e passam, sem eternizar como os clássicos da Chanel, por exemplo. A carioca tem um quê só dela, como amarrar um lenço de uma certa maneira no pescoço ou na bolsa, um laço no cabelo e até o nó de uma camisa boyfriend. Lembro que os brincos indianos usados por Juliana Paes em ‘Caminho das Índias’ caíram no gosto das mulheres, assim como a Giovanna Antonelli já havia causado quase dez anos antes com os looks marroquinos de sua Jade em ‘O Clone’, não é mesmo?”

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Felipe Toscan (twink-modelete): “O Rio é um senhor cartão de visitas, tem pontos turísticos que atraem todos, inclusive modelos e formadores de opinião. Gosto das estampas coloridas que a cidade ama e considero o estilo da Auslander forte. Gostei muito das pulseiras da Cleo Pires em ‘Salve Jorge’, acho que pegaram geral”.

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Ewerton Pacheco (beauty artist responsável pela beleza de Miss Universo 2011 Leila Lopes): “É a única moda que o Rio de Janeiro lança mesmo de verdade! A abrangência e força da televisão é o que há de mais genuíno e impactante na cidade como catapulta de tendências para o resto do país”.

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Sergio Mattos (dono da agência 40 Graus e descobridor de talentos que é unha, carne e cutícula – quase um gêmeo siamês – com Mario Testino): “Ah, sabemos muito bem o quanto o Rio é a vitrine de moda para o mundo inteiro! As belezas e a paisagem dessa cidade são de um tropicalismo raro, as mulheres são únicas, a diversidade é palpável e o estilo de vida dos cariocas é o máximo. Só aqui mesmo para conseguirmos sair para almoçar com amigos em Ipanema em um restaurante chiquérrimo e usar uma Havaiana, por exemplo, ficando cool. Quem é daqui, da gema, não faz carão e nem é poser,  lança moda naturalmente. e, claro, a televisão tem um papel crucial nessa difusão, não só porque revela a outros olhares esse nosso modo de ser, tornando isso tudo desejável, como ainda é capaz de criar personagens mitológicos. Amei as empreguetes, em ‘Cheias de Charme’. A Leandra Leal, Taís Araújo e Isabelle Drummond trouxeram o brilho de volta. As cariocas, inclusive, diferente das paulistanas, assimilaram de cara o brega metálico, que ainda está em alta!”

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Jaqueline Sperandio (produtora de moda no jornalismo na TV Globo): “Vejo pelo meu próprio trabalho. Aquilo que usamos nos âncoras dos telejornais e nos apresentadores de programas jornalísticos, como Patricia Poeta e Fátima Bernardes, vira recordista de solicitações, com as telespectadoras querendo descobrir a qualquer custo onde podem encontrá-los. São cartas e mais cartas, além de muitos e-mails”.  

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Jade Curvello (jornalista espanhola que trucida turróns de yema): “Acho o Rio forte nessa história da moda espontânea, já em São Paulo tudo me pareceu mais contido. Aqui o povo mostra o corpo, é balneário, né? Então a moda gira em torno disso e a televisão retrata tudo nos corpos sarados dos atores. No mais, achei que a Farme de Amoedo (famoso point GLS carioca) , com seu público específico, tem uma moda que, ao mesmo tempo reproduz a cena gay de cidades como Miami, Sydney e São Francisco, mas também possui peculiaridades locais”.

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João Carlos Abalem (oftalmologista com olhar clínico): “O charme da cidade e sua casualidade têm vida própria, que nem sempre está alinhada com um estilo internacional. Por exemplo, essa coisa largada do carioca de andar de chinelo, sandálias Havaianas para qualquer lugar, entrando até em fila de banco como quem não quer nada. A Globo, por estar aqui e ter muitos enredos passados na cidade,  acaba espelhando esse estilo carioca difundido para o resto do Brasil através dela. Gosto do exemplo de mulheres como Carolina Ferraz e Débora Bloch, que costumam viver mulheres finas, ricas, mas exuberantes, com bolsas poderosas e colorido vivo, como as suas personagens em ‘Avenida Brasil’.

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Teddy Paez (diretor da Victor Hugo): “O Rio é a essência do Brasil, coração da América Latina e não dá para pensar em moda sem contar com a cidade como formadora de opinião. Pessoas bonitas naturalmente, polo lançador de tendências de moda-praia e qualidade com espírito jovem. Uma carioca bonita é muito poderosa. E, claro, temos a força da televisão como influência midiática sediada na cidade. Daí que temos desde uma Susana Vieira, que, ao seu estilo de vida, é uma lançadora de moda, até o trabalho dos figurinistas de TV que, com seus olhares peculiares, enxergam as qualidades dos produtos de forma que só amplifica a ação dos estilistas”.        

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Babi Xavier (atriz): “Acho que a televisão é uma verdadeira força-motriz de modismos. Não só a onipotente Globo, mas as outras emissoras que produzem conteúdo na cidade também , como a Record, onde trabalho atualmente. Pude conferir que os maxi colares com pedraria, miçangas e cores étnicas, usados pelos atores que interpretavam os egípicios na série ‘José do Egito’, estava em versões adaptadas nas vitrines e nos pescoços do mulherio”.   

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Paulo Borges (o todo-poderoso das semanas de moda de São Paulo e Rio): “Rio e São Paulo se completam como polos lançadores de tendências em uma grande maxi urbe geral composta pelas duas cidades. Há trinta anos vivencio uma disputa entre essas duas metrópoles, mas acho uma coisa boba, porque a moda é feita de somas. E, claro, a televisão tem um papel fundamental. Gosto sempre de lembrar as meias coloridas de Sonia Braga em ‘Dancing Days’, um case clássico”.

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Breno Perón (estudante de estilo): “Vejo a moda carioca com algo despojado e antenado, e acredito que a televisão prefere estilizar arquétipos de apelo comercial, como o da personagem Lívia Marini, vivida por Claudia Raia em ‘Salve Jorge’ – cabelão, batonzão, óculos e poderosos, toda trabalhada no ouro – ou  a da perua endinheirada e esnobe, como a Thereza Cristina, interpretada por Christiane Torloni em ‘Fina Estampa’, que usava vestidos colados e joias avantajadas. Gosto muito também dos lencinhos no pescoço do estilista interpretado por Alexandre Borges em ‘Tititi’, pena que não pegou”.

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Sergio Alejandro (engenheiro de produção que trabalha como se estivesse na praia): “O landscape carioca inspira essa moda outsider que é a cara do Rio, assim como nosso modo de vida é abroad. Tudo aquilo que é ligado ao dia a dia é que acaba se tornando modismo por aqui, e vai se espalhando pelo país. Por isso, curto a Reserva. Acho também que o Rio também exporta produtos tipo micro shorts, roupas justas, calças skinny com decorações e brilhinhos via looks de gostosonas como Bruna Marquezine, cujo personagem em ‘Salve Jorge’ era a essência da moda do subúrbio”.

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Fotos: Vinícius Pereira