Para o alto e avante! Se depender do diretor Gary Shore, novo Drácula é Superman e merece um lugar na Liga da Justiça!


Heresia! Esqueça aquela sedutora abominação do mal que não envelhece, toma champanhe o dia inteiro, é baladeira, não obedece o superego e só veste roupa de grife: o sanguessuga agora é um entediante bonitão quase politicamente correto!

Se nos anos setenta Hollywood sobrevivia heroicamente à revolução sexual e à competição com a televisão, trazendo à tona temas que evocavam o interesse da plateia pela realidade nua e crua, nestes últimos 25 anos a cinematografia estadounidense pode ser rotulada como a era do escapismo, onde os enredos de aventura alcançam a supremacia de mercado amparados na excelência tecnológica que as técnicas digitais possibilitam. Agora é a vez do tipo de espetáculo que prende o olhar do espectador da primeira à última cena, em hiperrealismo elevado a níveis jamais imaginados. Fica quase impossível não acreditar que o que se vê nas telas não seja a mais pura realidade, com os estúdios privilegiando a direção de arte em detrimento do conteúdo narrativo. Dentro dessa premissa, “Drácula a história nunca contada (Dracula untold, de Gary Shore, Universal Pictures e outros, 2014) cumpre a sua função, procurando beber da fonte de dois dos gêneros que mais lucram com esse contexto: o filme de super-herói e o épico histórico.

Foto: Divulgação

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Obviamente, não poderia ficar de fora dessa onda a Universal – empresa que começou a fazer seu pé de meia nos anos 1930 justamente com os filmes de abominações, a partir de “Drácula”, de Tod Browning (1931), longa que determinou a maneira como os espectadores veriam o sanguessuga desde então. Entre tantas produções originais, nada melhor do que reciclar também seus filmes de gaveta, injetando novo gás em histórias envelhecidas e dando nova roupagem a personagens batidos, bem ao gosto das aspirações das novas gerações.

Abaixo, oito vampiros imperdíveis que ficaram para os anais da Sétima Arte:

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Neste roteiro, Drácula é sangue bom, mocinho bem casado, fiel, apaixonado pela esposa e dedicado pai de família, daqueles que toda sogra sonha encontrar um dia para encaminhar a filhota, embora tenha, ao mesmo tempo, estampa e musculatura dignas de um pedaço de mau caminho, do tipo que agrada tanto à mulherada quanto ao cada vez maior público gay. E mais: ele também não se abstém de uma boa briga, agradando em cheio aos marmanjos que adoram uma pancadaria. Naturalmente, os roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (nomes de atores pornô?) optam por fugir do enredo clássico, destituindo a história de qualquer clima de terror e transformando-a em filme de ação, salvo em uma cena aqui e ali e, principalmente, no final.

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O galês Luke Evans (Imortais, O Hobbit: A Desolação de Smaug) tem o physique du rôle necessário para dar vida ao príncipe Vlad Tepes (1431-1476), monarca que governou a Valáquia e desafiou os turcos otomanos, se tornando conhecido como Vlad, o empalador, pela ferocidade com que defendeu seu povo e inspirando o irlandês Bram Stoker a escrever “Drácula” mais de 400 anos depois. As feições do ator conciliam aquela exótica mistura de Ocidente e Oriente que se imagina de alguém que habita um longínquo e exótico país europeu, quase fronteiriço com a Ásia.

Além de o filme se concentrar na luta entre o heroi e os invasores otomanos, em resultado que se assemelha a longas como “Troia” (Troy, de Wolfgang Petersen, Warner Bros e outros, 2004) e “Cruzada” (Kingdom of Heaven, de Ridley Scott, Twentieth Century Fox2005), a história despe o personagem do posto vampiro paciente zero, já que ele se torna o sucessor de outra entidade ancestral, figura demoníaca que habita uma caverna há milênios, essa sim, o primeiro morto-vivo. Por aqui já se pode constatar que muito da simbologia (e da dualidade) do mito se perdem, já que no plôt original ele teria se voltado contra Deus por não se sentir devidamente recompensado em sua luta a favor da cristandade e, renegando a fé cristã, teria se tornado um monstro.

Não, nada disso, aqui não se aproveita esse caminho narrativo, pouco sobrando do vampiro clássico, reduzido agora a dilemas tão previsíveis quando se poderia esperar de um roteiro concebido por iniciantes de um curso de cinema. Por outro lado, o herói aqui tem super poderes, dá saltos extraordinários, amassa pedra com a mão, voa, eleva seu corpo no ar. Quem sabe, poderia até fazer parte da Liga da Justiça. Desejo manifesto de tirar casquinha dos longa-metragens de Thor, Superman e sua rapaziada? Claro!

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Trailer Oficial