“Os Homens São de Marte…” e o seu nem-tão-terrível-assim mundinho dos solteiros


Entra em cartaz o filme em que Monica Martelli dá vida à Fernanda, uma mulher de 39 anos que tenta a todo custo se livrar do estigma de solteirona

*Por João Ker

Estes últimos anos têm mesmo sido frutíferos para a comédia nacional. Seja através de novos programas de TV ou adaptações cinematográficas das séries já existentes, é raro ir ao cinema e não encontrar nos multiplex pelo menos um título em cartaz com Fábio Porchat, Paulo Gustavo, Marcelo AdnetBruno Mazzeo e companhia no elenco. O mais novo filme dessa leva é “Os Homens São de Marte… e é para lá que eu vou”, adaptação da consagrada peça homônima escrita por Monica Martelli e estrelada pela própria, estreando agora (29/5) no circuito nacional.

No roteiro, Fernanda (completamente inspirada nas aventuras amorosas da própria Monica) é uma organizadora de casamentos com 39 anos e apenas um objetivo em mente: encontrar aquele marido perfeito. A princípio, a história pode ser facilmente confundida com uma adaptação brasileira de “O Casamento dos Meus Sonhos” (“The Wedding Planner”, de Adam Shankman), clássico das comédias românticas estrelado por Jennifer Lopez em 2001. Mas, a diferença primordial e o aspecto que dá a tônica da película nacional é que Fernanda foca suas energias não em um, mas em um pout-pourri de candidatos ao longo da trama, em uma busca desenfreada pelo matrimônio e a superação do seu estigma de “solteirona”.

Nessa procura, a personagem conta com a ajuda dos seus dois melhores amigos e conselheiros: o sócio Aníbal (vivido por Paulo Gustavo, histérico como sempre  e com uma peruca loira extravagante) e Nathalie (Daniela Valente), praticamente um retrato de Ingrid Guimarães, amiga das antigas da própria Monica. Munida de um romantismo idealizado e inocente, Fernanda se apaixona quase à primeira vista por todos os solteiros que encontra no pedaço, passando o filme todo naquele “se joga” de cabeça em relacionamentos com caras vividos por Humberto Martins, Alejandro Caveux, Eduardo Moscovis e até Marcos Palmeira. Afinal, ela é uma fêmea do século XXI e, mesmo não tendo a intenção de fazer sexo no primeiro encontro, não se culpa jamais quando isso acontece, preferindo pecar pelo excesso de volúpia, do que pela falta. Os conselhos que não segue do seu próprio subconsciente parecem, aliás, uma mistura de Carrie Bradshaw com Bridget Jones. E, na verdade, quem pode julgá-la, não é mesmo?

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Monica e Paulo Gustavo (Foto: Divulgação)

É a característica de “amar o amor” que faz de Fernanda uma personagem tão universal. Por mais que acabe dando com a cara na porta , e que sua bagagem emocional pese a cada decepção amorosa sentindo, muitas vezes, vontade de jogar a toalha, a frenética mulher não para. Essas situações vividas pela personagem não se aplicam só as mulheres: quem nunca se questionou depois de topar com um ex melhorado, que atire a primeira pedra! Mas, na produção, o tom primordialmente leve com que o assunto é abordado caracteriza este filme como uma comédia essencialmente feminina, pop e comercial, mas nem por isso menos sagaz. Da trilha sonora com Blondie (“Heart Of Glass”) e Amy Winehouse (“Valerie”), passando pela fotografia bem colorida até chegar aos cenários deslumbrantes – com destaque para as cenas na Bahia -, tudo é cuidadosamente construído em cena. E até a participação especial de Lulu Santos causa boa impressão, não ficando gratuita. De fato, o filme de Marcus Baldini consegue entreter, divertir e relaxar o público, mesmo que caia em alguns clichês aqui e ali, pecadinho fácil de entender e segurar a onda.

Fernanda em mais uma tentativa (Foto: Divulgação)

Fernanda em mais uma tentativa (Foto: Divulgação)

É possível até que algumas pessoas confundam “Os Homens São de Marte” com “mais um filme de mulherzinha”. Mas, em uma época onde as identidades de gênero nos relacionamentos não são mais tão estritamente delineadas e os papeis de homem e mulher acabam se misturando naturalmente, é impossível dizer que o roteiro apele apenas para o público feminino. Este é um filme para qualquer pessoa que já tenha recorrido a santos, tarô e mandingas na hora do aperto afetivo, independente do gênero ou opção. Ou para quem já se animou com um encontro, antes que ele se tornasse apenas um bolo épico. Ou ainda para aqueles que já caíram na lábia de malandros, esperando o telefone tocar e dividindo paranoias com a melhor amiga, enquanto pensava em largar tudo por este um credulíssimo grande amor. Filme para quem, como diz a própria Fernanda, já se sentiu “a única pessoa solteira do mundo” e mesmo assim continuou tentando.

Trailer oficial (Divulgação)