No Rio, John Green e Nat Wolff falam de “Cidades de Papel” e autor diz: “Não tenho a responsabilidade de ser politicamente correto”


Os dois ainda falaram sobre a amizade que nasceu durante as filmagens, o gênero de romances adolescentes e como se identificam com a história do longa-metragem

A essa altura, John Green já pode ser considerado o Midas dos roteiros de Hollywood. Além de lançar seus livros diretamente na lista de best-sellers, o escritor ainda se provou uma máquina de fazer dinheiro no cinema: a adaptação Do trágico e poético “A culpa é das estrelas” (“The Fault In Our Stars”, 2014), seu primeiro romance a ir para as telonas, também arrebatou o #1 em seu fim de semana de estreia, além de ter faturado U$266 milhões ao redor do mundo (com um custo de produção avaliado em ‘apenas’ U$12 milhões). Agora, ele e o ator Nat Wolff estão no Rio de Janeiro para divulgar “Cidades de Papel” (“Paper Towns”), que chega aos cinemas no próximo dia 7. A dupla participou de uma coletiva de imprensa no Copacabana Palace, na manhã desta quarta-feira, e HT conta tudo o que eles falaram por lá.

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Nat também fez parte do fenômeno cultural de “A culpa é das estrelas”, mas como coadjuvante da dupla Ansel Egort e Shailene Woodley (nomes mais do que promissores da nova geração de Hollywood). Dessa vez, além de estrelar ao lado de Cara Delevingne, o ator foi parte fundamental do processo de escolha do elenco para o filme, além de ter se tornado amigo íntimo de John Green – pelo menos é o que ambos clamam. Este, por sua vez, assume também o papel de produtor executivo do longa-metragem, o que em suas palavras, significa “ficar brincando no set e ganhar vários aperitivos”.

A premissa de “Cidades de Papel” é uma mistura de road movie com comédia romântica adolescente, no estilo que fez “As vantagens de ser invisível” (“The Perks of being a wallflower”, 2012) um hit em seu ano de lançamento: adolescentes de ensino médio embarcam uma jornada metafórica rumo ao seu autoconhecimento, onde descobrem os verdadeiros valores da amizade, do amor e da individualidade de cada um. Some a isso um elenco carismático, uma trilha sonora instigante e um público formado por uma geração que anseia ver seus próprios dramas romantizados no cinema e, voilá, a forma do sucesso está pronta.

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Na pele de Quentin Jacobsen, Nat Wolf encarna o típico adolescente que não é popular, mas tem seus amigos e uma musa para chamar de sua: Margo, uma garota aventureira, cheia de vida e com personalidade complexa, que mora na casa ao lado do personagem principal. Vivida pela incrível Cara Delevingne – em um papel que parece até demais com sua persona pública brincalhona -, a garota desaparece no meio de uma noite, deixando pistas que apenas Q consegue solucionar.

Abaixo, você confere os principais destaque do bate-papo que John Green e Nat Wolff fizeram com a imprensa sobre “Cidades de Papel”, repleto de  piadas e trocadilhos entre os dois. Vem com a gente:

Trailer oficial de “Cidades de Papel”

 

Sobre a participação de Nat no filme ir além da atuação:

JG: Nat já era uma parte do filme antes mesmo de haver um roteiro. Foi muito especial que ele se envolvesse assim com o projeto, porque apesar de ser jovem, ele tem um talento muito promissor.

NW: Para mim, foi uma vitória ser escalado para esse papel. Esse é meu livro preferido do John – bem, todos são bons, mas esse é especial. A única pressão que senti foi a de transmitir, da melhor maneira possível, a tensão e a energia do livro e fazer jus à história.

"Cidades de Papel" é o segundo livro de John Green a ser adaptado para o cinema (Foto: Divulgação)

“Cidades de Papel” é o segundo livro de John Green a ser adaptado para o cinema (Foto: Divulgação)

A adaptação de “Cidades de Papel” para o cinema e as alterações na história:

JG: O mais importante foi sempre preservar a ideia central do livro. Queria mostrar como Margo (Cara Delevingne) não era um milagre, mas um ser humano, e isso é algo comum em todo mundo: romantizar alguém e esquecer que essa pessoa é muito mais complexa do que imaginamos. Enquanto eu estava olhando o roteiro, fizemos alterações que eu realmente achei melhores do que no livro. Coisas que eu deveria ter feito oito anos atrás, quando o lancei.

O sucesso dos livros e o fato de eles mostrarem o amor adolescente sob um ponto de vista diferente dos best-sellers anteriores:

JG: Eu jamais imaginei que meus livros teriam tanto sucesso, muito menos que seriam traduzidos para o português e se tornariam best-sellers por aqui. Eu tenho muito a agradecer à minha editora. Não me considero responsável por essa mudança no mercado. As histórias de amor complicadas existe há décadas. O que eu pretendo fazer com meus livros e filmes é mostrar que nenhuma vida é mais importante do que a outra: cada pessoa tem sua própria complexidade, mesmo que não possamos ver.

A química entre o elenco e a equipe:

NW: Todo elenco fala que se tornou uma família durante as filmagens e, em 95% dos casos, é mentira. No nosso caso, eu prometo, foi verdade. Nós tínhamos apartamentos para cada um do elenco, mas todos acabaram ficando no mesmo. Passávamos o dia jogando videogames, era muito divertido. Tanto que o Justice [Smith] teve que se mudar para Nova York para filmar uma nova série e está morando comigo agora.

JG: Quando eu cheguei ao set, todos eles já estavam tão enturmados que foi como se eu tivesse perdido o acampamento das férias, sabe? Todos construímos grandes amizades. Bem, se o Nat está fingindo que somos amigos, ele está fazendo um ótimo trabalho, porque às vezes ele me liga às 3h, 4h da manhã.

NW: Nós ainda temos um grupo de mensagens no celular que recebe cerca de 70 atualizações por dia!

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A identificação com a temática do filme e sua própria experiência no ensino médio:

NW: Quando começamos a filmar, eu me senti em uma máquina do tempo, porque eu também era assim na escola: tinha dois amigos principais e experiências amorosas que foram um desastre.

JG: Uma grande mensagem do filme é mostrar que a amizade é tão importante quanto o amor – acredito piamente nisso. Nós vivemos em um país onde somos ensinados que o romance precisa terminar com um beijo no final e um casamento, e acabamos esquecendo da amizade. Eu, por exemplo, já estive em um relacionamento onde tentava passar por todas essas etapas – o primeiro beijo, fazer com que a garota namorasse comigo e depois casar com ela. Fiz tudo isso sem parar para pensar em como estávamos construindo nossa relação, sem nos conhecermos de verdade. Para a minha sorte, um grupo de amigos me ajudou a ver a verdade – e uma dessas pessoas acabou se tornando a minha esposa.

Nat Wolff e John Green promovem "Cidades de Papel", no Rio de Janeiro (Foto: AgNews)

Nat Wolff e John Green promovem “Cidades de Papel”, no Rio de Janeiro (Foto: AgNews)

O desafio de usar uma linguagem que atinja os adolescentes, tendo 37 anos:

JG: Eu acho incrível porque você tem duas formas de escrever normalmente: para crianças e para adultos. Os adolescentes ficam nesse meio-termo. Eles nunca vão sentir a magia de andar em um carrossel, por exemplo, mas passam por grandes momentos nessa fase: o primeiro amor, o primeiro luto e todos esses grandes questionamentos sobre a vida. Então, para mim, não é um desafio, mas uma alegria, porque sinto que essa tensão continua a vida toda.

Quando escrevi esse livro, eu tinha 28 anos e meio que ainda me considerava jovem. Depois eu descobri que, para os adolescentes, todos os adultos são velhos, apenas em níveis diferentes (risos). Eu amo ser parte da comunidade de escritores que fazem livros para ‘jovens adultos’, mas já pensei sim em escrever só para adultos. Nas minhas histórias, os pais sempre ficaram meio de lado. Mas depois que tive meu filho, percebi que os adultos podem sir ser interessantes.

NW: O que eu gosto sobre o texto do John é que ele não escreve sobre adolescentes, ele escreve sobre pessoas complexas e as trata com o maior respeito. E eu já vi que ele faz isso com todo mundo em sua vida.

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Usar a palavra “retardado” em um de seus livros, ter que se desculpar, e a responsabilidade de escrever algo que possa influenciar seu público:

JG: Eu não me desculpei exatamente por ter usado essa palavra, mas se fosse reescrever o livro, eu não a usaria. Porque o sentido principal da história é sobre a humanidade do outro, perceber que as pessoas têm vidas tão complexas quanto a sua. E esse termo acaba sendo usado como algo pejorativo, algo totalmente contrário. Mas eu também não sinto que os escritores têm a responsabilidade de serem politicamente corretos.

Muitos fãs usam passagens dos meus livros, que algum personagem disse, mas eu mesmo não concordo. Por exemplo, “Qual é o sentido de estar vivo se você não fizer algo grandioso?”. Isso é dito no início do livro, e eu espero que o personagem tenha evoluído para além dessa questão. Eu acho que o sentido da vida é a experiência, é se conectar.