Nas estreias das séries “Looking” e “Girls”, o arquétipo de “Sex And The City” ainda parece vigente nos dias de hoje


Séries da HBO voltaram ao ar neste domingo (11/1) e, cada uma à sua maneira, parecem ter aprendido algumas lições com o seriado estrelado por Sarah Jessica Parker como Carrie Bradshaw

*Por João Ker

Apesar de terem sido quase totalmente eclipsadas pela 72ª cerimônia de entrega do Globo de Ouro (que você ficou sabendo aqui), duas das estrelinhas da programação jovem da HBO tiveram seu retorno neste domingo (11/1): “Girls”, o sucesso comercial escrito, dirigido, idealizado e protagonizado por Lena Dunham; e “Looking”, a aposta da emissora para o segmento LGBT, que mostra o universo de três amigos gays e seus problemas sobre relacionamentos.

É inevitável que, ao exibir na mesma noite os dois programas, não houvesse comparação entre eles por parte do público. E, o que mais chama a atenção, é a semelhança de ambos com “Sex And The City“, outro que costumava ser a galinha dos ovos de ouro do canal. Claro, as semelhanças entre “Girls” e a série protagonizada por Sarah Jessica Parker na virada dos anos 2000 sempre ocorreu, desde a primeira temporada. Acontece que, agora, “Looking” com seus dilemas do gay pós-moderno também entra na berlinda, à medida que o show vai claramente se distanciando da militância (não que ele já tenha se aventurado muito nesse aspecto anteriormente) e apostando ainda mais nas narrativas românticas e impasses psicológicos de seus protagonistas. Mas isso não significa necessariamente algo ruim.

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Começando com “Girls”, a 3ª temporada se encerrou em um momento crítico da vida de suas protagonistas (como você viu aqui): a certinha Marnie (Allison Williams) se vê envolvida com um cara compromissado; a excêntrica Shoshanna (Zosia Mamet) se depara com as consequências de uma vida recém-regada a sexo e badalos; Jessa (Jemima Kirke) começa a se distanciar da garota problemática que sempre foi e mirar a redenção dos seus anos de loucura; e a protagonista Hannah (Lena Dunham) parecia ter finalmente se cansado de reclamar da vida e feito alguma coisa para mudar seu ostracismo profissional.

Preview da 4ª temporada de “Girls”

Pois bem, agora que cada uma das atrizes responsáveis pelas protagonistas conseguiram se transformar em ícones fashion a seu próprio modo, o cotidiano de suas personagens na telinha, finalmente, deu de cara com uma porta chamada “realidade da vida adulta”, que parece mais densa do que nunca. Jessa está desempregada; Shoshanna parou com suas manias de perseguição (por enquanto) e se depara com a crise pós-faculdade; Marnie, com a ajuda perspicaz do sempre ótimo Elijah (vivido por Andrew Rannells), descobre que para ser uma popstar é preciso mais do que um vídeo no Youtube; e Hannah se dá conta do seu egocentrismo, que mais parece um reflexo da própria Lena, a qual a esse ponto parece ter esquecido que a série não gira em torno apenas de sua personagem. Assim como Carrie Bradshaw descobre na 4ª temporada de SATC que não é possível ser uma jornalista e comprar um par de saltos Manolo Blahnik por semana sem ir à falência, as meninas de “Girls” percebem como o mundo não é um mar de rosas no qual o único problema é arranjar um namorado.

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Agora, se “Girls” começa a amadurecer seus personagens como acontece nos estágios mais avançados de SATC, “Looking” quer ir exatamente na contramão dessa responsabilidade e parece se espelhar na fase mais leviana de sua antecessora na HBO. Talvez fosse até mais prudente compará-la a “Queer As Folk” nesse momento, dados os clichês do universo gay aos quais o programa está se apoiando: promiscuidade, vida de festas, a mulher heterossexual que vive cercada por amigos homossexuais, relacionamentos abertos, casos com homens compromissados etc. Mas isso está longe de ser uma reclamação, já que apesar da generalização de tais temas mais profundos, a série ainda parece refletir o comportamento atual da comunidade LGBT e, com as pitadas de bom humor, irreverência e personagens carismáticos, a representatividade do eixo está em alta.

Trailer da 2ª temporada de “Looking”

No episódio, Patrick (Jonathan Groff), Agustin (Frankie J. Alvarez) e Dom (Murray Bartlett) começam em uma típica viagem à casa de campo, com o suposto intuito de fortalecer a amizade e esquecer a pegação desenfreada de São Franciso por algumas horas. Claro, o esforço de Patrick em ser o garoto certinho vai por água abaixo quando a excelente, desbocada e sempre enérgica Doris (Lauren Weedman) chega implorando por festa. Milagrosamente, eles conseguem encontrar um grupo de gays enquanto remam, em uma dessas coincidências absurdas que, infelizmente, só acontecem na TV. Voilá, badalo LGBT no meio da floresta com drogas, música eletrônica e pegação na lagoa. Assim como aconteceu antes em SATC e em “Girls”, cada um dos personagens parece trilhar seu próprio caminho autodestrutivo, seja com Patrick continuando um caso com o chefe compromissado (sério que esse clichê é tão forte assim?); Agustin evitando os problemas profissionais e seu término mal resolvido; ou Dom se mostrando inseguro e traindo o namorado na sua própria casa.

 

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Dado o seu pouco tempo de exibição, “Looking” ainda tem tempo de errar e acertar ao longo da temporada e continuar sendo aclamada pelo público LGBT, tão carente de séries que, ao invés de focar no preconceito, prestem mais atenção aos problemas contemporâneos da comunidade que tem outras coisas para se preocupar além da homofobia (apesar de ela, claro, ainda ser um grande agravante social). “Girls”  precisa recuperar um pouco da realidade que mostrava em temporadas anteriores, mas também parece estar rumo a uma melhora significativa nos dilemas e enfoques de seus personagens (apesar de que Hannah e ,consequentemente, Lena ainda terem mais tempo de tela do que as outras três juntas). Talvez a cena inicial da temporada, tão similar ao primeiro take da série, seja uma declaração desse retorno às origens. De uma maneira ou de outra, a escolinha de “Sex And The City” e suas aulas sobre como mesclar relacionamentos dramáticos com questões inerentes à vida adulta parece ter conseguido alunos nota 10. Ou pelo menos nota 8.