Na coletiva de “Rio, Eu Te Amo”, apesar do amor incondicional pela cidade, seu maior patrimônio é o carioca!


No filme, Carlos Saldanha dirige seu primeiro live action, o “Polvilho” do Pânico investe no drama e até os diretores estrangeiros se rendem ao charme eterno da capital fluminense

*Por João Ker

E o Rio de Janeiro continua lindo, principalmente aquele retratado no filme “Rio, Eu Te Amo” (ou “Rio, I Love You”, já que trata-se de um exemplar da franquia internacional “Cities Of Love”). A produção reúne dez curtas de dez diretores diferentes – sem falar nas transições de costura entre os episódios –  e, assim como Paris, Nova York, Xangai e Jerusalém (estes dois últimos ainda em produção), algumas das cidades já contempladas na série -, mostra diferentes situações onde o amor floresce lindo, leve e solto pela cidade. Claro que, no caso do Rio, o que não falta é cenário: do Morro do Vidigal às highlands de Santa Tereza, do palco do Teatro Municipal à Praia do Arpoador, abundam os cenários, muitos deles naturais, of course. Com a estreia nacional do longa marcada para amanhã (9/9), HT participou da coletiva exclusiva para alguns veículos de imprensa que aconteceu hoje à tarde no Cinépolis Lagoon e conta tudo o que foi dito por lá.

Uma das grandes novidades de “Rio, Eu Te Amo” é a estreia de Carlos Saldanha , o cineasta-anmador das franquias “A Era do Gelo” “Rio” na produção live action. Ele é a mente por trás do episódio “Pas De Deux”, que mostra um casal de bailarinos,vividos por Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer, que discutem a relação no palco do Teatro Municipal. “O legal do Rio é que podem ser contadas 200 histórias sobre a cidade e ela ainda não se esgota, sempre haverá a possibilidade de uma temática diferente”, comenta o diretor em bate-papo exclusivo após a coletiva. A escolha do Municipal foge totalmente ao clichê do tropicalismo carioca e evita reduzir a cidade ao eterno arquétipo de praia, futebol e verão. Entretanto, Saldanha confessa que pensou na possibilidade de seguir esse viés: “Eu havia pensado em algo sobre um vendedor de picolé na praia, mas sou muito apaixonado pelo Rio antigo. Aquela área do centro me revitaliza, sempre que vou lá volto energizado. O próprio Municipal é uma joia, daquelas que as pessoas não cansam de olhar. Eu então visitei um espetáculo do grupo Corpo, em Nova York, e fiquei com essa ideia na cabeça, porque sempre me emocionei muito com a dança. Quando encontrei o Rodrigo em um show da Marisa Monte, também em NY, ele me contou que estava fazendo ioga para as filmagens de “300: A Ascensão do Império”. Eu perguntei se ele se disporia a fazer um bailarino e ele topou”.

Apesar de não estar familiarizado com o casting brasileiro, Saldanha ainda diz que Bruna foi a pessoa certa e que, ao lado de Santoro, “segurou a mão” do diretor nessa nova jornada. A atriz, por sua vez, é só elogios ao diretor: “Foi maravilhoso, porque ele sabia exatamente o que queria.  Eu só tenho que agradecer a ele e ao Rodrigo, que agora se tornaram meus grandes parceiros”, comenta com um sorriso gigante.

Carlos Saldanha e Bruna Linzmeyer (Foto: Igor Igarashi)

Carlos Saldanha e Bruna Linzmeyer (Foto: Igor Igarashi)

Quem também se mostra muito agradecido com a oportunidade é Eduardo Sterblitch, mais conhecido pelo público por conta de sua persona humorística como o Polvilho do Pânico na Band. No filme, Eduardo é neto de Fernanda Montenegro na história “Dona Fulana”dirigida por Andrucha Waddington, que já havia trabalhado com Fernanda no ótimo “Casa de Areia” (2005). Ele dá sua opinião: “Não é só a Fernanda, né. Tem o segmento musical com o Gilberto Gil, o Chico e… eu! Esse papel foi um presente. A minha intenção foi apenas passar a bola para eles fazerem o gol, porque esses são craques de verdade”.

O diretor, entretanto, não acha que Eduardo “apenas passou a bola”. “Apesar de ele ser conhecido pela comédia, é um ator com uma forte veia dramática que pode fazer qualquer coisa”, elogia Andrucha. Em “Dona Fulana”, Fernanda vive uma moradora de rua que simplesmente abandonou a casa por vontade própria. O cineasta explica que o processo para escrever a história foi um pouco mais complicado que o normal: “Nós passamos quase quatro meses pesquisando e entrevistando moradores de rua no Rio de Janeiro. O surpreendente foi descobrir que mais ou menos uns 10% dessas pessoas encheram o saco e foram embora de casa. Eles simplesmente pensam fora da caixa e resolveram ir contra o sistema. Parece que a rua tem uma certa magia sobre quem passa a morar nela”, revela. Magia essa que, por sinal, parece estar ficando mais poderosa que a de Harry Potter, já que o número de pessoas desabrigadas não para de crescer pela cidade. Mas, enfim, isso é assunto para outra hora.

Eduardo e o inquieto Cauã (Foto: Igor Igarashi)

Eduardo e o inquieto Cauã (Foto: Igor Igarashi)

Representando a parte estrangeira envolvida no longa, estavam na coletiva o mexicano Guillermo Ariana e a libanesa Nadine Labaki. Na história dele, “Texas”, Laura Neiva e Land Vieira formam um casal que, para estragar a surpresa do filme, se envolve em um acidente e uma cadeira de rodas. O diretor de filmes como o indicado ao Oscar “Babel” ( 2006) e “Vidas Que Se Cruzam” (“The Burning Plain”, 2008), parece um dos típicos casos de turistas que chegam ao Rio e são contaminados por aquele charme que faz a cidade se mover: “Tenho um carinho muito grande pelo Brasil. Para mim, o Rio é a melhor cidade do mundo – depois da Cidade do México”, brinca. “Já vim muito ao país antes de fazer o filme e sempre me interessei pelas contradições da sociedade brasileira – que me lembram um pouco as do México. Acho incrível como existe o Vidigal e o Leblon tão próximos. As favelas são muito interessantes e a própria diversidade das pessoas chama a atenção”, observa.

Com um portunhol meio cambaleante, o diretor ainda faz questão de enfatizar o talento da equipe com quem trabalhou: do diretor de fotografia a Laura. Esta, por sinal, também parece ter amado a convivência com Guillermo: “Ele ia fazendo perguntas tanto para mim quanto para o Land, foi quase uma descoberta juntos. Ele disse que eu precisaria conversar muito com os olhos – já que eu só tenho uma fala durante o filme todo – então eu me agarrei com unhas e dentes a essa estratégia. Foi uma questão de confiança mesmo, tanto nele quanto no Lande, porque como eu estava na cadeira de rodas, era ele quem me guiava e eu não podia fazer nenhum reflexo”, comentou o novo talento do Projac e queridinha da cena internacional, amada por gente como Karl Lagerfeld.

Nadine, por sua vez, além de escrever, dirigir e atuar em “Milagre”, ainda teve que dar conta do espoleta Cauã Antunes, o sucesso mirim de apenas seis anos que estrela grande parte do curta e não consegue parar quieto no lugar. “Eu me sinto muito sortuda por ter encontrado o Cauã, ele foi o primeiro garoto que eu vi na hora do casting e foi exatamente quem eu procurava. Mas acho que o maior milagre foi conseguir fazer com que ele parasse em algum lugar e falasse suas linhas. Ele não parava de se mover por mais de 20 segundos!”, riu a diretora, meio falando sério e tendo seu argumento confirmado nos momentos em que o menino, irrequieto, dava bandeira. Mas, surpreendentemente, o garoto ficou tímido na hora de falar com a imprensa. Momento de descontração total.

Nadine, assim como Guillermo, também declara um amor inexplicável pelo Rio: “Eu já havia passado alguns dias na cidade antes de me convidarem para o participar do projeto, e o que me chamou a atenção é que há muitos elementos em comum por aqui com a minha cultura. Não sei porquê, mas me sinto em casa na cidade. Eu dirigi um filme chamado “E Agora Onde Vamos?” (“Where do we go now?”, 2011) que fala sobre mães e esposas que tentam arquitetar um plano para que seus filhos e maridos não vão à guerra. Hoje eu vejo que essa história poderia ter se passado aqui, com os moradores das favelas. Foi o que eu tentei fazer com o “Milagre”, misturando favela, futebol e religião”.

Cauã com os pais, Wendell Pio e Rafaela Antunes (Fotos: Igor Igarashi)

Cauã com os pais, Wendell Pio e Rafaela Antunes (Fotos: Igor Igarashi)

Quem também está ótimo no filme é Marcelo Serrado que interpreta o parceiro do garanhão Ryan Kwanten, o Jason de “True Blood”. Sobre interpretar mais um gay, o ator comentou: “esse vai ser o último da minha carreira, agora eu passo o bastão para o Márcio Garcia”. No Curta-metragem “Eu Te Amo”, o casal resolve escalar o Pão de Açúcar, para o terror de Marcelo que morre de medo de altura. “A vista é linda, você consegue enxergar uma parte do Rio que só aparece quando você anda de avião”, diz o ator.

Entre gringos e brasileiros, fica a certeza forte de que, apesar de estar inserido em um contexto maior, o Rio é um capítulo à parte, todo especial, na série “Cities Of Love”. A distribuição será massiva, não apenas no país, mas no mundo inteiro, onde a curiosidade pela capital fluminense só aumenta a cada ano que passa, ainda mais com a Copa do Mundo e Olimpíada. E, se o paraíso for mesmo aqui, uma coisa é essencial para que esse Éden cheio de maçãs continue a arrastar público e espalhar amor pelos quatro cantos. Não, não se fala aqui do corpo violão das mulheres, apesar de este estar muito bem representado no filme por Débora Nascimento (que chegou a receber cantada de jornalista durante a coletiva). Para explicar melhor, nas palavras de Sergio Horovitz, da Rio Filmes: “O maior patrimônio do Rio de Janeiro é mesmo o carioca”.

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