Marieta Severo não reconhece governo Temer e desabafa sobre críticas à classe artística: “Essa situação que se criou é humilhante, injusta e cruel”


Atriz, que está prestes a completar 70 anos, diz que Michel Temer não a representa: ” Não queremos isso em um governo ilegítimo. Nós não reconhecemos esse governo”

Marieta Severo não está nada satisfeita com os rumos que o presidente interino, Michel Temer, tem dado para o nosso país. Engajada nos protestos dos artistas no #OcupaMinC e contra o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, a atriz de 69 anos se diz indignada com a situação, mas acredita que o momento é de reflexão para os brasileiros. Em entrevista exclusivíssima ao HT, Marieta, que finaliza a turnê de “Incêndios”, neste domingo, em Campinas, no interior de São Paulo, contou que viu sua classe humilhada.

Marieta Severo (Foto: Divulgação)

Marieta Severo (Foto: Divulgação)

“Quem achou que estava lutando contra os artistas que ‘mamam nas tetas do governo’ e essa coisa toda que se criou, que é humilhante, injusta e cruel, vai cair por terra. As leis do MinC, que estavam cheias de defeitos e precisavam ser aperfeiçoadas, serão reforçadas da forma que estavam e de qualquer maneira. Essas pessoas não entenderam que só estão dando força para a continuidade daquilo que nós, artistas, queríamos corrigir”, reforçou a atriz. “Estamos em um momento muito conturbado e dramático da nossa história. No entanto, eu também acredito que esse seja um momento de consciência para muita gente. De repensar um pouco mais profundamente e não embarcar em canoas que ninguém sabe onde vão dar”, refletiu. “De repente, surge uma bandeira contra a corrupção levantada em prol de corruptos. É uma loucura! O momento exige reflexão para parar e pensar que fomos nós que elegemos essas pessoas. Aquele pessoal que está lá, está para nos representar. A luta contra a corrupção é de todo mundo. Não pode ser usada como bandeira. É um momento delicado e doloroso”, avaliou Marieta.

Marieta em cena de "Incêndios"

Marieta em cena de “Incêndios”

Há algumas semanas, o Ministério da Cultura foi extinto da pasta governamental, gerando comoção na classe artística e protestos pelo país. No entanto, depois de muita resistência, Michel Temer decidiu recriar o MinC sob administração do então Secretário de Cultura do Rio de Janeiro, Marcelo Calero. Apesar disso, Marieta Severo acredita que é preciso uma reforma, principalmente no que se diz respeito à dualidade da Lei Rouanet. “O MinC era ótimo. Muitos debates foram feitos para aperfeiçoar a Lei Rouanet, só que agora virou ilusão para quem achava que ela seria aperfeiçoada. Falando do teatro, 86% do que é captado pela lei vai para quatro grandes companhias que fazem musical. Será que o público sabe disso?”, questionou ela.

“Essas são distorções, que estavam sendo corrigidas por Juca Ferreira (ex-ministro) através do que seria o pró-cultura. A Rouanet deve, sim, ser aperfeiçoada. As leis são iguais aos seres humanos, vão aprendendo e evoluindo. Acho ótimo o MinC ter voltado, acho fundamental que exista o Ministério da Cultura. Briguei e lutei por isso, mas não só por isso. Eu também luto pela legalidade. Porque nós estamos em uma interinidade de alguém que acha que foi eleito, mas o olhar não deve ser só pela volta do MinC, acho que é muito maior”, afirmou. “O que nós queremos é construir um país junto da saúde, junto da educação, mas dentro de um governo legítimo. Não queremos isso em um governo ilegítimo. Nós não reconhecemos esse governo”, disse.

Marieta Severo e elenco - Sessão da peça "Incêncios" (Foto: Divulgação)

Marieta Severo e elenco – Sessão da peça “Incêncios” (Foto: Divulgação)

Durante o papo, a atriz revelou que, além de “Incêndios”, está prestes a rodar dois filmes para o ano que vem. “Eu termino a excursão da minha peça neste domingo em Campinas, e vou tirar férias e aguardar para ver algo para a televisão. Mas também tenho dois projetos no cinema. É um filme do André Ristum, que conta histórias muito delicadas que se entrecruzam na cidade de São Paulo. Histórias muito lindas e eu estou numa dessas histórias. A gente deve filmar em agosto. E, para o ano que vem, tem mais um longa, mas está muito no início da produção”, adiantou ela, que ainda falou sobre a admiração que sente em relação à nova geração de mulheres da Brasil. “Estou com o maior orgulho de ver que essa geração retomar a bandeira do feminismo, que é uma bandeira muito importante. Tem muitas conquistas e muitas coisas ainda a ser conquistada, mas ver essa retomada do empoderamento com tanto garbo e alegria é emocionante. Está vendo como as coisas evoluem e são aperfeiçoadas o tempo todo? O movimento feminista é uma prova disso”, finalizou a atriz.