Elenco de Tempo de Amar fala sobre situações do inicio do século passado que permanecem atuais e urgentes nos dias de hoje, como machismo, racismo e corrupção


Nomes como Leticia Sabatella, Marisa Orth, Bete Mendes, Cassio Gabus Mendes e outros falam sobre atual situação do país e levantam importantes discussões

O amor neutraliza e cega as pessoas que passam a querer, apenas, estar ao lado do outro por quem estão apaixonados. A novela Tempo de Amar, de Alcides Nogueira, chega à telinha da TV Globo para mostrar que este sentimento pode despertar, impulsionar ou fortificar muitos pensamentos críticos. Além de exaltar os corações, a trama irá expor a questão da mulher na sociedade, a importância do voto e os direitos trabalhistas em cena, assuntos que mesmo depois de quase um século seguem em déficit e, portanto, relevantes no Brasil. O núcleo artístico carioca exaltará tais temas não somente pelo discurso, mas pela futura criação do primeiro grêmio nacional. A proposta dos revolucionários era falar da cultura e levantar algumas causas sociais. “Impressionante como estamos vivendo situações muito próximas às que vivemos naquele tempo. O Alcides mostrou isso para a gente em uma aula que tivemos sobre a época. Estamos passando por um retrocesso absurdo, inclusive, com relação aos direitos sociais e da mulher, ultrapassando o que temos de mais sagrado. A nossa sociedade não está se dando conta do mal que há e fazer esta trama me faz enxergar que a inveja e o rancor são sentimentos humanos que cultivamos. Não sabemos absorver a sombra que existe dentro de nós mesmos e acabamos tampando o sol com a peneira. Juntos, precisamos acordar e lutar pelos nossos direitos, pelas nossas florestas e pelo nosso patrimônio social”, afirmou a atriz Letícia Sabatella.

Durante a festa de abertura da novela, o momento político atual foi uma das principais pautas. Apesar da história se passar em 1927, os atores enumeraram alguns paralelos com os tempos atuais e, com isso, não pouparam as críticas.  “O momento político já está estancado há muito tempo no país, infelizmente. Tento ser muito otimista, às vezes, e acho que consigo ter esperança. No entanto já me vi pensando muitas vezes que este é um país sem esperança e futuro. Na verdade isto me passa pela cabeça todos os dias. Espero que eu esteja completamente enganado, vou continuar a lutar e acreditar. A história do Brasil também possui políticos muito bons que queriam apenas o bem da sociedade. Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para organizar e renascer o país”, lamentou Cássio Gabus Mendes. Apesar da novela não tratar de políticos, haverá alguns personagens que podemos relacionar com os homens de bens atuais.

Cassio Gabus Mendes fará um doutor especialista em epidemias (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Bete Mendes participou ativamente da história do país, tendo sido conhecida por seu viés revolucionário, ela sempre lutou por um Brasil melhor, por isso enxerga com profundo desgosto o cenário atual. “O lado político do Brasil me deixa arrasada. Recebi uma frase, recentemente, do Oscar Niemeyer a qual ele expressava a necessidade de ensinar filosofia e história nas escolas para as pessoas deixarem de ser burras e carneiros que seguem os outros. Tiraram especificamente estas duas matérias da grade curricular de ensino o que já diz muito sobre o que estamos passando”, criticou a atriz. Na época da ditadura, ela afirmou ter sido torturada por um coronel e, por isso, aconselhou os jovens que desejam levantar bandeiras contra o sistema. “Eu e alguns amigos que já passamos por situações críticas temos consciência de que a democracia é essencial. Com o regime funcionando, podemos nos organizar para protestar, interferir e discutir o que está acontecendo. Temos que usar nossos instrumentos democráticos, além de ir para rua como militantes, precisamos ser campeões de assinatura de petições. Esta foi a forma que encontrei para participar e lutar contra o momento atual. Desejo, do fundo do meu coração, que a gente saia deste buraco logo, antes que acabe tudo”, exigiu.

Jessika Alves fará a irmã mais velha de três mulheres que decidem viajar para o Brasil (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Na trama, alguns personagens exercerão a militância, principalmente, com a criação do grêmio. A personagem de Jessika Alves, por exemplo, será um dos expoentes feministas da trama. De lá para cá, a atriz acredita que a situação da mulher já melhorou bastante e, mesmo assim, ainda é necessário mudar algumas coisas no meio do caminho. “Dos anos 20 para os dias atuais, acho que a questão da mulher evoluiu bastante, mas acho legal voltarmos àquela época para ver como tudo começou. Tudo ainda é muito atual como o machismo, por exemplo, que está impregnado na nossa cultura e o racismo. Conhecendo a história vemos que podemos tirar o que está de ruim, porque existem pessoas que estão lutando por isto até hoje”, explicou.

 

Marisa Orth terá um personagem que lembra a Coco Chanel e será uma das feministas da trama (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Mas será que é possível viver em uma sociedade onde homem e mulher são vistos de forma igualitária? Para a atriz Marisa Orth esta é uma possibilidade já existente em sua vida desde a infância. “Fui criada por uma mulher muito feminista e mesmo tendo dois irmãos sempre fui tratada igual. Tomei e ainda tomo alguns sustos na vida porque achei que todos eram como eu. Além disso, no meio artístico nós sofremos muito preconceito, inclusive, entre as mulheres”, contou.

Marcelo Mello Jr. virá de uma família rica e se apaixonará por uma mulher branca, o que foi visto de uma forma muito ruim por sua família (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Apesar do meio ser machista, segundo Marisa Orth, a audiência permite dar a voz às minorias que não possuem a capacidade de falar o que querem. “Acredito que Deus coloca certas pessoas em determinadas posições para dar a voz aos outros que tem a opinião, mas não possuem espaço para defender. Como artista, tenho que acreditar e buscar melhorias como cidadão de bem. Precisamos falar sobre o assunto e discutir a causa. Vivemos uma revolução, e se cada um puder fazer a sua parte para ajudar seria muito produtivo”, explicou Marcello Melo. Dessa forma, é importante que as celebridades tenam consciência do nível de abordagem que possuem e como devem formular este discurso de forma a não ficar pejorativo. “É importante enquanto artista poder levar assuntos importantes como o racismo e o preconceito para o público. Estamos passando por muitas mudanças e estes são conflitos ainda muito atuais, o diferente ainda causa estranhamento e ainda há o julgamento com relação ao corpo e ao gênero. É muito bom unir o entretenimento com a informação”, concluiu Lucy Alves.