Irmãos Wachowski tentam reeditar “Matrix” em “O Destino de Júpiter”, filme no qual Eddie Redmayne assume sua porção Clóvis Bornay!


Poderoooosa! Vencedor do Globo de Ouro e sério concorrente a ‘Melhor Ator’ no Oscar 2015, ator britânico se esforça para viver vilão afetado neste longa – produção na qual os diretores tentam se livrar da maldição que os consagrou evocando a fantasia anos 1980!

Vítimas de seu próprio talento, os Irmãos Andy e Lana Wachowski fazem parte daquele turma que amarga o gosto do seu próprio sucesso original, sem conseguir repeti-lo. Além de consolidar de vez a carreira do hoje meio sumido Keanu Reeves com astro de mega produções de ação, sua trilogia “Matrix” pegou o público pelo pé graças ao seu conceito revolucionário e pela estética peculiar que a tornou imitada em looping, sobretudo na estilização das cenas de luta. Depois disso, a dupla de diretores não conseguiu mais acertar a mão, exagerando em produções como “Speed Racer” (idem, Warner Bros, 2008) e “A Viagem” (Cloud Atlas, Cloud Atlas Productions, 2012). Agora, eles lançam “O Destino de Júpiter” (Jupitert Ascending, Warner Bros e Village Roadshow Pictures, 2015), aventura espacial a qual, se não consegue livrá-los da sua maldição, pelo menos surfa ao sabor de similares que os dois devem ter assistido na telona quando eram garotões e provavelmente diziam: “Quando eu crescer, vou ser o novo George Lucas“.

"O Destino de Júpiter": até o cartaz imita o estilo dos anos 1980 de se fazer cinema espacial (Foto: Divulgação)

“O Destino de Júpiter”: até o cartaz imita o estilo dos anos 1980 de se fazer cinema espacial (Foto: Divulgação)

Para gostar de “O Destino de Júpiter” é preciso comprar o ingresso numa máquina do tempo e encarar o longa-metragem como volta para o futuro: uma deliciosa sessão da tarde em dia sem nada para fazer, quando se liga a TV e se descobre que um sci-fi anos 1980 está reprisando pela enésima vez. Irresistível para quem ama o gênero. Com a diferença que, nesta nova experiência, os efeitos especiais de ponta e o frenético 3D estão ali para mostrar o quanto aqueles clássicos de trinta anos atrás que o espectador considerava bem feitos agora são fichinha perto daquilo que há de mais moderno atualmente. E, como os Wachowski são chegados a um acabamento rocambolesco de Sapucaí, quem pensa em comprar o ingresso pode esperar apoteose visual, é claro. Globeleza perde.

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A fórmula é mais ou menos essa: um argumento de ação que não é nenhuma Brastemp (mas dá para o gasto) e certa implicação pseudo-filosófica, somados a uma fortuna gasta com a elaboração de uma civilização cosmopolita e sideral, onde enorme plêiade de tipos alienígenas comparece – parte criada em computação gráfica, parte pelo trabalho de maquiadores de primeiro time –, tudo com cenografia e figurinos tão deslumbrantes quanto exagerados, prontos para garantir o espetáculo. E muita pancadaria sublinhada por efeitos. Quem negaria essa premissa como sendo a essência da explosão sci-fi na década de oitenta, na esteira do sucesso das sagas “Star Wars” e “Star Trek”?

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Mas, como agora estamos falando de uma produção do novo milênio, surgida após o frenesi de “Matrix”, esse revival ganha o desejo elevar o nível de vertigem ao máximo, com tomadas de câmera impossíveis para aquela época, aditivado com ritmo mais delirante ainda daquele que já acontecia nos eighties, quando o termo blockbuster passou a fazer todo sentido.

E, para tentar garantir a bilheteria, por que não incluir nessa receita dois componentes responsáveis pela consagração de “Matrix”: coreografias de luta tão exuberantes quanto impossíveis e a presença de um planeta Terra que vive adormecido, com humanidade que desconhece seu real propósito no universo e formando uma espécie de gado de abate?

Mas, à parte (e apesar de) todo esse pensamento oportunista na hora de fazer cinema, até que o resultado final não chega a decepcionar, fazendo o filme funcionar como uma deliciosa reedição daquilo que se fazia num período que trouxe pencas de diretores na aba Lucas, Spielberg, Joe Dante e Chris Columbus, todo mundo querendo tirar uma casquinha. O filme até que dá certinho. E nem importa o fato dele ter chegado às telas após “Guardiões da Galáxia” (Guardians of Galaxy, de James Gunn, Marvel Studios e outros, 2013) produção lançada meses antes e que de cara abocanhou a alcunha de “boa homenagem à aventura espacial oitentista”.

"Guardiões da Galáxia": na disputa por melhor repeoduzir o cosmopolita ambiente espacial dos anos 1980, a produção da Marvel Studios saiu na frente (Foto: Divulgação)

“Guardiões da Galáxia”: na disputa por melhor reproduzir o cosmopolita ambiente espacial dos anos 1980, a produção da Marvel Studios saiu na frente (Foto: Divulgação)

No elenco, um inchado Channing Tatum (deve ter pirado na dose doDurateston e depois relaxou) caracterizado como mercenário espacial tenta se virar como pode, já que é picareta de marca maior. O ator, que estourou como o stripper de “Magic Mike” (idem, de Steven Soderbergh, Iron Horse Entertainment, 2012), precisa descobrir logo – antes que sua carreira naufrague – que é necessário mais mágica nas telas do que um simples Mike para se manter no topo.

Tatum: no papel co guerreiro licantropo, o ator usa cajal no olho e se revela mais canastrão do que nunca (Foto: Divulgação)

Tatum: no papel de guerreiro licantropo mutante, o ator usa cajal no olho e se revela mais canastrão do que nunca (Foto: Divulgação)

Mila Kunis, alçada ao posto de estrela desde “O Cisne Negro” (Black Swan, de Darren Aronofsky, Fox Searchlight Pictures, 2010) procura se virar como mocinha, mas o filme é de um canastríssimo Eddie Redmayne, que não teve medo de assumir verve quase histriônica para dar vazão a um vilão afetadíssimo e mau a dar com o pau. Sem medo de ser feliz, o ator deve ter percebido que uma das características desse tipo de produção é um contraponto aos protagonistas que extrapola o caricato e pode ter passado noites assistindo reprises de novelas mexicanas para dar vida ao seu Lorde Balem, misto de poço de maldade com bee megera-fashionista, quase um amálgama de Darth Vader com Clóvis Bornay. Digno de ser idealizado por um Aguinaldo Silva futurista.

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Trailer oficial de “O Destino de Júpiter”