Homenagem Gramado 45 prestigia a cineasta Alice Gonzaga e filme brasileiro é inspirado em romance de Henry James


Equipe argentina vai a Gramado para promover o filme Sinfonia para Ana que fala sobre a época da ditadura

A quarta noite do Festival de Cinema de Gramado poder ser resumida nas palavras destaques, aflições e reverências. Nessa terça-feira (22/08), por exemplo, foi a vez da homenagem à dona da empresa Cinédia, a primeira do ramo cinematográfico no país, Alice Gonzaga. Com 82 anos, ela foi criada vendo seu pai, Ademar, levantar uma marca de sucesso que perdura há quase 90 anos. “Participo do Festival desde o início e tenho um carinho muito grande por ele. Acompanhei a história com suas crises. Hoje estou aqui com 82 anos. A minha vida pode ser muito trabalhosa e difícil, mas sempre perseverei. Fiz um trabalho muito diferente do que o meu pai fez e sou eu quem carrega a empresa nas costas. O cinema, então, é uma máquina mágica que caminha sempre para frente”, afirma a cineasta que levou para casa uma placa com os dizeres ‘Homenagem Gramado 45’ e uma joia. Atualmente, ela se dedica a cuidar e preservar os arquivos e a memória do cinema brasileiro.

A homenageada do dia é Alice Gonzaga. Herdeira da Cinédia, primeiro estúdio cinema do Brasil, recebe a reconhecimento pelo imprescindível papel na preservação do cinema nacional (Foto: Cleiton Thiele)

O longa que está concorrendo ao título de melhor filme brasileiro da noite foi A Fera Na Selva que é dirigido a seis mãos por Paulo Betti, Eliane Giardini e Lauro Escorel. “Nós fizemos este filme com o coração escancarado, a ideia veio da Eliane. Espero que vocês recebam de peito aberto”, agradece Paulo. A trama conta a história de uma mulher e um homem que se encontram na esperança de viver algum acontecimento extraordinário, mas enquanto a vida passa eles deixam de enxergar as pequenas maravilhas do dia-a-dia no seu cotidiano.

Equipe do filme longa-metragem brasileiro “A Fera na Selva” (Foto: Cleiton Thiele)

A ideia teve origem de uma leitura que a diretora e atriz Eliane fez. O filme, inclusive, acabou ganhando o mesmo título que o do livro apesar de se tratarem de universos distintos. “Há uns 25 anos, mais ou menos, quando li a novela de Henry James, A Fera Na Selva, fiquei muito impactada porque era a história de um homem que esperava um acontecimento importante na sua vida, que queria se distinguir da massa. Me identificava muito com ele. Foi um choque para mim ler isto porque era uma característica muito forte da minha personalidade. Mas estou feliz que conseguimos fazer este filme e o resto não me interessa”, brinca a diretora que também atua na produção ao lado de Paulo, Ademir Feliziani, Cristina Labronici, Janice Vieira e entre outros.

Virna Molina e Ernesto Ardito, diretores do longa estrangeiro “Sinfonia para Ana” (Foto: Cleiton Thiele)

Traçando uma narrativa mais angustiante, o longa estrangeiro ‘Sinfonia para Ana’, de Virna Molina e Ernesto Ardito, é baseado em fatos reais que aconteceram durante a ditadura argentina mostrando casos de estudantes militantes que acabaram desaparecendo devido a sua resistência ao momento político. “A história é baseada em fatos reais e mostra o colégio mais importante e tradicional de Buenos Aires. Muitos adolescentes que trabalharam estudavam de fato no local e mostravam o que passou com a geração anterior”, afirmou Ernesto ao lado de sua filha Isadora, a grande protagonista do filme.

Equipe do curta “Telentrega” , chega ao Palácio dos Festivais para acompanhar a exibição do filme (Foto: Cleiton Thiele)

O curta Telentrega também embrulhou o estômago dos espectadores. A trama mostra o caso de um pai que é obrigado a lidar com a angústia de ver seu filho na espera por um transplante de órgãos. “Quando estava pesquisando para fazer este filme, visitei um CTI cardíaco e senti o peso que é ser de uma família que fica à espera. Eles vivem de acordo com a sorte e a esperança. A produção é o resultado a minha indignação a isto”, lamenta o diretor Roberto Burd.

O protagonista deste filme é Nando Cunha que vive cenas dramáticas bem diferentes das que está acostumado a fazer já que normalmente faz papéis ligados ao humor. Por este motivo, receber este papel do Roberto Burd foi muito importante para o ator. “Pude neste filme trabalhar de forma diferente, porque sou conhecido pela comédia e por atuar como negro. Faço um apelo, então, a que todos os roteiristas parem de enxergar o ator pela cor da pele”, reivindica.

Equipe do curta “Sal” (Foto: Cleiton Thiele)

O para fechar a noite com chave de ouro, o curta Sal, de Diego Freitas, traz um tema um pouco mais leve ao se tratar de encontros marcados pela internet que podem tanto resolver a vida particular quanto prejudicar. “Ouvi falar do Festival desde que era criança, por isso hoje é um dia muito especial para mim. Fizemos este curta de forma independente com apenas dois mil reais”, agradece o diretor.