Foco sobre a Ditadura militar: “Trago Comigo”, novo filme da diretora Tata do Amaral, quer mostrar à nova geração os anos de chumbo do Brasil


Para Carlos Alberto Riccelli, que interpreta o protagonista do filme, é uma oportunidade dos mais jovens conhecerem melhor essa fase da história do país. “Eu acho que é bom que a nova geração veja esse filme porque vai aprender muita coisa de uma forma emotiva”

Os anos de tortura da ditadura brasileira não podem ser esquecidos jamais. E foi com esse propósito que a cineasta Tata do Amaral idealizou o novo filme “Trago Comigo”. O longa, que teve a pré-estreia ontem à noite no Espaço Itaú de Cinema, na Zona Sul carioca, narra a vida do diretor de teatro Telmo (Carlos Alberto Riccelli), que sofreu um branco na memória do período militar brasileiro e não consegue lembrar do que viveu. Nos palcos da ficção, Telmo ensaia uma peça sobre o tema e, a partir das improvisações dos atores em cena, começa a recordar algumas passagens. “O que vemos no filme é o resultado da peça. Ou seja, não vemos o passado, e, sim, o futuro”, completou a diretora Tata do Amaral.

Em entrevista ao HT, a cineasta contou que o enredo foi um reflexo do momento pessoal pelo qual estava passando. Apesar de não ter relação com a ditadura militar, a diretora explicou que também sofreu com uma lacuna temporal na memória após um trauma vivido. Segundo ela, a escolha pela temática ditadura partiu do produtor Matias Mariani. “Eu recebi um convite da TV Cultura para fazer uma série chamada ‘Direções’. Para esse projeto, o Matias escreveu esse argumento (da ditadura), me deu e nós desenvolvemos o que, hoje, é o filme ‘Trago Comigo’”, relembrou Tata que começou a pensar e produzir o longa em 2009.

Tata do Amaral, diretora de "Trago Comigo" (Foto: AgNews/Marcello Sá Barretto)

Tata do Amaral, diretora de “Trago Comigo” (Foto: AgNews/Marcello Sá Barretto)

E, falar de um tema que mexe com o emocional e a memória de tantas pessoas não é tarefa fácil. Ainda mais quando, muitas vezes, essa fase da história é ignorada ou esquecida. Mas, para a cineasta, esse trabalho é, justamente, para trazer ao presente um passado que ninguém quer se lembrar. “São relatos ligados à ditadura militar, a um momento em que a sociedade brasileira torturou e matou pessoas que se contrapuseram ao governo. Outra coisa que ficou óbvia para mim, a partir das pesquisas para o filme, é que existe uma lacuna entre as gerações. O grupo do protagonista, que tem por volta de 60 anos, precisa explicar os ideais e o sonho que tinham por uma sociedade mais justa para as novas gerações que não entendem essas razões, já que possuem outras referências”, declarou.

Carlos Alberto Riccelli e Tata do Amaral na pré-estreia do longa (Foto: AgNews/Marcello Sá Barretto)

Carlos Alberto Riccelli e Tata do Amaral na pré-estreia do longa (Foto: AgNews/Marcello Sá Barretto)

E não foi só no filme que houve esse conflito ideológico entre as gerações. Como nos contou o protagonista do longa, Carlos Aberto Riccelli, o elenco mais jovem, que interpreta os atores da peça de “Trago Comigo”, também não sabia tanto sobre os anos de chumbo no Brasil. “O processo do filme e a história que ele conta são, em partes, um espelho dos bastidores. Assim como os atores não sabiam praticamente nada da história e da ditadura militar, os personagens deles também não. Então, tinha esse jogo de verdade e faz de conta”, afirmou. E, para esse público que não é tão familiarizado com o período de luta do nosso país, Riccelli destaca a importância de assistir ao longa que estreia na próxima quinta-feira, 16. “Eu acho que é bom que a nova geração veja esse filme, porque vai aprender muita coisa de uma forma emotiva”, completou.