Fernanda Montenegro atribui o fracasso de “Babilônia” ao racismo e explica boicote: “Não só os homossexuais estavam no armário. O país também”


Para a atriz, que viveu uma advogada lésbica que ajudou a trama a sofrer um boicote conservadorista, “ficou tudo em cima da homossexualidade”. Mas ela tem certeza que o racismo falou mais alto porque “é a primeira novela em que dois terços do elenco é de atores negros, que não são subservientes, que ascendem por um esforço próprio enorme, e que se casam de uma forma muito miscigenada”

Em março deste ano, HT se perguntou ao ver o primeiro beijo gay entre os personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em “Babilônia” (TV Globo): “Que poder é esse que um simples beijinho tem?”. À época, nosso questionamento tinha fundamento. Do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ao líder do PRTB, Levy Fidélix, alguns setores conversadores da sociedade pediram um boicote à novela. O tempo passou, a audiência caiu, o roteiro foi alterado e os beijos só voltaram a acontecer no último capítulo. Agora, com o folhetim já encerrado, nossa pergunta ganhou uma outra resposta durante uma entrevista que Fernanda Montenegro concedeu ao jornalista Roberto D’Ávila na GloboNews.

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Cena do primeiro beijo entre Estela e Teresa, personagens de Timberg e Montenegro em “Babilônia” | Foto: Reprodução TV Globo

No programa de Roberto, a atriz disse que nossa sociedade vive um momento de transformação em que mais vozes são dadas a diferentes setores, causando, querendo ou não, uma equiparação na exposição de opiniões. “Agora nós estamos falando pouco dessa revolução real que está acontecendo no Brasil, que é falar com liberdade o que se quer dizer. Isso está chocando um pouco, porque sempre teve alguém que falava mais alto”, constatou. “Neste momento, todo mundo está num palanque: nós estamos ouvindo todos. Ainda mais pela internet. Não eram só os homossexuais que estavam no armário. De uma certa forma o país estava em armários”.

E Fernanda foi além da questão da homossexualidade para falar da rejeição à trama assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. A atriz também acha que parte da recusa do telespectador se deu ao racismo ainda impregnado na sociedade. E ela se justificou na escalação de muitos de seus colegas de set. “É a primeira novela em que dois terços do elenco é de atores negros, que não são subservientes, que ascendem por um esforço próprio enorme, e que se casam de uma forma muito miscigenada. (…)”, disse.

Fernanda concedendo a esclarecedora entrevista ao jornalista Roberto D´Ávila

Fernanda concedendo a esclarecedora entrevista ao jornalista Roberto D´Ávila (Foto: Divulgação Globo News)

Para a intérprete da advogada Teresa Petruccelli, abordar negros vitoriosos num folhetim incomoda muita gente. “Então ficou tudo em cima da homossexualidade, mas eu tenho certeza que sobre essa zona da negritude tão ascendente e tão vitoriosa, sem subserviência, ninguém vai falar, porque o preconceito de raça realmente dá cadeia, então querem ver o negro não sei onde, um caso aqui outro ali numa novela, mas uma frente de negritude ganhando espaço numa novela das nove? Nunca houve e ninguém fala”. E a gente assina embaixo!