Exclusivo! Sabrina Petraglia fala do começo da carreira e da preparação para viver Shirlei em “Haja coração”: “Exige muita consciência corporal para não se machucar”


A atriz, que largou um emprego como jornalista para encarar uma nova profissão, contou que essa foi a decisão mais difícil de sua vida: “Eu tinha estabilidade, mas não era feliz”

Largar um emprego fixo como jornalista, em um veículo que lhe dava estabilidade após um término de namoro que durou sete anos foi apenas o primeiro passo – corajoso – de uma carreira promissora. Pois foi o que Sabrina Petraglia, que hoje vive Shirlei em “Haja coração”, fez. “Foi a decisão mas difícil da minha vida e tive muito medo. Eu tinha estabilidade, mas não era feliz. Ia levando, queria casar, ter filhos… Até que meu namorado da época terminou comigo. Fiquei sem chão. Me vi jovem, sozinha, infeliz no trabalho e decidi, com o apoio dos meus pais, largar tudo e me aventurar nos palcos de São Paulo. Eu já fazia teatro, mas era um passatempo. Precisava ser feliz independente de namorado, família, precisava me fazer feliz, encontrar o meu caminho, e só o palco me trazia paz, plenitude. Passei muitos perrengues, tive que ter muita coragem e perseverança, mas está dando certo. Depois de 11 anos estou aqui, tendo a oportunidade de viver uma personagem linda”, analisou.

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(Foto: Ricardo Penna)

De fato tem dado certo: tanto é que Sabrina sequer precisou de teste para dar vida à Shirlei. “No meio dos ensaios de uma peça que fiquei em cartaz em São Paulo, recebi a ligação da produtora de elenco Daniela Ciminelli me convidando para novela. Daniel Ortiz conhece meu trabalho dos palcos da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, onde me formei atriz, e prestigiou alguns espetáculos que fiz também no Teatro Popular do SESI. Já o Fred Mayrink me dirigiu bastante em ‘Alto Astral’ e por isso também já sabia como funcionava meu trabalho. Acho que ambos não viram a necessidade de um teste e, por conhecerem meu trabalho, acabaram me convidando”, explicou.

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(Foto: Ricardo Penna)

Se o convite foi simples, a preparação foi para lá de complexa, afinal, sua personagem tem uma deficiência física que faz com que ela seja manca. “Fazer um personagem com uma deficiência física é árduo e exige muita consciência corporal para não se machucar. O movimento, por mais mínimo que pareça, desalinha todo o meu corpo. Não sinto dor, sinto só cansaço no final do dia”, disse ela, que se dedicou de corpo e alma ao papel. “Comecei a levantar o manco da Shirlei em São Paulo com um trabalho de movimento, consciência corporal e improviso com a Tica Lemos que me deu aula na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Ela sabe tudo sobre a Nova Dança e ficamos juntas por quase dois meses. Também assisti a alguma cenas da Aracy Balabanian na novela ‘Nino, o italianinho’ e vi alguns filmes com atores que também tiveram que desenvolver esse trabalho de corpo como Audrey Tautou em ‘Eterno Amor’, Dustin Hoffman no clássico ‘Perdidos na Noite‘ que tem no elenco também o super Al Pacino e Ari Barroso ganhou destaque como um coxo no longa brasileiro ‘Se Deus Vier Que Venha Armado’. Cheguei a encontrar com o Ari num restaurante em Santa Cecília, em São Paulo, e mostrei meu movimento pra ele e observar o que ele tinha criado”, contou.

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Sabrina como Shirlei em “Haja coração” (Foto: Reprodução/Gshow)

Mas lidar com a realidade dos deficientes físicos foi fundamental para compor Shirlei: “Eu observava muito as pessoas com a deficiência na marcha do caminhar nas ruas, no aeroporto. Cheguei a filmar discretamente duas pessoas para estudar. Confesso! E, paralelo a tudo isso, tratei de estudar um pouco o que seria essa má formação do osso do quadril, que do lado displásico não consegue segurar a cabeça do fêmur e então causa esse movimento diferenciado da Shirlei. Conversei com pelos menos quatro meninas que estão na mesma situação física e também emocional dela e fui, aos poucos, entendendo e escolhendo os desdobramentos desse mancar. A perna torta, por exemplo, é uma das consequências (ou não) dessa má formação. Optei por ter essa perna mais para dentro, que é signo também de alguma introspecção, e usar a botinha que tenta corrigir e amenizar as dores da bacia, que pode ser causada por uma artrose acentuada, e das costas, causada por uma possível escoliose, desenvolvida pela diferença do tamanho das pernas”, afirmou.

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(Foto: Ricardo Penna)

Depois de muito estudo, Sabrina saiu pelas ruas de São Paulo com uma bota ortopédica. “Defini o movimento no corpo, mandei fazer a bota e sai treinando para viver na pele o que essas meninas vivem, os olhares, os comentários dos outros e o que isso me causava dentro. Transitei, provei diferentes impulsos e sentimento por ser ‘diferente’. Nascia o coração da minha Shirlei. E, finalmente, a partir dessa base, fui compondo a relação dela com os outros personagens da história”, explicou ela, que fez questão de ressaltar: “Me cuido bastante. Alongo sempre, faço fisioterapia e massagens”.

Com todas as dificuldades, a personagem é uma verdadeira princesa de contos de fadas. “Shirlei é a ‘Cinderella’ de ‘Haja Coração’”, definiu Sabrina. “Sou muito grata ao Daniel Ortiz e a toda equipe dele. Meus textos são lindos e ótimos, eu me emociono com cada capítulo novo que chega, é impressionante! Estou realizando um sonho de menina: vivendo uma princesa. Comecei minha carreira aos sete anos e que criança atriz que não sonha, não imagina um dia chorar na chuva, sofrer, mas se superar e ser acolhida por um príncipe todo lindo? Daniel é meu ‘fado madrinho’ (risos). Devo ter rezado forte quando criança e Deus me ouviu”, comemorou ela, que acredita que a leveza de sua trama a faz ainda mais especial: “Acho que hoje vivemos em um mundo tão violento que uma história leve, cheia de um amor genuíno aquece a alma e nos faz ter esperanças, nos instiga a amar. E são histórias possíveis. Conheci muitas meninas com a mesma deficiência da Shirlei e ouvi delas lindas histórias. É real”, garantiu.

Pois como se só dar vida à um conto de fadas não bastasse, Sabrina tem uma “família” dos sonhos. “Só tem gente bacana trabalhando comigo. Jayminho (Matarazzo) é uma doçura, me levanta um bolão, me traz paz e sempre me emociona fora de cena com seu olhar sensível. Chandelly (Braz) é uma grande parceira dona de um coração lindo. Mari (Ximenes) como sabe de TV essa mulher, como trabalha e como me ensina! Marisa (Orth) me acolheu de um jeito ímpar, me repara, me entende e com uma palavra é capaz de me devolver para mim. E como é inteligente! (José) Loreto e (Marcos) Pitombo são tão gentis, olham nos olhos, trocam em cena, amo trabalhar com os dois. Tenho muita sorte”, declarou.

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(Foto: Ricardo Penna)

E, apesar de a novela ser um remake de “Sassaricando”, sua Shirlei não fazia parte da trama… e sim de outro sucesso: “Torre de Babel”. “Não assisti nenhuma delas. Ambas fizeram muito sucesso e achei melhor buscar outras referências e não ver para não correr o risco de tentar imitar ou algo assim. Acho que isso limitaria minha criação, a composição da minha Shirlei”, explicou ela, que, ainda assim, recebeu a “benção” e muitos elogios de Karina Baum – intérprete de Shirlei em “Torre de Babel”. “Achei gentil escrever para a Karina e pedir licença para ser a nova Shirlei na releitura do Daniel Ortiz. Shirlei é um clássico do Sílvio de Abreu e Karina fez muito bem, ela é uma excelente atriz. Foi um sucesso na época. Não chegamos a nos conhecer pessoalmente, trocamos um e-mail simples e ela foi muito querida comigo. Não chegou a me dar dicas, mas compartilhou comigo a doçura da personagem e o uso da botinha ortopédica”, revelou ela, que garantiu ter muito em comum com Shirlei: “Certamente a persistência, o gosto pelo trabalho e vontade de amar e ser amada”.