Com Débora Nascimento, Sérgio Guizé e Fabrício Boliveira, ”Além do Homem”, marca a estreia do diretor Willy Biondani: “É uma viagem antropofágica”, diz Guizé


Com a natureza como pano de fundo, ‘’Além do Homem’’ promete resgatar as raízes do povo brasileiro por meio de uma trajetória delirante.

Acompanhada do marido José Loreto, Débora Nascimento se reuniu com os amigos de elenco de ‘’Além do Homem’’, como Fabrício Boliveira e Sérgio Guizé, para a pré-estreia realizada no Shopping Leblon, nesta terça-feira, 12, a fim de levar para as telonas uma história que promete resgatar as raízes da cultura brasileira. O longa-metragem, que marca a estreia do diretor Willy Biondani, conta a trajetória do escritor brasileiro Alberto, que renega a sua identidade e decide morar na França. No entanto, o desaparecimento inesperado de um antropólogo francês na pequena cidade de Milho Verde, Minas Gerais, faz com que ele tenha que retornar à sua terra natal, encantando-se novamente por tudo o que o Brasil tem para oferecer desde a sua natureza até o próprio povo por meio de uma visão feminina. ‘’O meu personagem é uma grande viagem antropofágica. É um mergulho pra dentro, mesmo. Ele representa a alma de resgate de identidade e de afeto. É um personagem que quebra esse homem moderno em uma sociedade patriarcal e vai em busca do feminino, da mãe terra e da mãe Pátria’’ conta Sérgio, que interpreta o protagonista.

Willy Biondani ao lado da namorada e produtora Denise Gomes. (Foto: Daniel Pinheiro)

Para criar essa ideia de feminino como meio de descoberta, que surgiu após uma reflexão utópica sobre o povo brasileiro, o diretor se valeu não só da abordagem da questão de gênero e da afetividade como também da natureza da região, representando o desenvolvimento do protagonista. ‘’Ele chega ao Brasil com um cerrado muito seco, que é a própria expressão do universo masculino dele, e aos poucos ele vai penetrando em um Brasil que tem muita água, uma cachoeira maravilhosa. Durante o filme, ele sempre é convidado para tomar um banho de cachoeira. Então, a partir disso, o cenário vai ficando mais verde, mais fértil’’, conta. Assim como Alberto no filme, a atriz Carol Fazu, que marcou presença no evento para prestigiar os amigos, também se reencontra ao estar em um ambiente natural. ‘’Eu sempre gosto de ir para lugares que eu consiga ter contato com natureza, cachoeiras. Eu acho que é sempre um processo de renascimento e de conexão, de ficar em silêncio, ler um livro, tomar um tempo. Isso sempre me reconecta’’, diz a atriz que, por ter morado em Brasília, estava sempre visitando a Chapada.

Como Alberto, Sérgio Guizé vive a trajetória de um escritor brasileiro que renega as suas raízes. (Foto: Daniel Pinheiro)

Já a representação feminina na pele de uma mulher, fica responsável pela atriz Débora Nascimento, que interpreta Bethânia. Com uma beleza tropical e um ar sereno à la sereia Iara, a jovem conduz o escritor para dentro das águas, explorando a relação dele com o ambiente desconhecido e com o outro para, enfim, transformá-lo. ‘’Ela é a Gaia brasileira, ela é a representatividade do feminino do nosso Brasil, dessa natureza fértil – que ao mesmo tempo convida você a mergulhar nas suas águas, mas que tem aquele mistério, porque você não sabe se vai se afogar ou o que vai descobrir’’, afirma Débora. Esse sentimento de transformação não ocorreu só com Alberto. Para a atriz, interpretar Bethânia, apesar do medo inicial de embarcar nessa jornada, foi um processo de grande conhecimento e reconexão com ela mesma. ‘’É uma personagem que me mudou bastante como mulher e como atriz. Eu me senti mais potente com o feminino e com a minha brasilidade. Eu me senti mais forte e mais poderosa, não com o outro, mas comigo mesma, lembrando de onde eu sou, das minhas raízes, da minha ascendência dessa mistura que é o nosso país. Eu prometi nunca mais negar as minhas raízes’’, declara.

Débora Nascimento, que interpreta Bethânia, ao lado do marido e ator José Loreto. (Foto: Daniel Pinheiro)

Além de Bethânia, o filme traz outros personagens que contribuem para o processo de descoberta do escritor a partir da personificação de aspectos da nação. Entre eles, quem mais chama atenção é o Tião, que à primeira vista é motorista de Alberto. Interpretado por Fabrício Boliveira, que está no ar como Roberval em ‘’O Segundo Sol’’, ele é um personagem que transita pelas definições de gêneros, representa a miscigenação e mestiçagem presentes no Brasil, guiando o Alberto e o público pelas terras tropicais. ‘’Ele é o guia do Alberto nessa descoberta de si. É como se fosse um vírus introduzindo o Alberto nele mesmo. Então, ele é o cara que vai desbravando toda essa história brasileira para trazer o espelho ao escritor para ele se reconhecer brasileiro de novo’’, diz Fabrício. Durante a pré-estreia, o diretor foi só elogios à interpretação de Boliveira. De acordo com ele, o ator conseguiu captar como ninguém a essência do papel. ‘’O Tião é um pouco disso tudo: uma mistura de pop e ao mesmo tempo uma espécie de entidade que sobe em árvores. O Fabrício teve uma capacidade incrível de conseguir diluir e pontuar tudo isso muito bem, sem que isso ficasse ‘’over’’. Então, ele é engraçado na medida certa, ele é serio quando deve ser’’, afirma.

Na trama, Fabrício Boliveira vive Tião, um brasileiro excêntrico e singular. (Foto: Daniel Pinheiro)

Com nomes como Flávia Garrafa e Otávio Augusto, o filme, apesar da explícita crítica com relação ao esquecimento da identidade e da cultura, não tem a intenção de provar nada para o espectador, apenas causar reflexão. Por meio da trajetória de Alberto, ‘’Além do Homem’’ vem como um delírio capaz de proporcionar o reencontro com si mesmo e suas raízes em um momento tão desesperanço, principalmente no âmbito político, para o povo brasileiro por meio da relação afetiva com o outro e o ambiente retratado. ‘’As pessoas tem radicalizado tanto as questões, tem se disposto tão pouco a discutir e ponderar, que eu acho que mais do que nunca a gente precisa pensar sobre a nossa afetividade, a importância dela no caminho do Brasil como nação, é muito oportuno e muito importante hoje em dia’’, reflete Biondani. Amigo de Sérgio Guizé, o ator Rainer Cadete, que escapou das gravações do novo filme, ‘’Intervenção’’ – cuja direção é assinada por Rodrigo Pimentel -, para prestigiar o amigo, já está nesse caminho em busca da esperança nessa conjuntura sociopolítica brasileira. ‘’A esperança é uma coisa que faz parte do brasileiro e eu acho que com muita calma, muita fé, a gente vai conseguir, por exemplo, fazer a nossa palavra valer nas eleições. É isso, ficar bem atento nas eleições para poder votar consciente em alguém que realmente consiga trazer um retorno bom para o país e para o povo’’, diz. Com estreia marcada para o dia 28 de junho em todos as salas de cinema, o filme promete levar todos os espectadores para um terra dos sonhos mais brasileira do que nunca!