Lava-Jato ganha série no Netflix sob comando de Marcos Prado e José Padilha. “É uma história contada sem heróis”, disse Marcos


Para o cineasta Marcos Prado, foi uma decisão equivocada o Rio de Janeiro ter aceitado sediar as Olimpíadas. “Eu admiro países que não aceitam convites desses grandes eventos esportivos para investirem a verba em outras áreas. Mas, como agora ‘a Inês é morta’, que seja o melhor possível”

A operação Lava-Jato, presente diariamente nos noticiários e jornais brasileiros desde 2014, vai ganhar uma série na Netflix. E, mais do que isso, será contada sob direção e roteiro de Marcos Prado e José Padilha – que também trabalharam juntos nos dois filmes de “Tropa de Elite” e no longa “Ônibus 174”. Em entrevista exclusiva ao HT, Marcos Prado contou que a dupla está na etapa de produção de roteiro e que, provavelmente, a série de ficção vai estrear no começo de 2017. “A série conta como a operação da Polícia Federal se desdobrou, sem heróis, a partir de um ponto de vista bem técnico e as consequências das investigações em prisões e recaptura de milhões de reais. E é um enredo que ainda não tem fim. A cada dia, temos notícia sobre novos suspeitos e novos condenados. Nós estamos fazendo bem do princípio para ter tempo, caso surjam outras temporadas, de conseguir chegar em um momento atual ou até mais à frente, quando talvez a operação termine. Mas, por enquanto, vamos contar os primeiros momentos de 2014, quando tudo começou, e, se tiver demanda, vamos fazendo mais”, explicou o cineasta que contou que o enredo foi uma proposta do diretor José Padilha após a Netflix pedir sugestões para poder investir na arte brasileira.

Marcos Prado e José Padilha (Foto: Reprodução)

Marcos Prado e José Padilha (Foto: Reprodução)

Embora os brasileiros estejam cansados de ouvir sobre a operação que já instaurou 1.237 procedimentos, condenou 105 envolvidos e recuperou cerca de R$ 3 bilhões, Marcos Prado acredita que transformar o caso em série, em arte, é uma forma de torná-lo mais palatável e compreensível ao grande público. “Tanto um documentário como uma série, você consegue se aprofundar um pouco mais nas questões que são noticiadas na mídia corrida do dia-a-dia. As pessoas que trabalham com jornalismo não têm muito tempo para se aprofundar naquele assunto. Então, as notícias são sempre meio atropeladas. As pessoas não entendem direito como começou a Lava-Jato. E, hoje em dia, o Brasil está super dividido e polarizado, com grupos que endeusam o (juiz Sérgio) Moro – responsável pelo caso – e outros que o demonificam. E, como a série não vai ter heróis, vai ser uma oportunidade de mostrar a operação de forma fria”, afirmou.

E esse não é o único projeto do cineasta Marcos Prado. Como nos contou, o diretor estreia em outubro o documentário sobre Curumim, o brasileiro que foi fuzilado pela polícia da Indonésia em janeiro de 2015 como condenação do crime de tráfico de drogas. Para quem não lembra do caso, Marco Archer, o “Curumim”, era carioca, amigo de Marcos Prado e estava há onze anos preso por tráfico de cocaína. “Ele era uma pessoa superconhecida aqui no Rio e frequentava vários lugares que eu também ia. Até o último momento, ele não acreditou que fosse ter esse fim”, relembrou.

O diretor estreia em outubro o documentário sobre a vida de Curumim, o brasileiro condenado a fuzilamento na Indonésia por tráfico internacional de drogas (Foto: Reprodução)

O diretor estreia em outubro o documentário sobre a vida de Curumim, o brasileiro condenado a fuzilamento na Indonésia por tráfico internacional de drogas (Foto: Reprodução)

E, por falar na cidade do Rio, Marcos nos disse que reconhece a importância das obras de revitalização, mas, no entanto, não basta deixar a cidade bonita para os visitantes olímpicos. “Eu acho que é importante e que é um momento de revitalizar o Rio de Janeiro. E eu vejo que isso está acontecendo. Porém, não podemos esquecer todas as outras coisas mais importantes que as Olimpíadas, como cuidar da saúde dos cariocas, por exemplo. Eu admiro países que não aceitam convites desses grandes eventos esportivos para investirem a verba em outras áreas. Mas, como agora ‘a Inês é morta’, que seja o melhor possível, que dê visibilidade ao Rio de Janeiro e que a gente possa melhorar essa cidade e toda a infraestrutura falha que temos em um estado falido. Se pensarmos friamente e pudéssemos voltar no tempo, será que nós faríamos essas Olimpíadas? Será que valeria a pena? Eu não tenho a resposta porque o ‘se’ não existe”, refletiu o cineasta.

"Eu admiro países que não aceitam convites desses grandes eventos esportivos para investirem a verba em outras áreas" (Foto Reprodução)

“Eu admiro países que não aceitam convites desses grandes eventos esportivos para investirem a verba em outras áreas” (Foto Reprodução)

Como morador da cidade olímpica, Marcos disse que acredita em um futuro satisfatório e otimista. Mas, segundo ele, é só em um futuro distante mesmo. “A longo prazo, eu acredito que possa haver um legado positivo. Se a gente conseguir cuidar bem do saneamento, hospitais, saúde pública, educação e tudo mais que precisa ser cuidado, lá na frente pode ser que fique um bom legado. Mas a curto prazo, talvez tenha sido uma opção equivocada”, concluiu o diretor de cinema Marcos Prado.