Depois de atuar, escrever, dirigir e produzir seu primeiro longa, “El Mate”, Bruno Kott integra elenco de Malhação como o professor de física Ernesto


Da experiência nas telonas que lhe garantiu um Kikito a categoria ator coadjuvante, ele contou que a coragem foi um dos principais aprendizados desta missão nada fácil. “Me deu uma sensação muito boa de eu ser capaz. É uma propriedade sobre o meu próprio trabalho”

Pode ser como professor de física, advogado, homossexual ou evangélico, no cinema ou na televisão e na função de diretor, ator, roteirista ou produtor. Bruno Kott é um daqueles exemplos camaleônicos de artistas que tem mil e uma vestes para qualquer trabalho. Atualmente, ele está como ator na atual temporada de Malhação como o professor Ernesto. Na novelinha, Bruno interpreta o personagem que foi inspirado na história real do pai do autor da trama, Cao Hamburguer. Mas, a oportunidade na televisão, veio depois da repercussão positiva de “El Mate”, o primeiro longa roteirizado e dirigido por Bruno. Na produção, que já ganhou boas críticas dentro e fora do país, o ator ainda interpreta um evangélico.

Para falar de um profissional tão plural, assunto, de fato, não faltou. A começar por Malhação, que neste ano vem celebrando a diferença entre o público teen, Bruno Kott contou da experiência de interpretar o professor Ernesto de física. “Eu entrei para fazer uma pequena participação, mas isso já está rendendo. O Ernesto é um professor inspirado no pai do Cao, que se chamava Ernest e, mesmo ensinando uma matéria de exatas, no caso, física, ele era muito humano. Era um cara que se preocupava com a questão do individuo dos seus alunos. E, como essa Malhação está com esta preocupação de destacar as diferenças, os professores da história estão trazendo um olhar muito rico”, analisou.

Nesta missão, Bruno Kott contou que resgatou uma experiência pessoal para a construção do personagem. Apesar de não ser a física a protagonista desta vivência, o ator contou que tem usado de suas lembranças como professor de cinema e teatro para construir o comportamento do personagem de Malhação. “Eu usei um pouco dessa minha experiência e conhecimento dentro da pedagogia para estruturar minha relação com os atores mais jovens que, na novela, são os meus alunos”, disse o ator que, apesar do mergulho no personagem, revelou que esta é uma novidade de apenas dez dias em sua carreira. “Está tudo muito novo ainda e eu não sei onde ele vai fundir todas essas ideias na história. A cada capítulo que chega eu conheço um pouco mais sobre este professor”, disse.

Aliás, mais do que desbravar o universo da física pelo olhar do mestre, Bruno Kott também está tendo a oportunidade de fazer parte de uma atração que é tradicional na grade da Globo. Com 34 anos de idade e o antigo sonho de ser ator, ele está tendo a oportunidade de integrar o elenco de Malhação que, há 20 anos traz a ideia de revelar novos nomes da teledramaturgia nacional. Mas, diferente de como achou no passado, Bruno integra o elenco dos mais velhos, aqueles que já possuem uma bagagem artística para passar para os mais novos. “Eu cresci vendo Malhação e essa sempre foi uma referência para mim, já que desde muito novo eu queria ser ator. Está sendo incrível participar dessa troca de experiências com a mistura de gerações no elenco. É um grande prazer ter essa passagem no currículo, ainda mais em uma temporada tão especial”, comentou Bruno que afirmou estar muito feliz com a oportunidade de tratar da diferença e do respeito com o outro.

Bruno interpreta o professor de física Ernesto em Malhação (Foto: Marko Ganzaro)

Por falar nisso, o engajamento desta temporada de Malhação, que vem acompanhada do slogan “Viva a Diferença”, tem sido o tempero especial deste trabalho para Bruno Kott. Para ele, ter uma atração tão voltada para o debate de gênero, raça e opiniões é uma consequência do jovem de hoje, inclusive o que assiste ao folhetim. “Eu acho que os adolescentes estão cada vez mais conectados com o momento presente. O jovem está ativo na política, nas questões sociais e nas diferenças”, apontou o ator que, mais do que analisar o público desta forma, destacou que o elenco jovem da trama também possui este comportamento engajado por trás das câmeras. “Eles são grandes atores e pessoas muito interessantes. Por isso, o que está sendo discutido na novela só poderia ser levado por jovens que, de fato, fazem a diferença na sociedade”, acrescentou.

E assim, o entretenimento e o tradicional nome da novela na grade da Globo passam a ser as ferramentas para debates e reflexões. “Quando a gente passa a penar nessas questões pelo humor ou de forma mais leve, tudo parece ser bem mais natural. Antes, entreter era fugir de questões sérias. Com isso, a probabilidade de ser viver em uma bolha era enorme. Mas hoje vemos que não precisa ser assim. Você pode, sim, ter leveza e humor e falar de questões importantes e essenciais para a sociedade. Dá para discutir sobre conflitos sérios sem ter um resultado pesado”, defendeu.

Com esta identidade plural, Bruno Kott também segue sua carreira. Assim como na novela teen diversos assuntos ganham espaço no enredo, na vida profissional dele, múltiplas posições dividem o tempo e as habilidades do artista. Em seus anos de profissão, Bruno coleciona experiências como ator, diretor, roteirista produtor a quase milagreiro – por que não? –. Aliás, foi graças a essa mistura potente de ocupações que ele vem conquistando cada vez mais espaço na dramaturgia. Antes de Malhação, Bruno Kott mergulhou em um de seus trabalhos mais complexos e completos. O filme “El Mate” foi seu primeiro longa e oportunidade na qual ele atuou, dirigiu, roteirizou e produziu. Mas, segundo ele, tudo como consequência de uma vocação maior. “Eu comecei trabalhando como ator e sempre foi isso o que eu quis. Na minha profissão, eu trabalho para contar histórias. Mas, em um momento, eu quis começar a poder contar o que eu sentia também. Foi aí que eu comecei a escrever. Porém, nas artes, nada é muito simples e fácil de fazer e, para conseguir pôr essas ideias em prática, me descobri diretor também”, contou.

A parte de produtor e milagreiro entra como consequência deste cenário de desafios. Assim como assumir a posição de diretor foi a estratégia de Bruno para tirar a ideia do papel, produzir em tempos de crise foi quase um milagre das artes. “Este foi o meu primeiro filme e eu parti logo para um longa-metragem. Nós como artistas precisamos criar as oportunidades de trabalho porque só esperar convites é complicado. Então, eu mesmo fui tocando esse projeto, consegui um pouco de recurso e criei um roteiro que foi gravado em apenas dez dias e em uma única locação”, disse Bruno que aprovou a experiência. “Me deu uma sensação muito boa de eu ser capaz. É uma propriedade sobre o meu próprio trabalho”, definiu.

“El Mate” foi um marco na carreira de Bruno Kott por diversos motivos e, inclusive, o mostrou a potência de suas habilidades artísticas (Foto: Marko Ganzaro)

Mais do que esta importância pessoal para Bruno Kott, “El Mate” também tem tido uma repercussão positiva dentro e fora do Brasil. A história, que foi adaptada para uma realidade de baixo custo de produção, conta a história de um assassino de aluguel que, no meio da noite de um crime, recebe uma visita que muda o desfecho da história. “É um matador argentino que sequestra um russo e o leva para um galpão. No meio da noite, um evangélico bate nesse lugar para levar as palavras de Deus. E aí, acontece um gancho e o criminoso e o religioso passam a noite acordados juntos nesse galpão”, contou Bruno que explicou quais foram suas estratégias dramatúrgicas. “Eu sabia que para chamar a atenção do espectador, eu tinha que ter alguns elementos mais pesados. Mas, para contrapor, apostei em uma história com humor e acabou resultando em um mergulho aos filmes do Tarantino”, analisou.

O fato é que toda essa bomba de conhecimento que foi “El Mate” para Bruno Kott agregou muitas questões à vida do artista – inclusive um Kikito pela atuação na categoria ator coadjuvante. Ele, que considerou o longa como sua maior escola profissional, disse que a obra o encorajou a seguir criando, dirigindo, atuando e ocupando qualquer outra posição que sua habilidade lhe permitir. Inclusive, ele se prepara para gravar mais um filme em que assina o roteiro e guarda mais dois projetos autorais para o ano que vem. Fora isso, Bruno Kott ainda segue como ator na profissão que abriu todas essas portas na arte. Nas telonas, ele está no elenco de “Desterro” e “A Cidade Aqui Dentro”. O segundo, aliás, será a sua estreia em um filme todo falado em inglês. “A história é sobre um africano que se muda para São Paulo para encontrar o irmão. E o ator que faz o protagonista não sabe falar português e, por isso, todo o longa está sendo em inglês”, contou.

Na televisão, Bruno Kott completa sua árvore de trabalhos com muitos galhos e raízes com Natureza Morta. A série, que ainda tem Erom Cordeiro e Nanda Costa no elenco, traz o ator como um homossexual personagem do mundo da moda. “O diretor me deu muita liberdade para criar essa pessoa que vai além do gênero e da orientação sexual. É legal quando a gente faz um personagem em que os conflitos não estão ligados a isso”, destacou o ator que na série teve o figurino como aliado. “Eu usava roupas com cores muito fortes, bigode e o cabelo meio louro. Isso me ajudou muito. Eu adoro essa possibilidade de ter várias facetas e tenho a sorte de poder transitar por universos tão diferentes”, comemorou.

Aliás, este é uma euforia que pode ser perigosa quando estamos em um cenário de mudanças e adequações no comportamento, linguagem e abordagem. Apesar de delicado, Bruno Kott acredita que o momento é favorável para se falar de homofobia, preconceito, racismo e feminismo, por exemplo. “É muito interessante quando a gente tem que repensar a sociedade. Não precisamos ver tudo como um policiamento negativo das palavras. É claro que não se pode pecar nisso, mas é importante vermos comportamentos que estão enraizados na nossa cultura e estão se modificando nesse novo cenário. Isso aumenta o nosso vocabulário, reorganiza as ideias e é um caminho de evolução da sociedade”, afirmou o ator Bruno Kott.