Como protagonista da próxima série da Globo, Drica Moraes destaca dificuldade de fazer teatro no Brasil: “É um estado de guerrilha”


Em “A Fórmula”, a atriz interpreta uma cientista que se aplica o resultado de suas pesquisas para prolongar a vida humana e, como resultado, fica com a aparência 30 anos mais jovem. Sobre a possibilidade de voltar no tempo, Drica garantiu não ter vontade. “Deus me livre ter que viver tudo de novo. Se na primeira vez já deu trabalho, para que vou repetir? Não precisa”

Certa vez, o filósofo Arthur Schopenhauer disse que o que faz da juventude um período infeliz é a caça à felicidade. E o pensamento do alemão é compactuado por Drica Moraes, que vive um momento parecido com suas personagens na carreira profissional. Na televisão, a atriz estreia no próximo dia 6 a série “A Fórmula”. Na pele da cientista Angélica, ela aplica em si mesma o resultado de uma pesquisa para prolongar a vida humana e rejuvenesce 30 anos, passando a viver um alter ego batizado de Afrodite. Na trama da Globo, Drica divide a personalidade desta cientista com Luisa Arraes, que dá vida à versão jovem da personagem.

Para “A Fórmula”, as atrizes precisaram desenvolver juntas o comportamento desta personalidade combinada. Mais do que criar uma nova identidade na ficção, Drica e Luisa aprenderam os trejeitos pessoais uma da outra para o resultado positivo obtido na série. “A gente fez uma dobradinha em todos os momentos. Juntas, nós criamos essa personagem na preparação, na sala de ensaios e até em cena. Eu assistia as gravações dela e ela as minhas e nós copiávamos alguns detalhes. Então, foi um trabalho colaborativo bem forte que teve um resultado super parecido na série. Por mais que eu e ela não sejamos parecidas fisicamente, conseguimos fazer com que a personagem ficasse bem igual pelos trejeitos”, explicou Drica.

Luisa Arraes e Drica Moraes em “A Fórmula”, próxima série da Globo que estreia dia 6 de julho (Foto: Divulgação/Globo)

Em “A Fórmula”, a personagem de Drica Moraes ainda tem a questão sentimental. Depois de 30 anos longe do amor de sua vida, Angélica o reencontra e acaba criando uma relação que transita entre as duas aparências, com e sem o efeito da pesquisa rejuvenescedora. Sobre esta possibilidade de voltar no tempo, Drica Moraes garantiu não ter vontade de resgatar o passado. “Eu só faço questão de preservar uma alegria pela vida. Eu quero continuar fazendo tudo com amor e vontade. De resto, eu não voltaria no tempo. Nunca. Deus me livre ter que viver tudo de novo. Se na primeira vez já deu trabalho, para que vou repetir? Não precisa. Eu acho que essa corrida pela juventude é uma perda de tempo. Quando a gente descobre a delícia de cada idade vemos que é tudo muito bom”, disse.

Se na vida pessoal esta é uma questão super bem resolvida para a atriz, na profissional, Drica interpreta mais uma personagem embalada pela questão do tempo e da idade. No teatro, ela nos contou ter um novo projeto de peça. “Também tem a ver com essa loucura das mulheres modernas pela juventude eterna. Foi um texto espanhol que eu descobri que retrata o universo feminino com humor. Na peça, eu abordo esse desespero por ser eternamente jovem em um contexto que nos permite viver infinitas outras experiências”, contou a atriz que celebrou o conhecimento adquirido com o tempo. “Quando nós somos mais jovens, precisamos ser aceitos na profissão, na sociedade, nos gostos… Depois que amadurecemos, eu acredito que a gente passe a gozar mais da sabedoria que não nos obriga a agradar o outro sempre. Nós nos permitimos ser quem nós queremos ser”, analisou.

Drica Moraes como a cientista Angélica da série “A Fórmula” (Foto: Divulgação/Globo)

No entanto, esta não é a única questão atual na vida de Drica Moraes. Para realizar esta peça, a atriz revelou estar se sentindo em um estado de guerrilha. Com o panorama complexo e desafiador que o país vive neste momento de crise, Drica Moraes destacou os desafios de querer continuar trabalhando. “É um estado de guerrilha querer fazer arte neste momento do país em que a cultura está tão desvalorizada. Nós não temos mais teatros, espaços públicos, hospitais e escolas. Os governantes estão abandonando tudo o que é da população, principalmente no Rio de Janeiro. Então, quem está preocupado com a sobrevivência da arte, mora no Rio e tem alguma energia para seguir trabalhando, está pensando em maneiras alternativas para fazer teatro. A nossa missão é tentar tornar acessível e palatável essa expressão artística tão importante”, desabafou.

Para Drica, uma destas alternativas para manter a arte viva no cenário cultural está sendo explorar novos espaços. Longe dos tradicionais e badalados teatros, a atriz contou que vai estrear sua peça na periferia da cidade. Assim, no caminho da artista estão as ruas de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Bangu, como exemplificou. “Eu estou voltando a fazer teatro de rua e reinventando espaços públicos que possam receber peças. Eu estou buscando esse caminho e espero que consiga concretizá-lo. É uma utopia”, disse a atriz que tem mais de 30 anos de carreira na televisão, cinema e teatro e vê neste atual panorama um sentimento de frustração coletiva. “A frustração não é minha, é de todo brasileiro que paga imposto e não tem retorno disso do poder público. É algo coletivo. Porém, mesmo com essa tristeza de ver o Brasil do jeito que está, eu continuo querendo investir minha energia em ideias boas. A gente tem que dar força para o que é positivo e tentar abstrair o que não nos coloca para frente. Então, hoje, tentar fazer esse tipo de teatro é o que me alimenta. É a minha fórmula da juventude”, apontou a atriz Drica Moraes.