Com personagem homossexual, Márcio Kieling comemora sucesso em “Sol Nascente” e fala de intolerância: “Temos que ter direitos iguais para todos”


Em entrevista exclusiva ao HT, o ator não escondeu a felicidade de voltar aos trabalhos na Rede Globo, e adiantou outros projetos – desta vez nas telonas

No ar como o misterioso Bernardo de “Sol Nascente”, Márcio Kieling comemora sua volta aos folhetins da Rede Globo com um personagem que foge totalmente à curva de tudo o que o ator já havia feito anteriormente na carreira. Afinal, o curador de arte é um cara boa praça, casado com outro homem e ainda deixa no ar uma possível aproximação amorosa com Yumi, vivida pela atriz Jacqueline Sato. Bem diferente do esquentadinho e machista Perereca das temporadas de 1999 e 2000, de “Malhação”. Hoje, 16 anos depois, sendo 13 deles longe da emissora, Márcio embarca nos conflitos desse personagem que tem dado o que falar nas redes sociais – e ele se diverte muito com isso. Em entrevista exclusiva ao HT, o ator não escondeu a felicidade de voltar aos trabalhos na antiga casa, além de adiantar outros projetos, desta vez nas telonas.

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“O ator está sempre em busca de grandes desafios, e quando me falaram sobre o Bernardo eu vi que seria um belo papel para ser explorado. É raro a gente ver em novelas um cara homossexual que acaba flertando com uma mulher. É um suposto romance. A gente já viu outros casos famosos como o Matheus Solano, como Félix, em ‘Amor à Vida’ e o Marcelo Serrado, como Crô, de ‘Fina Estampa’. Eram personagens muito caricatos e engraçados, já o Bernardo não dá pinta. Sai desse esteriótipo. Está sendo maravilhoso”, declarou o ator, que também é formando em cinema. Apesar de muito noveleiro, ele confessa que tirou inspirações do cotidiano para realizar o papel. “Adoro assistir novelas, filmes e séries, mas tenho observado o próprio dia a dia. Minha referência vem das ruas”, confessou.

No início da trama, o personagem de Márcio seria apenas uma breve participação, mas o futuro incerto de Bernardo causou curiosidade no público. Animado, o ator garantiu que está curioso para saber qual desfecho o autor, Walther Negrão, dará ao triângulo amoroso. “Eu recebo nas redes sociais comentários de pessoas variados: tem gente torcendo para que ele fique com a Yummi e outra galera achando legal que ele tenha assumido o seu casamento com o personagem do Luka Ribeiro. O bom é que ele abre duas torcidas ao mesmo tempo. O pessoal já está começando a shippar esses casais”, comemorou ele, revelando que acha natural essa mudança de desejos na vida real. “Hoje em dia nada mais me surpreende. Existem muitos casos de gays que também ficam com mulheres e vice e versa. Não acho que seja tão inédito assim”, ponderou.

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Com visual barbudo e grisalho, ele está bem diferente dos tempos em que viveu o adolescente Perereca em “Malhação” – um dos seus personagens de maior destaque. Mesmo após 16 anos, Márcio ainda é reconhecido nas ruas pelo trabalho na novelinha teen. “O grisalho ajuda a dar uma diversificada, conquisto uma gama de papéis maior, permite dar um peso na composição dos personagens e não fazer só o garotão. O Perereca é um marco na minha vida. Trago-o comigo até hoje. As pessoas não esquecem e eu ainda sou parado na rua por conta dele. Sou chamado por “killing”, Marcinho, Perereca ou Zezé di Camargo“, destacou ele, que também interpretou o cantor sertanejo no filme “Dois Filhos de Francisco”.

Curiosos é que Márcio é conhecido também por papéis de vilão, seja no cinema ou na telinha. O que se distancia completamente de sua personalidade. Diferentemente de Perereca, o ator apoia as causas que lutam contra o machismo na sociedade. “Infelizmente, vemos de tudo. Eu, por exemplo, moro no Rio há 20 anos, mas sou gaúcho. Pela minha educação e pela cultura de lá eu me via com pensamentos bastante machistas. Com o tempo fui deixando isso de lado, porque vi que só prejudica a mim e as minhas relações. Mas com certeza, temos que ter direitos iguais para todo mundo: seja para os gays, lésbicas, simpatizantes, homens e mulheres. Afinal, somos todos iguais”, avaliou.

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Ah! E voltando aos trabalhos do ator, ele segue engajado em duas produções cinematográficas completamente diferentes uma da outra. Na comédia “O Último Virgem”, de de Rilson Baco e Felipe Bretas, ele interpreta um delegado linha dura que promete dificultar a vida dos adolescentes presos com alguns comprimidos suspeitos. “É uma comédia deliciosa de quatro adolescente que são amigos e um deles é virgem. A partir daí eles entram em grandes aventuras para que o garoto perca a virgindade”, entrega ele, garantindo ao HT que também aprontou muito durante a juventude. “Normal, como um moleque qualquer. Se não aprontar não fase da vida a pessoa não viveu”, destacou.

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Se em “O Último Virgem” Márcio dá vida a um delegado, em “MAVERICK: Uma Caçada no Brasil de Emiliano Rucshel” ele interpreta um temido traficante de dragas. “Eu faço o traficante Zonta. Ele acaba se envolvendo com as mortes dos usuários e Maverick vai atras dele. Eles acabam se enfrentado. É um filme de suspense e ação”, disse ele, comentando de onde tirou inspiração para o papel. “Minha carreira é meio baseada em personagens malvados. O traficante vem mais na minha linha de interpretação. Peguei muita referência na série ‘Breaking Bad’. Eu sou apaixonado pelas temporadas”, constatou.

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Agora, questionado sobre as atuais ocupações estudantis contra a PEC 241/55 que se espalham pelo país, o ator foi a favor do movimento. “Se o povo não está satisfeito tem mais é que se manifestar, já que os políticos não se esforçam para mudar. Finalmente estamos assistindo algumas prisões de corruptos e apoio essa galera aí. Tem que ir para rua e reivindicar pelos direitos, afinal, são os jovens que receberam esse futuro que estamos construindo. Provavelmente eu estaria envolvido nessas ocupações”, completou.