Com lágrimas nos olhos, Antonio Pitanga, acompanhado de Camila Pitanga, sobe ao palco da 45 edição Festival para receber homenagem


A noite teve também o elenco do filme Pela Janela, uma parceria do Brasil com a Argentina

Antonio Pitanga conta cerca de 70 filmes já realizados (Foto: Edison Vara)

Prepare os lenços, porque foram poucas as pessoas que conseguiram segurar as lágrimas no sexto dia do Festival de Cinema de Gramado. O ponto alto da noite foi quando Antonio Pitanga subiu ao placo para receber o troféu Cidade de Gramado, sendo aplaudido de pé. Depois de receber a estatueta do prefeito do município, João Alfredo de Castilhos Bertolucci, o ator resolveu quebrar o protocolo e chamar sua filha, Camila Pitanga, ao palco. “Paizão, este é o seu dia. Sua trajetória de vida como artista e ‘pãe’ merece todo o reconhecimento, não é à toa que estas pessoas estão te aplaudindo de pé. Fico muito feliz que você possa celebrar isto com a sua outra família, a do cinema, a nossa família”, afirmou a atriz com lágrimas nos olhos. Ela foi diretora do documentário ‘Pitanga’ que conta toda a história do homenageado com a presença de grandes nomes como Caetano Veloso e Chico Buarque. “O filme começou com um desejo de uma filha que admira o seu pai contar a história dele. Só que o mundo mudou, estamos em um país que vive um retrocesso imenso e acho que o longa acabou tendo uma dimensão, uma função e um diálogo diferentes. Estamos falando de um homem que resistiu e resiste através do amor e da amizade. Ele não teve medo de se arriscar e, agora, virou uma luz para nós. É tempo de resistência, precisamos pensar em reconstruir este país, juntos. Te amo acima de qualquer coisa, vou estar sempre te aplaudindo como a menininha de sete anos que ficava nos bastidores te olhando. Você é um encanto”, finalizou Camila.

Antonio Luiz Sampaio adquiriu o sobrenome Pitanga em honra de seu personagem no primeiro filme que fez. Ele escolheu ser ator por paixão e rebeldia, já que a profissão não era bem vista nos anos 60. Com um lenço nos olhos para secar as lágrimas provocadas pelas palavras da filha, o discurso do ícone transpareceu toda a sabedoria e amor que ele tem pelo Brasil. “As pessoas podem descobrir como nós vivíamos na década de 70 conhecendo a história deste festival, são gerações que marcaram o nosso país. Nós entramos aqui e fizemos de Gramado a nossa casa cidadã. A minha trajetória e a do cinema brasileiro se funde com esta cidade. Nesta noite, voltei a ser criança, jovem. Represento neste palco todos os diretores que já passaram por mim. Sou o Brasil de ontem, nervoso, e o de hoje que continua com este sentimento que luta por uma democracia justa. Nós somos contadores de história e fazedores de emoção. O nosso cinema tem um discurso e uma autoria muito original, minha interpretação visceral, emocional e repleta de consciência política”, garantiu Antonio.

Antonio Pitanga quebrou o protocolo e chamou a filha para discursar no palco (Foto: Edison Vara)

Depois de discursos tão marcantes, foi difícil alguém conseguir superar. O longa da noite foi uma mistura dos países Argentina e Brasil. Pela Janela, de Caroline Leone, conta a história de uma mulher que sempre trabalhou em uma fábrica. Depois de tantos anos, ela é demitida e se vê sem rumo na vida. Seu irmão a estimula a embarcar em uma viagem de carro até Buenos Aires e no meio do caminho acaba se esbarrando com ela mesma. “Estive no Festival há 14 anos com o meu primeiro curta. Na época, ganhei um prêmio do júri o que significou muito para mim. Este filme é uma parceria com a Argentina e demorou 12 anos para fazer, porque não é fácil fazer cinema”, relembrou a diretora que comanda o elenco composto por Magali Biff e Cacá Amaral.

Direto de Montevidéu, a produção estrangeira trouxe o terror para as telas de Gramado. A trama de El Sereno, de Oscar Estéves e Joaquín Mauad, começa quando um segurança noturno de um grande depósito começa a escutar barulhos anormais e decide investigar por conta própria o que está acontecendo. “Todos sabem que o processo de fazer um filme é muito longo e complicado. Ter ele terminado e em um festival como este é uma honra. Agradecemos a toda a organização por estarmos aqui”, comemorou Oscar Estéves.

Na categoria de curtas brasileiros, Cabelo Bom, de Swahili Vidal e Claudia Alves, mostra a história de mulheres negras que tentam se enquadrar em padrões estéticos, não expondo sua relação com o cabelo crespo. “A principal mensagem que quero deixar aqui hoje é sobre a representatividade. O negro, hoje, corresponde a 54% da população brasileira, mas não se vê representado nas telas e fora delas. Não há diretores, diretoras, roteiristas e produtores negros. Quando sai da exibição do longa Pitanga senti uma alegria imensa por me ver representado. O curta foi feito graças a uma política pública do Ministério da Cultura dos outros governos que tinha o objetivo de ajudar diretores e produtores negros. É muito importante, desta forma, esses auxílios”, sugeriu o diretor. Ao seu lado, Claudia agradeceu as mulheres que fizeram parte do filme trazendo depoimentos de preconceito, auto aceitação e afirmação. “Este curta só foi possível devido à forte história de três mulheres, totalmente diferentes, mas com muitas semelhanças quando falamos de preconceito e descriminação racial. Através do cabelo e da estética elas encontraram uma forma de lutar e serem vozes”, comemorou Claudia.

O curta Cabelo Bom mostra a representatividade (Foto: Edison Vara)

O outro curta da noite foi #FEIQUE, de Alexandre Mandarino e Pedro Lucas de Castro. A história mostra o universo das redes sociais e como é muito fácil inventar um personagem, uma pessoa perfeita através das telas do computador. “É tão bacana ver algo que começou muito pequeno tomando estas proporções. Foi um filme sem apoio financeiro nenhum, precisamos de muita vontade para fazer”, contou Pedro Lucas de Castro.

O curta fala sobre relacionamentos on-line  (Foto: Edison Vara)