Com enredo feminino ambientado na década de 1930, filme “Entre Irmãs” traz Marjorie Estiano e Nanda Costa como protagonistas de questão contemporânea


Mesmo a obra sendo ambientada há quase 100 anos, o longa não foge dos discursos contemporâneos sobre a mulher e o explora de diferentes maneiras na narrativa. “O filme fala da dificuldade feminina de vencer em uma sociedade tão machista”, apontou o diretor

O cenário é o sertão de Pernambuco e o tempo, a década de 1930. Este é o pano de fundo do filme “Entre Irmãs”, de Breno Silveira, que teve sua pré-estreia ontem como parte da programação do 19º Festival do Rio. Na história, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 12, Marjorie Estiano e Nanda Costa protagonizam as irmãs Emília e Luzia que, com ideais e sonhos diferentes, acabam seguindo caminhos distintos na vida. Enquanto uma é raptada para ser a costureira de um bando do cangaço, a outra parte para a capital pernambucana para se casar e ter filhos na cidade grande. Em comum, o filme de Breno Silveira traz a força dessas duas mulheres em um contexto de feminismo contemporâneo descolado da estética moderna e a relação de amor entre as duas personagens.

Diretor dos filmes “Dois Filhos de Francisco” e “Gonzaga”, Breno Silveira reforça sua identidade de histórias de amor em um trabalho que foi consequência desses dois anteriores. Com uma relação fraternal como norte, “Entre Irmãs” também traz os comportamentos, o sertão e os sonhos no enredo. “A gente estava procurando histórias brasileiras que tivessem laços especiais. Quando eu terminei o filme do Gonzaga fiquei muito interessado na vida de Lampião e comecei a procurar sobre a relação dele com Maria Bonita. Mas, nessa pesquisa, achamos um conto ainda mais bonito. É um romance em que podemos ter a liberdade de contar sobre duas irmãs que foram separadas. Uma é raptada pelo cangaço e a outra parte em busca do príncipe encantado na cidade grande”, contou.

Marjorie Estiano e o diretor Breno Silveira na pré-estreia de “Entre Irmãs” no Rio (Foto: AgNews)

Para os papéis principais, Nanda Costa assumiu a personalidade da irmã que deixa sua casa para seguir com o cangaço e Marjorie Estiano a que busca em Recife a resposta para suas curiosidades. “A Luzia é uma personagem muito forte, linda e corajosa. Ela é destemida e questionadora. E, mesmo ela tendo nascido no mesmo lugar que a irmã e tido a mesma criação, elas são muito diferentes. Essas mulheres acreditam em verdades diferentes e desejam futuros diferentes para si”, defendeu Nanda. Já Marjorie Estiano destacou a inquietude que move sua personagem. “Ela é uma menina do interior do sertão muito curiosa que tem o desejo de conhecer a vida para além dali. Em tudo. Ela quer ter novidades, conhecer um homem para casar e ter filhos e viver em um refinamento. Todos os sonhos dela e o próprio conhecimento sobre a vida é fruto do que ela lê em uma revista. Então, toda essa inquietude faz com que ela queira ir embora”, disse.

Marjorie Estiano é Emília em “Entre Irmãs” (Foto: AgNews)

E nesta ida de Emília para a cidade grande, uma nova personagem é responsável por bagunçar ainda mais as verdades estabelecidas por uma das irmãs. Casada e com filho, ela passa a descobrir um novo sentimento quando conhece Lindalva (Letícia Colin). “A Lindalva segura na mão da Emília e a tira do sufoco que era aquela sociedade pernambucana retrógrada da época. Era uma vida muito cheia de leis e ditadura de comportamentos em que a personagem da Marjorie não se permitia fazer nada do que queria. E então, ela enxerga a Emília em seu potencial humano mais lindo e se apaixona por aquela mulher. A partir daí elas vivem momentos belíssimos da experimentação da liberdade para além dos gêneros”, contou Letícia que, apesar de fazer apenas uma participação no filme, potencializa o discurso do feminino em “Entre Irmãs”. “Em pleno anos 1930 ela já dirige e fala em votar em uma época em que isso nem era considerado. Ela é uma mulher que quer ser feliz e isso é de um poder incrível. Ela tem essa felicidade como meta e vai atrás a qualquer custo”, completou.

Letícia Colin na pré-estreia de “Entre Irmãs” no Rio (Foto: AgNews)

Aliás, esta é outra questão interessante no longa de Breno Silveira. Mesmo a obra sendo ambientada há quase 100 anos, nos anos 1930, “Entre Irmãs” não foge dos discursos contemporâneos sobre a mulher e o explora de diferentes maneiras na narrativa. “O filme fala da dificuldade feminina de vencer em uma sociedade tão machista. É um enredo muito atual porque traz a questão do empoderamento feminino, da mulher no mercado de trabalho e outras questões básicas”, disse Breno. Assim como o diretor, Nanda Costa também comentou da atualidade do trabalho. “Mesmo sendo um filme que se passa nos anos 1930, eu fiquei impressionada como a história é atual. Eu já achava isso quando li o roteiro, mas quando vi o longo pronto percebi que é ainda mais. As personagens são muito modernas porque são íntegras e honestas com seus sentimentos. Elas vão atrás do que querem e acreditam. É um filme de um poder feminino absurdo”, analisou.

Nanda Costa interpreta Luzia no filme “Entre Irmãs” (Foto: AgNews)

E por falar na atualidade, “Entre Irmãs” teve sua pré-estreia ontem no Festival do Rio em um momento de crise na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Em diferentes esferas, a economia, segurança e política tem sofrido com os governos atuais e passados. Mas, para Breno Silveira, voltar a estrear um trabalho em um evento desta tradição, que está em sua 19ª edição, tem um sabor especial. “Estrear no Festival do Rio é uma sensação maravilhosa. Nós precisamos valorizar a nossa cidade. O Rio de Janeiro está merecendo voltar a ser o que era. Este festival é um ícone da programação cultural da cidade e é esperado todo ano há quase duas décadas”, destacou o diretor.

Elenco do longa na pré-estreia de “Entre Irmãs” no Rio (Foto: AgNews)