Brazilian Film Festival: ode a Vinicius de Moraes com show de Toquinho e a consagração em Nova York!


HT confere pessoalmente a chancela de um poeta imortal permeando um festival de cinema e tudo o que rolou durante a mostra competitiva, a premiação e o mega show no Central Park

Acompanho há anos o Brazilian Film Festival of New York – produzido pela Inffinito das irmãs Adriana e Cláudia Dutra + a sócia Viviane Spinelli  – e posso dizer que esta foi uma das mais emocionantes edições, que falou diretamente com os americanos de um jeitinho que eles amam. A homenagem a Vinicius de Moraes (1913-1980) proporcionou a americanos e brasileiros que vivem em Nova York relembrar a obra de um dos maiores ícones made in Brazil.

Vinicius de Moraes é considerado um patrimônio da música brasileira e da poesia. Uniu música + poema com grande propriedade e levou da diplomacia seu jeito suave e comunicativo. Teve muitos parceiros, todos de grandes talentos: Baden Powell, Tom Jobim, Toquinho, entre outros. É um ícone da bossa nova, que estreitando seus laços com Tom Jobim, fortaleceu ainda mais este gênero mundo afora. A bossa nova fez tanto sucesso nos Estados Unidos que, até hoje, até os motoristas de táxi sabem cantar as músicas imortalizadas pelos nomes mais importantes do nosso país.

O festival de cinema brasileiro, que começou com a exibição no Tribeca Cinemas do longa Orfeu” (1999), de Cacá Diegues, terminou com o show do cantor Toquinho, totalmente lotado, no Summer Stage do Central Park, neste fim de semana, em homenagem ao centenário do amigo e parceiro, Vinicius de Moraes. A festa faz parte do projeto City Parks Foundation’s SummerStage in Central Park. Lá mesmo foi coroado o diretor Bernard Arttal, que recebeu em pleno Summer Stage o troféu Lente de Cristal pelo longa A coleção invisível (2013), escolhido pelo público como o melhor da competição. Entre os curtas, o vencedor foi Tempo da Navalha (2013), com roteiro e direção de Guilherme Aguilar e Luiz Ferraz. Ao todo, os americanos puderam assistir 12 curtas e 13 longas brasileiros, sendo nove deles em competição.

Carioca, nascido no bairro do Jardim Botânico, foi diplomata de carreira e atuou como poeta, autor de peças teatrais, escritor e compositor de mais de 250 músicas. Vinicius viveu em uma época mais simples, em que a dialética de quem estudou em colégio de padre e a retórica de quem pertenceu aos quadros do Itamaraty podiam perfeitamente conviver com a boemia notívaga em uma mesa de bar, num período menos politicamente correto, mas muito mais criativo, em que encher a cara e dar baforadas de cigarro era coisa de intelectual descolado. Também era época em que se batia no peito de orgulho por ser amante de muitas mulheres, chegando do badalo com marca de batom na camisa. Em relação às mulheres, o poeta colecionou afetos, casou nove vezes, teve cinco filhos e amou muitas – física ou platonicamente – entre Gildas, Lucianas e Garotas de Ipanema. Com seu parceiro de todas as horas, Tom Jobim, criou a bossa nova e desviou a bússola do mainstream para o Rio de Janeiro.

Com a peça Orfeu da Conceição”, Vinicius de Moraes deslocou de mala e cuia o velho mito grego para a favela carioca, colocando os negros no centro do universo antes mesmo de Martin Luther King e sua moçada pavimentarem os canyons da intolerância racial no árido ambiente social norte-americano. E anos-luz à frente de a Motown de James Brown, The Supremes e Jackson Five democratizar a música pop sem as fronteiras da cútis. Como compositor, soube trazer água de beber aos corações mais empedernidos, se revelando estupefato com crianças mudas telepáticas de Hiroshima ou cheio de preguiça no corpo em uma agradável tarde em Itapoã. Ao falecer em 9 de julho de 1980, deixou saudade, mas não quis saber nem de choro, nem vela.

O filme “Orfeu”, que foi exibido fora da competição em homenagem ao centenário de Vinícius de Moraes, empolgou o público e fez muita gente ficar com os olhos marejados com a história baseada na peça “Orfeu da Conceição”, de autoria do compositor. A noite seguiu com a exibição de “Primeiro Dia de Um Ano Qualquer”, que contou com a presença das atrizes Priscila Rozenbaum e Dedina Bernadelli, além de muitos fãs do trabalho de Domingos de Oliveira.

A estreia do filme SeeWatchLook” – o que você vê quando olha o que enxerga, de Michel Melamed, contou com a presença do diretor e da atriz Bruna Linzmeyer. O filme foi rodado em NY, em 2011, e teve como cenário o High Line Park. Já “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, contou a história de amor entre um militar e um provocativo diretor de uma companhia teatral durante a ditadura no Brasil. “Revelando Sebastião Salgado”, documentário de Betse de Paula, também fez os americanos ajoelharem para o trabalho mágico do consagrado fotógrafo Sebastião Salgado.

Outro destaque da semana foi a presença da atriz Regina Duarte, protagonista do filme “Gata Velha Ainda Mia”, de Rafael Primot. A atriz falou sobre estar de volta ao cinema depois de 18 anos longe das telonas. Os americanos também tiveram a chance de conferir o sucesso do humor brasileiro com o filme “SOS Mulheres ao Mar”, uma divertida comédia romântica, representado no festival pela atriz Fabíula Nascimento. Quem atraiu um público gigante para o Tribeca Cinemas foi Bruno Gagliasso, que representou seu filme “Mato sem cachorro”. E o doc “Cidade de Deus – 10 anos depois” foi devidamente representado pelo diretor Cavi Borges. Destaque para a presença do músico David Byrne na plateia de “Vinicius”, de Miguel Faria Jr. Um dos mais esperados do festival. Coube às filhas de Vinicius, Maria e Georgeana de Moraes, apresentarem o filme. Antes da exibição, um trabalho magistral de edição de Flávia Guimarães, fez uma homenagem à trajetória de Vinicius.

Confira as fotos do que rolou durante o festival de cinema brasileiro no Tribeca Cinemas:

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No Summer Stage, no Central Park, o público conheceu o ganhador do troféu Lente de Cristal, entregue em mãos para o diretor Bernard Attal. Antes do anúncio  dos ganhadores, o DJ Gabriel Muniz arrasou nas carrapetas. Ele é filho de ninguém menos do que o artista plástico Vik Muniz, consagrado em terras  brasilis  e pelo mundo.

Veja as fotos do anúncio dos ganhadores desta edição do BRAFF NY:

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Depois da premiação, o cantor Toquinho subiu ao palco e apresentou o show em homenagem ao centenário do parceiro e amigo, Vinicius. Com lotação máxima – 6000 pessoas – o público foi ao delírio com o repertório de canções que os dois compuseram. No set list, conferido in loco por mim no camarim de Toquinho, “Samba”, “Chega de Saudade”, “Eu sei que vou te amar”, “Insensatez”, “A felicidade”, “Samba pra Vinicius”, “A casa”, “O pato pateta”, entre outras.

A performance de Toquinho no Summer Stage do Central Park:

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Confira as fotos do backstage do show de Toquinho no Central Park, no pós-anúncio dos vencedores do BRAFF NY:

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Nova York – Fotos: Mariana Vianna

E ainda, pelo segundo ano consecutivo, o festival apresentou o Taste of Brazil (Sabores do Brasil). Durante os dias do evento, treze restaurantes da cidade, de diferentes culinárias do mundo, comemoram a cultura brasileira e a sua diversidade gastronômica incluindo no seus cardápios um prato e uma bebida que representam o Brasil. Os restaurantes foram: Plataforma, SushiSamba, Cantine Parisiene, Emporium Brasil, Los Americanos, Organika, Jacques 1534, Botequim, The Diner, Esperanto, Gradisca, Tablao e Rice N’ Beans

Principal patrocinadora do evento, a Embratur, tem levado para todos os festivais a campanha Become One of Us (“Seja Um de Nós”), cujo foco é o estilo de vida dos brasileiros, o aspecto mais marcante do destino segundo os próprios turistas. A campanha une cultura, estilo de vida e futebol dentro do contexto da expectativa para a Copa do Mundo. Agora,o Circuito Inffinito de Festivais segue para Miami!!!!!!