Atriz que interpreta a vilã de Malhação Viva a Diferença, Daniela Galli conta de sua experiência internacional com inúmeras peças exibidas pelos Estados Unidos


No ano que vem, ela pretende trazer a peça The Other Mozart para o Brasil. O espetáculo é um monólogo que teve temporada off-broadway, em Nova York

Daniela Galli vai lançar uma peça sobre Mozart no Brasil. A mesma que ela participou nos Estados Unidos ((Fotos: Patrick Sister)

Uma das maiores vilãs da novela Malhação Viva a Diferença é a personagem Malu. Ela é mãe de Clara, interpretada por Isabella Scherer, e madrasta de Lica, vivida por Manuela Aliperti.  Para o público, é difícil não ficar bravo com as peripécias feitas pela malvada. Quem precisa aguentar todo o ódio da galera é a atriz Daniela Galli, que vive a experiência de fazer alguém extremamente má. “O caráter da minha personagem é unânime: ninguém gosta dela e sabemos que é malvada. Isto é um desafio, porque é uma pessoa muito diferente de mim com atitudes questionáveis. Como atriz, preciso ter consciência de que não posso julgar o papel, de forma a entender os motivos que a levaram a tomar cada decisão, conversando com pessoas que vivem em um universo parecido com o dela. Ao ler o texto, preciso me controlar para não ficar chateada também. Obviamente, as razões dela fazer isto não são reveladas ao público, o que faz a audiência odiar esta vilã ainda mais”, explicou Daniela. A atriz afirmou também que não tem uma preferência pela personalidade do personagem, a ideia é apenas cumprir com o que está sendo proposto. Segundo ela, não importa as características, se a personagem tiver uma trajetória bacana e for bem escrita ela irá apostar naquele papel.

Daniela já trabalhou ao lado de grandes diretores ao longo da sua vida, inclusive, no exterior. Para ela, está sendo uma experiência muito bacana trabalhar com a Globo em uma novela que é tradição na telinha da emissora. “Acho gratificante fazer parte deste projeto, porque é proposto falar do universo jovem com naturalidade, sem mitificar, olhando para estas pessoas com respeito e honestidade. O diretor está conseguindo trazer questões importantes a serem discutidas, que reverberam na nossa sociedade como um todo e merecem espaço por isso. O fato de ser em São Paulo ratifica a realidade cosmopolita e urbana, captando uma variedade enorme de realidades e históricos. Não é à toa que o título seja Viva a Diferença”, garantiu. A atriz elogiou a fotografia da novela que, segundo ela, está mais sofisticada por conta de câmeras dinâmicas que filmam todo o cenário, trazendo uma roupagem mais natural.

Além da experiência de fazer uma vilã da Globo, ela destacou a importância do dinamismo na relação entre os atores mais novos e os mais experientes. A troca de informações e vivências está sendo uma grande oportunidade de aprender ainda mais. “Para a maioria dos jovens este não é o primeiro trabalho, mas a vivência televisiva costuma ser a primeira. Acho que por isto eles apresentam um frescor, uma vontade de fazer acontecer e por isso o resultado está sendo muito bom”, contou. Não são apenas os mais novos que aprendem com os mais velhos, ela destacou a importância da troca que deveria ser regra em todas as carreiras: “O ator aprende sempre, assim como em outras profissões. Com o passar dos anos, vamos melhorando quem somos, ganhando novas características e nos aprimorando. Para os artistas, cada trabalho é um desafio que encaro de uma maneira virgem. A troca com as pessoas é sempre diferente”.

Daniela é a protagonista do primeiro filme da Netflix em parceria com o Brasil (Fotos: Patrick Sister)

Mas as experiências boas não ficam apenas no campo das novelas, na verdade, se intensificaram ainda mais no filme O Matador,  de Marcelo Galvão, que estreia em outubro na Netflix. A atriz Daniela Galli foi a protagonista feminina do primeiro longa-metragem do Brasil em parceria com a plataforma on-demand.  “Como é da Netflix, a forma de lançamento e divulgação é completamente diferente, gerando uma modernidade em cima destes produtos. Este é um filme de faroeste. O diretor trouxe muitas referências americanas, logo, não tem uma necessidade de ser fiel à história do Brasil e do nordeste. Amei fazer o filme por ser uma oportunidade de recriar uma nordestina de 1910”, contou. Para a atriz, o melhor desta produção foi o laboratório que proporcionou a experiência de viver com moradores do interior de Pernambuco. “O laboratório foi sensacional, conheci pessoas de uma cidade muito pequena em Pernambuco. Comi da comida deles, vivi alguns dias como eles e cheguei a matar uma galinha e aprendi como se fazia na época. Isto foi imprimindo conhecimentos e características aplicadas depois na personagem”, relembrou. A experiência foi mais tranquila do que ela esperava pela sua familiaridade com o campo por ter crescido no interior de São Paulo.

O longa foi exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Gramado onde ganhou os prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Trilha Musical. Na coletiva de imprensa que rolou na cidade, o público questionou muito a violência do filme. “A proposta do diretor é ser violento, mas para mim o principal é a relação do pai e do filho e como eles vão mudando depois desta convivência. Depende de cada um como levar esta história. A agressão física pode ser chocante, mas muitas vezes a palavra machuca muito mais”, defendeu a atriz.

Daniela Galli é uma artista repleta de novidades. Neste ano, ela se apresentou em Nova York no monólogo off-broadway, The Other Mozart, de Sylvia Milo com direção de Isaac Byrne, que contava a história da irmã de Mozart. “Foi uma experiência rica e muito gratificante. Estar, novamente, na cidade onde vivi por tantos anos e atuando no off-broadway tem um valor inacreditável, uma experiência profissional e pessoal. Vieram artistas e produtores que eram meus amigos”, relembrou. A atriz sempre quis fazer uma apresentação solo e através da indicação de uma amiga, acabou caindo nesta produção. “Uma amiga tinha me contado que achava esta peça a minha cara, até porque tinha estudado música clássica quando pequena. Entrei em contato com o diretor e falei que estava interessada e me pediu um vídeo de três cenas, em inglês, da peça. Gostou tanto que me convidou para fazer a outra temporada”, explicou. A paixão pela produção foi tão grande que ela pretende trazer o espetáculo para o Brasil, em português. Apesar de ainda não ter uma data definida para a estreia, a atriz acredita que será no primeiro semestre do ano que vem.

Daniela morou por sete anos nos Estados Unidos (Fotos: Patrick Sister Beleza: Titto Vidal Styling: Karen Brustolin Agradecimentos: Hotel Gran Meliá Nacional – Sao Conrado)

O espetáculo é baseado em cartas que a irmã do artista escrevia para ele. Nelas, foi possível identificar conversas onde eles falavam do talento que ela também tinha. A menina era tão talentosa quanto ele, uma verdadeira criança prodígio, no entanto não ficou famosa por ser mulher. “A peça não levanta nenhuma bandeira feminista, mas traz questões do feminino. Ela, como muitas outras mulheres, não pode exercer a profissão que queria, poderia ter aflorado seu lado artístico e aperfeiçoado seu talento, mas isto não aconteceu devido à condição do gênero. Quando criança era lindo mostrar que sabia tocar, mas na adolescência parecia ser exibicionismo. Ela poderia ter optado por fazer concertos, mas não seria paga por isso. A única forma, então, de seguir a carreira era ser rica e nobre, não precisando do casamento para sobreviver”, explicou Daniela sobre as dificuldades daquela época. A ideia é gerar uma empatia dos espectadores pela questão do outro e, a partir dai, contribuir para mudanças de conceitos, comportamentos e valores.

Daniela já havia trabalhado em Nova York antes. Na verdade, ela morou durante sete anos na cidade. Inicialmente, se dedicava a cenografia e, aos poucos, resolveu apostar na carreira de atriz. Ela começou com peças pequenas e, com isso, teve a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que a ajudaram na carreira. Apesar da grande bagagem profissional que ela estava experimentando, acabou retornando ao Brasil para apostar na carreira aqui também. “Sempre gostei de viajar, me interessa conhecer e caminhar. Quando morei nos Estados Unidos comecei a traçar um caminho artístico lá, mas chegou um momento que me deparei com o questionamento se não seria importante criar isto dentro do meu país também. Se eu não me dedicasse a voltar ao Brasil naquele momento, não teria como voltar no tempo depois. Não sabia se era uma boa opção fazer uma carreira apenas no exterior. Simultaneamente, tinha apenas um visto de trabalho, naquela época, o que não me permitia sindicalizar, isto era ruim porque houve momentos em que fazer parte do sindicato de atores era necessário para estar em uma peça. Percebi que haveria obstáculos para o meu caminho ali. Fui embora, mas não deixei de manter o contato com os profissionais que conheci lá, o que me fez voltar agora com a peça do Mozart”, relembrou. Ao retornar ao Brasil, ela se dedicou à televisão, ao cinema e ao teatro.

Enquanto muitas pessoas querem se mudar do Brasil, Daniela resolveu fazer o caminho oposto e voltar para as terras tupiniquins. Com a bagagem que possui no exterior, ela consegue entender todas as deficiências e qualidades do ramo artístico. “Existe talentos em todos os lugares, mas nos Estados Unidos temos um sindicato muito forte. Há também um profissionalismo e seriedade ligados à profissão que facilitam o trabalho. Existe um compromisso com os horários, um respeito com relação à profissão do ator. Nós temos que aprender com o que eles possuem de bacana, mas eles também têm muita coisa para aprender conosco. São aspectos culturais que definem a gente como somos. Por conta da oscilação econômica que temos, conseguimos nos virar. Eles não possuem tanta criatividade como nós temos”, explicou a atriz.