“Amor Sem Fim”: sem Brooke Shields, a nova adaptação do romance para o cinema é capaz de fazer Zeffirelli dar risadas!


Para quê ver na tela grande uma produção tão maniqueísta e sem mojo, se é possível ficar em casa assistindo aos seriados da Sony?

Lançado nos cinemas dia 12, na esteira do Dia dos Namorados, mas eclipsado pela coincidência com a abertura da Copa do Mundo, “Amor Sem Fim”  (Endless Love, Universal Pictures e outros, 2014) é a tentativa de fazer um remake da produção homônima de 1981 dirigida por Franco Zeffirelli a partir do best seller de Scott Spencer. Com nome similar ao de filha de Baby do Brasil, a diretora Shana Feste investe em uma produção insossa, na esteira dos seriados água com açúcar voltados para adolescentes e que invadem a programação da tevê a cabo, em canais tipo a Sony, fazendo a Geração pós-Y suspirar e consumir a “Capricho”. E chega a ser uma surpresa, já que, se é sabido que a atual fornada de telefilmes e séries consegue ser muitas vezes superior àquilo que se produz atualmente em Hollywood, esta realização cinematográfica aposte em mais do mesmo, justo naquela seara déjà vu da produção televisiva que nada acrescenta ao público, na contramão de atrações de prestígio como “House of Cards”, “Downton Abbey”, “Mad Men” e “Breaking Bad”.

Politicamente correto além da conta e tão esquecível quanto um badalo qualquer em um sábado à noite, o longa traz história do amor impossível entre uma menina rica com potencial para se tornar uma grande médica e um pobretão de coração limpo e hormônios minando pelos poros. Gabriella Wilde, a bonitona com jeito de modelo que interpreta a mocinha Jade, tem potencial para ficar associada a refações desastrosas, já que também foi vista recentemente na nova investida do cinema para levar às telas “Carrie”, o clássico de terror escrito de Stephen King. E Alex Pettyfer, o garotão de queixo quadrado que empresta o shape ao mocinho, é tão expressivo quanto um cogumelo. Ele começou no cinema fazendo filmes de aventura teen, como “Alex Rider Contra o Tempo” (Stormbreaker, de Geoffrey Sax, The Weinstein Company e outros, 2006) e, após deixar de ser pirralho, malhar e provavelmente se entupir de Whey Protein, ganhou alguma notoriedade interpretando um aspirante a gogo boy em “Magic Mike” (idem, de Steven Soderbergh, Iron Horse Entertainment e outro, 2012) e, se já foi o quarto colocado na ficção científica “Eu Sou o Número Quatro” (I Am Number Four, de D. J. Caruso, Dreamworks SKG, 2011), deve ser o tricentésimo nono no ranking de piores promessas da Hollywood atual, correndo o risco de precisar sentar em muito sofá para conseguir papeis. Considerando que ele deve estar deitando na fama, nem deve andar caprichando tanto assim no anabolizante porque, afinal, seu abdômen não está tão tanquinho assim nesta sua nova investida. Isso talvez desagrade as menininhas suspirantes da plateia e suas as bees amigas.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Fotos: Divulgação

Obviamente, com uma dupla de protagonistas tão fraca em papeis tão inverossímeis, quem faz a festa são os veteranos coadjuvantes. Joely Richardson funciona bem como a mãe romântica que enxerga emoções do passado na idílica relação entre a filha e o namorado, mas nem de perto esta versão certinha do romance esbarra na inquietação que chega às raias do voyerismo vista na realização de 1981. E o sempre competente Bruce Greenwood empresta sua cara de bem-nascido ao poderoso cirurgião pai de Jade que é contra o relacionamento e faz tudo para que a filha não desperdice oportunidades de vida em prol de um amor de verão. Naturalmente, neste roteiro simplório, a ambiguidade do seu papel é reduzida a patamares maniqueístas, mas, mesmo sem ter massinha de modelar nas mãos, o ator tira leite de pedra e rouba cenas.

Franco Zeffirelli, o renomado diretor que comandou a versão cinematográfica original, nunca foi um grande realizador de filmes contemporâneos, se destacando mais em obras de época (“Romeu & Julieta”, “Jesus de Nazaré”, “Irmão Sol, Irmã Lua”, “Chá com Mussolini”) ou em verter óperas para a sétima arte. Quando enveredou por “Amor Sem Fim”, vinha de um grande sucesso passado em dias atuais, o dramalhão O Campeão” (The Champ, Metro-Goldwyn-Mayer, 1979), com Jon Voight em plena forma, muito antes de se tornar o pai de Angelina Jolie, o garotinho-promessa Ricky Schroder e Faye Dunaway no auge, antes de virar um maracujá de gaveta. Sucesso lacrimogêneo avassalador, este longa-metragem deve ter sido o passaporte para o italiano emendar com “Amor Sem Fim”, se calçando no sucesso momentâneo da ninfeta Brooke Shields, estrela da produção na flor da idade e alçada à suprema it-girl da virada dos anos 1980, desde quando se revelou o conjunto de olhos azuis e sobrancelhas grossas mais surpreendente no cinema desde o advento de Liz Taylor. O resultado, quase tão sem graça quanto esta nova adaptação, foi o início do fim para Shields e praticamente forçou o realizador a se concentrar, nos anos seguintes, naquilo que conhece como ninguém: a ópera. Hoje um senhor idoso de 91 anos, vive em seu home care dentro de sua casa em Roma, já que não pode mais subir as escadas de seu palacete em Positano. E, se viu esta nova versão do romance, deve estar dando gargalhadas.

Trailer (Divulgação)