Marcos Caruso estreia peça com a proposta de refletir a arte contemporânea e reverenciar o teatro: “É um espetáculo instigante, inteligente, reflexivo e, principalmente, divertido”


Sobre o atual momento político, o ator declarou que não é contra e nem a favor. Para Caruso, o mais importante deste cenário é liberdade de reflexão. “Eu acho que estamos vivendo em uma democracia em que pessoas podem divergir de opiniões. E esse é o maior legado de toda essa tragédia que se abateu sobre a política brasileira”

Brilhante para uns e instigante para outros a arte contemporânea é uma verdadeira fonte de debates e reflexões. Com o objetivo de questionar os limites dessas obras, Marcos Caruso estreia o seu primeiro monólogo nesta quinta-feira, 1, no Maison de France, no Rio. Em “O Escândalo de Philippe Dussaert”, o ator investiga e explora as polêmicas que circundam o conceito de arte contemporânea através da carreira de Philippe Dusseart, pintor francês nascido em 1947. Inicialmente, Caruso apresenta a trajetória do artista, que possui como marca registrada as obras que se utilizam dos fundos e cenários de importantes telas, como Monalisa, de Leonardo Da Vinci. Mas, como característica, as pinturas do francês possuem sempre a ausência de figuras humanas. Ao passar dos anos, Philippe Dusseart começa a chamar atenção da sociedade francesa com as suas pinturas que, cada vez mais, passam a ganhar prestígio e espaço no mercado das artes contemporâneas. O ápice da carreira do pintor é alcançado na sua última exposição, quando há uma reviravolta batizada de “O Escândalo Philippe Dussaert”.  Além de propor a reflexão sobre os conceitos desta vertente artística, o texto do francês Jacques Mougenot também é uma ode ao teatro.

Marcos Caruso em "O Escândalo Philippe Dusseart" (Foto: AgNews)

Marcos Caruso em “O Escândalo Philippe Dussaert” (Foto: AgNews)

Em entrevista ao HT, Marcos Caruso contou que foi justamente essa reverência à arte na qual ele atua há mais de 40 anos que chamou atenção para este espetáculo. “Eu me apaixonei, porque o texto é teatro puro. Em cena, há um contador de histórias que fala com a plateia diretamente sobre uma investigação dos pequenos escândalos cotidianos da nossa vida e dos valores que atribuímos a gestos e objetos. E, muitas das vezes, essas situações não valem, de fato, aquilo tudo. Esse espetáculo também fala da avaliação pessoal de como cada um vê uma obra de arte, por exemplo, ou de determinadas coisas que são valorizadas para mais ou  para menos na sociedade. É um espetáculo instigante, inteligente, reflexivo e, principalmente, divertido”, argumentou o ator que foi convidado a protagonizar o monólogo após três amigas assistirem ao espetáculo em Paris, comprarem os direitos autorais e trazerem para o Brasil. “Foram os deuses do teatro que fizeram com que eu encontrasse essas senhoras. Eu fico ainda mais feliz por ter sido escolhido pelo público para fazer essa peça, e não por nenhum diretor ou autor”, completou agradecido.

"É um espetáculo instigante, inteligente, reflexivo e, principalmente, divertido" (Foto: AgNews)

“É um espetáculo instigante, inteligente, reflexivo e, principalmente, divertido” (Foto: AgNews)

Com um texto genial e uma interpretação hipnotizante, “O Escândalo Philippe Dussaert” dispensa grandes estruturas. No palco, apenas Caruso, uma mesa, um banco e uma tela para projeções são suficientes para contar a trama. Não por acaso, o ator contou que o cenário simples completa um dos objetivos da peça, que é reverenciar o teatro. “Quanto menos a pessoa valoriza o que está no palco, menos ela prestigia o teatro. Então, eu acho que o que está em cena tem que ser muito mais importante, mas não no sentido da seriedade. Na minha opinião, esse destaque está relacionado ao gênero teatral. Então, temos que apresentar uma comédia, um drama, um musical importante. Algo que o público sinta que é verdadeiramente teatro, porque as pessoas consomem arte porque acreditam no valor dela”, opinou.

Marcos Caruso (Foto: AgNews)

Marcos Caruso (Foto: AgNews)

Apaixonado pelo fazer artístico, Marcos Caruso também se divide na direção do espetáculo “Selfie”, que reestreia nesta sexta-feira, 2, no Teatro Renaissance, em São Paulo. Com Mateus Solano e Miguel Thiré no palco, a peça é uma reflexão sobre a nossa realidade. “Eu acho que estou fazendo como diretor em ‘Selfie’ e como ator em ‘O Escândalo Philippe Dussaert’ duas peças que são muito contemporâneas. Hoje, não há nada mais atual do que a selfie nesse ambiente de conectividade”, disse Caruso que estreou o espetáculo no Rio há dois anos, mas ainda hoje garante a contemporaneidade do texto. “A peça vem sendo atualizada diariamente, porque essa conectividade está em uma constante evolução, assim como o espetáculo”, explicou.

As telonas também ganham espaço neste momento da carreira de Marcos Caruso. No filme “Desculpe o Transtorno”, que estreia dia 15 de setembro, o ator interpreta o pai do personagem de Gregório Duvivier. No longa, o protagonista vive uma confusão mental entre a personalidade carioca, de fanfarrão e folgado, e a paulista, tímido e careta. “Eu faço o pai paulista desse cara que sofre de um tipo de bipolaridade. Foi incrível e o longa está divertidíssimo”, adiantou.

Se marcar presença em dose dupla no teatro e no cinema simultaneamente já seria de se admirar, Marcos Caruso ainda mostra a sua genialidade na televisão. Em mais uma temporada, o ator estreia em outubro, 15 novos episódios como Seu Peru na “Escolinha do Professor Raimundo”. Com as mesmas figuras que nos divertiram na primeira remontagem, o programa volta com ainda mais força depois do sucesso da primeira leva. “Foi um sucesso extraordinário. Nosso objetivo inicial era fazer uma homenagem ao Chico Anysio e todos aqueles atores. Só que deu tão certo que agora vamos estrear a segunda temporada”, contou animado.

Marcos Caruso como Seu Peru em "Escolinha do Professor Raimundo" (Foto: AgNews)

Marcos Caruso como Seu Peru em “Escolinha do Professor Raimundo” (Foto: AgNews)

Porém, o momento não é só de festa. Em meio a um momento histórico no panorama político do Brasil, Caruso destacou a importância do debate e da reflexão no atual cenário. “Eu não tenho opinião nem a favor e nem contra. Eu acho que o povo brasileiro é quem lucra porque tem a possibilidade de, através de um processo, pensar livremente sobre se é certo ou errado o que ficou decidido. A meu ver, esse livre pensamento foi algo que adquirimos depois da retomada da democracia e isso nós não perderemos jamais. Eu espero”, disse Marcos Caruso que comemorou o fato de podermos ter opiniões diferentes neste momento de crise. “Eu acho que estamos vivendo em uma democracia em que pessoas podem divergir de opiniões. E esse é o maior legado de toda essa tragédia que se abateu sobre a política brasileira”, avaliou o ator Marcos Caruso.