Laila Garin fala sobre a reestreia do musical “Gota D’Água [a seco]”, no Teatro Riachuelo: “Fazer uma peça sem patrocínio também é uma forma de resistência”


Atriz, que também segue no ar em “Rock Story”, comemora volta da peça ao Rio de Janeiro e recorda os tempos de ensaios para mergulhar na obra escrita por Chico Buarque: “Fizemos um estudo intenso sobre a obra. Foram dois meses e meio de muita intensidade”

Uma artista completa! Definição melhor não há para descrever uma atriz que vem de mansinho provando para o Brasil que não existem barreiras quando o talento, a vontade de vencer e a determinação aparecem à frente da vaidade. De quem estamos falando, leitores? Leila Garin, claro! Dona de uma voz que surpreende logo no primeiro acorde, a artista não escode a felicidade de sobreviver daquilo que mais ama na vida: subir aos palcos. Em cartaz no Teatro Riachuelo Rio com o musical “Gota D’Água [a seco]”, adaptação de Rafael Gomes para a obra de Chico Buarque e Paulo Pontes, a baiana de 38 anos concorre em 2017 aos prêmios Cesgranrio, APCA e Arte Qualidade Brasil como melhor atriz em musical. O espetáculo, que estreou em maio no Teatro Net Rio, no mesmo palco da primeira encenação, há 40 anos, fica em cartaz até o dia 19 de fevereiro, na Cinelândia. Em entrevista exclusiva ao site HT, ela falou sobre o mergulho dramático em sua Joana, personagem vivida pela maravilhosa Bibi Ferreira, em 1975.

Laila Garin e Alejandro Claveaux revivem no palco Joana e Jasão (Foto: Divulgação)

Laila Garin e Alejandro Claveaux revivem no palco Joana e Jasão (Foto: Divulgação)

“Desde os meus 16 anos que tinha muita vontade de fazer essa peça. Consegui montá-la na época de faculdade, mas estar em um palco é definitivamente um sonho. Assitia muito as gravações em fita cassete com a Bibi. Eu ficava louca”, recordou a atriz que, ao lado de Alejandro Claveaux pratica uma espécie de dança muito bem elaborada para contar a história conflituosa do casal Joana e Jasão. “A gente tem um trabalho de direção de movimento bem bonita do Fabrício Licursi. Todo o processo de ensaio foi muito corporal. Apesar de ter esse texto rebuscado e ao mesmo tempo tão direto, ele parece coloquial. Fizemos um estudo intenso sobre a obra. Foram dois meses e meio de muita intensidade”, disse. Agora, apesar de ser um texto antigo, ela acredita que a questão sobre a posição feminina no mundo continua em pauta. “A representatividade da mulher dentro dessa peça continua atual. Uma mulher sozinha na sociedade ainda é uma questão. A mulher pode, sim, ser feliz sem um casamento”, declarou.

Como o “a seco” do título já indica, a montagem busca chegar à essência da história, através dos embates entre os protagonistas, ainda que outros personagens do original também apareçam na adaptação. Mesmo com parte da trama sociopolítica reduzida na versão, a atriz ressaltou o friozinho na barriga de tocar o projeto em um teatro maior e com elenco reduzido. “Fizemos uma pequena turnê que passamos por lugares como Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte. Confessa que na minha terra fiquei bastante ansiosa, sabe? A gente tinha dúvida se a montagem iria funcionar em casas maiores, porque estreamos no Net Rio e agora viemos do FAAP, que é ainda mais intimista. Nós ganhamos sutilezas, mas tínhamos dúvidas se iria chegar no público. Parece que a intensidade foi a mesma. Dá um alívio. Queria muito voltar ao Rio”, comemorou.

A peça baseada na obra de Chico Buarque está em cartaz no Teatro Riachuelo Rio (Foto: Divulgação)

A peça baseada na obra de Chico Buarque está em cartaz no Teatro Riachuelo Rio (Foto: Divulgação)

No entanto, apesar da boa receptividade do público e dos cumprimentos da crítica, o espetáculo segue em cartaz no Teatro Riachuelo Rio sem qualquer tipo de patrocínio. Desafio maior, no ponto de vista da atriz, que é vencido através do amor incondicional pela arte. “Se a gente não fizesse assim, ele não aconteceria. A gente tem a parceria com o teatro e acreditemos nesse projeto. As pessoas saem muito tocadas das apresentações. A gente sabia que tinha muita chance de dar certo. É tudo no amor. Por isso nos arriscamos. Mas, logicamente, a gente espera que apareça um patrocinador. Ainda temos fé”, revelou ela, comentando sobre as dificuldades que a classe artística tem enfrentando em tempos de crise. Assunto pertinente, já que o texto de “Gota D’Água [a seco]” também carrega em sua essência um forte cunho político.

“Não sou boa de discurso, porém essa peça fala muito de todas essas questões. Jasão deixa sua classe e seus amigos para subir na vida, ambição todo mundo tem que ter, mas ele perde a ética e esquece de onde veio. Acho que a analogia é essa. Estar aqui fazendo uma peça sem patrocínio também é uma forma de resistência. Conversando com amigos eu imaginei como seria se todos os artistas promovessem uma greve geral. Como seria acordar, ligar o rádio e não ouvir música? Ligar a TV e não ter novela ou um livro para ler? Como seria a vida sem arte? São questões a serem pensadas. No entanto, a gente também precisa acordar e se preocupar com a educação e a violência que está absurda no país. A minha resposta vem da arte”, avaliou pertinentemente a atriz.

gota d'água

laila da vida a Joana, personagem vivida por Bibi Ferreira (Foto: Divulgação)

Laila Garin sempre teve a carreira teatral atravessada pela música, seja em shows paralelos ou na série de espetáculos musicais que protagonizou. Após ter iniciado a vida artística em Salvador, sua cidade natal, ela se mudou para o São Paulo e trabalhou com Luiz Carlos Vasconcelos, a Cia. Piolim, antes de ficar por sete anos na Casa Laboratório, dirigida por Cacá Carvalho e a Fondazione Pontedera. Após o período na capital paulista, fixou residência no Rio de Janeiro, onde estrelou “Eu Te Amo Mesmo Assim” (2010). Agora, sua recriação do mito Elis Regina em “Elis – A Musical” (2013) provocou um verdadeiro fenômeno teatral de público e crítica, coroado com todos os principais prêmios de atuação do País.

“Foi uma peça que atingiu um público muito grande, mudou a minha vida completamente e me deu a possibilidade de escolher os meus projetos” disse ela, que só agora tomou coragem para cantar sem estar por trás de nenhum personagem. “Esta é a primeira vez que terei um trabalho musical isolado do teatro. Já gravei oito músicas. Em abril lanço meu CD”, adiantou ela, que já liberou a lista de apresentações. “Vamos fazer shows no icônico Beco das Garrafas, em Copacabana, todas as quinta até o Carnaval. Já no dia três de fevereiro a gente abre o show de Elza Soares no Circo Voador”, contou.

A atriz no musical "Elis - A Musical" (Foto: Divulgação)

A atriz no musical “Elis – A Musical” (Foto: Divulgação)

E os trabalhos não param por aí. Laila ainda segue na telinha da Rede Globo, em “Rock Story”. A personagem, que também se chama Laila, é ex-namorada de Gordo (Herson Capri), o dono de gravadora da novela. Curiosamente, ou não, as duas cantam e encantam, mas as comparações acabam por aí. “Tem uma música minha na trilha da banda. Eu estou super feliz, a televisão não é um o lugar onde eu me sinta mais à vontade como no teatro, mas ainda estou aprendendo. A personagem é meio ambígua. A gente não sabe se ela presta ou não. É uma mulher que tomou muita porrada da vida, tiraram tudo o que ela tinha, e agora está tentando se reerguer”, completou.

Laila Garin tsambém segue no ar em "Rock Story" (Foto: Divulgação)

Laila Garin também segue no ar em “Rock Story” (Foto: Divulgação)

Serviço

Teatro Riachuelo
Rua do Passeio, 38/40 – Centro

De 6 de janeiro a 19 de fevereiro
Quartas e sextas, às 20h30. Domingos, às 17h.
* Na primeira semana, excepcionalmente, teremos sessões de sexta a domingo. Ou seja, dias 6, 7 e 8 de janeiro. Dias 6 e 7 (sexta e sábado), às 20h30. Dia 8 (domingo), às 17h.
Ingressos:

Semana de 6 a 8 de janeiro (sexta a domingo):
Plateia VIP – R$ 100
Plateia e Balcão Nobre – R$ 80
Balcão Simples – R$ 50

Da segunda semana até o final da temporada:

Quartas-feiras
Plateia VIP – R$ 80
Plateia e Balcão Nobre – R$ 60
Balcão Simples – R$ 20

Sextas e Domingos
Plateia VIP – R$ 100
Plateia e Balcão Nobre – R$ 80
Balcão Simples – R$ 50