Há sete anos fechado, Teatro Villa-Lobos ganha a atenção da classe artística em uma manifestação pela reconstrução do espaço público: “Não podemos ter preguiça de sair de casa”, disse Rita Elmôr


A atriz, que é uma das organizadoras do movimento, contou que ontem, antes da passeata, a porta do tapume que cobre a frente do teatro estava aberta. Quando entrou, Rita se disse surpresa com o que encontrou no lugar dos palcos e cadeiras. “Foi um choque. Tinha água parada com larvas de aedes aegypti, vidro quebrado, teto com risco de desabamento e uma mata enorme”

Entre Copacabana e Botafogo, no Rio de Janeiro, um tapume passou a fazer parte do cenário dos cariocas. Há sete anos, o Teatro Villa-Lobos fica escondido atrás de uma placa de madeira depois que um incêndio destruiu parte do imóvel. Mas, ontem, um movimento organizado pela classe artística carioca começou a querer mudar isso. Do Teatro Princesa Isabel, o grupo seguiu pelas ruas de Copacabana até o Teatro Villa-Lobos para chamar atenção para o abandono do espaço público. “Foi muito especial. Nós marchamos pelas ruas com cartazes e faixas pedindo explicações dos órgãos públicos. Por todo esse trajeto que fizemos, carros que passavam buzinavam e acenavam nos dando apoio”, contou Rita Elmôr, uma das organizadoras do movimento.

Manifestação pela reabertura do Teatro Villa-Lobos ontem em Copacabana (Foto: Reprodução)

De acordo com a atriz, após o incêndio do Teatro Villa-Lobos, há sete anos, um seguro foi pago para a reconstrução do espaço. No entanto, nada foi feito. E ontem, coincidentemente ou não, Rita viu que a situação é ainda pior. “Quando eu e os outros organizadores da manifestação estávamos indo para o ponto de encontro, passamos pelo Villa-Lobos e a porta no tapume estava aberta. Não parecia que tinha sido arrombada, mas não sabemos quem abriu”, contou a atriz que se assustou com o que viu lá dentro. “Foi um choque. A gente não imaginava que estava em uma situação tão ruim. Tinha água parada com larvas de aedes aegypti, vidro quebrado, teto com risco de desabamento e uma mata enorme. Não tem mais nada lá. Virou um espaço de cimento abandonado. Foi um soco na minha cara”, disse a atriz que depois visitou o local com os manifestantes.

Entre os que estavam por lá, diversos sentimentos costuraram o encontro de ontem, segundo Rita Elmôr. No entanto, para ela, a principal sensação com essa experiência foi a de abandono e reflexo de tudo o que o Rio de Janeiro vem vivendo nos últimos tempos. “O Teatro Villa-Lobos revela a maneira que a arte é tratada pelos gestores da cidade e do estado. Quem poderia estar fazendo algo por nós, não quer. E isso não é de hoje. O teatro já está abandonado há sete anos e nada nunca foi feito”, destacou a atriz que, neste primeiro momento, quer entender o que foi feito com o dinheiro do seguro que seria para a restauração do teatro. “Eu estou muito curiosa para saber para onde foi esse dinheiro, quem pegou e quanto foi. O que nós já sabemos é que foi feito um orçamento de R$ 60 milhões para a reconstrução do teatro e foi negado. Mas não precisa disso tudo. É melhor fazer um espaço menor, porém que funcione, do que remontar toda a grandiosidade que um dia já foi o Teatro Villa-Lobos”, comentou.

Classe artística carioca reunida pela reabertura do espaço público (Foto: Reprodução)

Porém, por enquanto, Rita e a classe artística carioca não tiveram nenhuma resposta dos órgãos responsáveis pelo espaço. Segundo ela, desde quando a manifestação começou a ser organizada até o dia seguinte da passeata, nada foi dito. “Eu confesso que até esperava que alguém aparecesse por lá. Mas o que tivemos foi um silêncio total”, afirmou a atriz que também não achou nenhum esclarecimento no passado sobre o dinheiro recebido pelo seguro. “Não tem nenhuma explicação. Isso é uma lacuna nessa história”, reforçou.

Por tudo isso, a luta e o coro pela reconstrução do Teatro Villa-Lobos só tem ganhado mais força. Na manifestação de ontem, nomes como Drica Moraes, Zezé Polessa e Daniel Dantas se juntaram a diversas gerações de artistas para jogar luz sobre a situação. “O sentimento que dá é de que a situação está chegando em um ponto tão catastrófico que essa nossa união é a única saída. Pelo menos estamos vivendo esse fortalecimento da classe artística. É a única coisa positiva nisso tudo”, comentou Rita Elmôr que ainda destacou que esta é uma luta que já ultrapassou a categoria. “Os cidadãos cariocas também querem isso. A população está acreditando que o ativismo neste momento pode fazer a diferença. Não podemos ter preguiça de sair de casa para defender nossos direitos. Eu sei que dá trabalho, toma do nosso tempo e gasta muita energia. Mas é eficaz e necessário”, defendeu.

Teatro Villa-Lobos. 😭

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Esta postura de hoje apontada por Rita Elmôr, é, inclusive, uma consequência de muitos aos de população acomodada. “Não pode ser tão fácil para esses políticos fazerem o que sempre fizeram. Por muito tempo a gente esteve de braços cruzados vendo tudo isso. Agora temos que mudar. Neste caso do Teatro Villa-Lobos, temos que saber quem pegou esse dinheiro do seguro e o que foi feito. Senão, daqui a pouco vão construir um prédio ou uma igreja em um terreno que é da cultura”, argumentou.

A atriz ainda lembrou que o Villa-Lobos faz parte de uma lista de 30 teatros fechados no Rio. “Isso impacta em todos os sentidos a nossa vida. Cada vez mais nós temos menos opções de teatro e, com isso, estamos vendo o público se afastar dos espetáculos. Não podemos permitir isso. O teatro revitaliza um bairro, traz movimento de gente, segurança e ilumina a rua. Tirar um teatro da cidade é prejudicar toda uma população. A arte traz saúde para as pessoas. Uma cidade sem teatro tem uma sociedade mais doente e violenta. E isso fica claro quando olhamos para a situação do Rio de Janeiro”, disse.

Mas ela não desiste. Aliás, Rita Elmôr e a classe artística resistem – ainda mais neste momento. O porquê, a atriz demorou para explicar. Porém, depois, contou a razão de levantar todos os dias da cama querendo mudanças. “Eu acredito na arte como um meio de transformação pessoal e social. Para mim, é através da arte que a gente consegue alcançar outros níveis de percepção da vida. A cura está nessa expansão do olhar”, completou Rita Elmôr.