Fomos à estreia de “Os realistas”, espetáculo com quarteto poderoso de atores, que mistura comédia e dilemas existenciais no palco


Em cena, Mariana Lima, Fernando Eiras, Emílio de Mello e Débora Bloch – que também assina a produção do espetáculo, lançam luz, a partir da convivência de seus personagens, em questões profundas da existência humana. “O que eu mais gosto é essa questão entre o humor e o drama”, declarou Débora

Do humor à tensão e da reflexão sobre temas existenciais à comédia de quem ri de si próprio. Essa seria a definição dos sentimentos que Débora Bloch, Mariana Lima, Fernando Eiras e Emílio de Mello despertam no palco do Teatro Poeira em “Os realistas”. O texto, tradução de “The realistic joneses” do dramaturgo americano Will Eno, conta a história de dois casais de vizinhos que descobrem que tem mais em comum do que o sobrenome Silva e que, ao lidar com a possibilidade da morte de um deles, começam a, juntos, refletir sobre casamento, medos, fraquezas, amor, vida e morte.

Com a direção talentosa de Guilherme Weber, que já tem intimidade com o universo do autor – foi ele quem mais encenou Will Eno no mundo – os quatro atores mostram, a partir da convivência de seus personagens e dos laços que criam, que nem tudo é o que parece ser. “Eu gosto exatamente disso, do lugar que essa peça ocupa entre a comédia e o drama. Poder rir de situações que deveríamos estar chorando ou chorar de coisas engraçadas é um bom exercício para o ator e para a plateia, para ver que coisas dramáticas são engraçadas também. O texto é muito rico nesse sentido. É uma montanha-russa que sobe e desce várias vezes e dá vários loopings”, definiu Mariana Lima.

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Emílio de Mello, Débora Bloch, Fernando Eiras e Mariana Lima abordam questões existenciais no palco (Foto: Divulgação)

Débora Bloch se apaixonou por “Os realistas” há cerca de dois anos, durante uma viagem para Nova York e mergulhou de cabeça na produção do espetáculo. “Eu amei o texto. Primeiro porque é bom para os atores jogarem em cena e é original, junta humor com assuntos densos. Achei essa mistura do humor com reflexão interessante. Assisti em Nova York e a plateia ria muito e, ao longo da história, vai se emocionando, acho isso muito bonito”, contou. Falar do passar do tempo, da solidão, de dilemas existenciais e outras questões profundas é um desafio. E na vida real, Débora está mais para a distração e leveza de sua Pônei ou para a densidade de Júlia (personagem de Mariana Lima)? “A peça mostra dois casais em momentos diferentes, mas passando pelas dificuldades de todo casamento. Eu acho que sempre que nos relacionamos com alguma profundidade, essa fase existe. A não ser que nos relacionemos superficialmente. Eu sou mais densa, mas estou melhorando com o tempo. Sou realista. Meu objetivo é ficar mais Pônei”, confessou.

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Em cena, os atores interpretam dois casais de vizinhos (Foto: Reprodução/Leo Aversa)

Seus momentos reflexivos surgem quando ela diz que o presente é tudo o que temos. “Quando você perde alguém próximo ou alguém fica doente, isso sempre traz questões mais densas do tipo ‘podia ser comigo’. Aí percebemos que a vida é por um fio e temos que usufruir do presente, porque não sabemos o que será amanhã”, disse ela, que ama transitar entre os gêneros. “O que eu mais gosto é essa questão entre o humor e o drama. Estávamos ensaiando 12 horas por dia sem público, mas vamos descobrindo a peça quando os espectadores chegam. Como tinha visto a original, achei que no nosso espetáculo iam rir menos, mas, para nossa boa surpresa, riram muito. Tem esses dois momentos, o que é muito legal. As pessoas começam rindo, se divertindo, acho que se divertem até o fim, mas levantamos questões densas também”, analisou.

Longe dos palcos desde o sucesso de “Brincando em cima daquilo”, em 2008, a atriz justificou o tempo afastada: “É muito dificil encontrar um bom texto que vale produzir, porque está muito complicado. Eu ia até fazer uma peça há uns três anos que não consegui levantar produção e, nesse meio tempo, descobri esse texto. Por algum motivo, consegui levantar essa antes da outra”, contou. Ela, que assume a produção de seus trabalhos desde a década de 80, confessou que o desafio tem sido cada vez maior: “Tem menos gente investindo em teatro, não temos um governo que valoriza a cultura e estamos num período de recessão brava, quem sofre com isso é o teatro. As artes, no geral”, declarou.

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Júlia, João, Pônei e José são personagens com fraquezas, medos, sonhos e amores (Foto: Divulgação)

Se na história de Eno os personagens campestres são vizinhos, a pergunta não poderia passar: que tipo de vizinho os intérpretes são? Débora garantiu: “Eu sou boa vizinha. Não encho o saco de ninguém. Faço festa às vezes, mas mando cartinha pedindo desculpas e explicando. Sempre moro em prédios com vizinhos amigos”, contou. Já Mariana Lima revelou uma feliz coincidência: “Eu tenho uma relação de porta com o Emílio (de Mello). Ele é meu vizinho da frente. Foi tudo lá em casa. Basicamente tínhamos um belo background para fazer essa peça”, entregou. Não que precisassem de mais.

Serviço:

Teatro Poeira

Rua São João Batista, 104 . Botafogo . Rio de Janeiro

14 de janeiro a 27 de março

Quinta a sábado as 21:00

Domingo as 19:00
Telefone: (21) 2537-8053