Exclusivo: Leo Fuchs, um dos grandes nomes da produção teatral no Brasil, fala sobre o sucesso e garante: “Minha maior função é fazer o público feliz”


Ele, que já ganhou prêmios na carreira e, atualmente, tem quatro peças em cartaz, acredita que o as grandes plateias que conquista são fruto de um trabalho apaixonado

Fazer teatro no Brasil não é fácil. Ser considerado um dos maiores produtores é, portanto, fruto de grande dedicação e carisma. E isso, Leo Fuchs tem de sobra. Apaixonado por artes cênicas desde pequeno é, atualmente, o homem por trás de grandes montagens como “Meu passado não me condena”, com Fernanda Souza, “Deixa solto”, com Marcos Mion, “É o que temos pra hoje”, com Marcelo Serrado, “Verticalmente Prejudicado”, com o Gigante Leo,  e “O grande amor da minha vida”, com Thiago Martins e Fernanda Pontes. E ele toca tudo isso ao mesmo tempo. Dificuldade? Para Leo, não.

“Faço loucuras. Às vezes chego a tirar cerca de 80% do meu bolso. Se esperar sair o patrocínio eu morro de fome, porque vivo de teatro. Amo a lei Rouanet, tenho patrocínio do Bradesco Seguros, mas o processo de captação demora, perde-se dois ou três anos. Não gosto de ter projetos e ideias. Quero realizar, já sair da reunião com data de estreia, com ou sem dinheiro”, disse. Para isso, conta com muita ajuda de pessoas que considera essenciais. “Tenho um time. Luciana Vieira e Daniele Nascimento são meus braços direitos. A equipe de trilha, os iluminadores, todos estão comigo sempre. Eles conhecem a versão Leo pobre e rico”, brincou.

A paixão pelo teatro vem de garoto. Ele, que começou a carreira como ator e, como muitos, se produzia para estar em cena, não imaginava que seria tão reconhecido por trás dos palcos. “Desde pequeno sempre gostei de atuar, só que era muito distante na minha vida. Era um universo desconhecido para todos da minha família, meus pais tinham um medo legítimo de quem não conhecia nada do meio. Um dia, uma prima me levou para assistir ‘Confissões de adolescente’ e eu saí do teatro encantado. Vi a peça 49 vezes. Seis anos depois a vida virou e entrei para o elenco. Na verdade fiz assistência de produção, só subia ao palco de vez em quando”, contou.

Fernando Gomes, produtor do espetáculo na época, o apadrinhou e, aos 16 anos, Leo já viajava em turnê com a peça. “Me achava Beatles. Meu mestre Domingos Oliveira falava que o ator tinha que aprender a se produzir para sobreviver. Parar de ficar em casa reclamando, esperando passar em teste e fazer o telefone dos outros tocarem”, disse. E assim ele fez. Aos 19 anos e cheio de coragem, encarou sozinho a produção de “Os melhores anos de nossas vidas”, onde conquistou amigos para a vida – incluindo Fernanda Souza, atriz com quem mais trabalhou até então. “Foi uma experiência incrível. Eu era chefe de 23 adolescentes, alguns mais velhos do que eu e também estava no elenco. Aprendi muito e depois disso, fiz vários espetáculos atuando e produzindo”, contou.

Multitalentoso, acabou deixando o que era sua prioridade em segundo plano. “Me chamavam muito para produzir e eu entrei em crise. Só fazia isso para estar em cena, queria ser ator. Até o dia que eu decidi que tinha uma missão: sobreviver como artista até o fim da minha vida. A partir daí, comecei a abrir meus horizontes”, relembrou ele, que deu aulas, escreveu roteiros, foi assistente de direção e fez adaptações de histórias famosas – entre elas, “Chapeuzinho Vermelho e o valor de um sorriso”, uma homenagem ao dentista e amigo Fabio Nicoletti. A montagem, que fala sobre saúde bucal de forma lúdica para crianças, chega em sua terceira temporada em 2016. “Foi aí que eu vi que sabia e gostava de produção e resolvi me diferenciar. Faço com arte, não foco em números. Se precisar eu dirijo, vejo cenários, tudo. Sou artista, me viro”, garantiu.

O espírito alegre e realizador também rendeu ao produtor fama de grande festeiro. Ele, que recentemente movimentou a cidade com sua comemoração repleta de famosos, contou que adora uma boa reunião com os amigos. “Eu estou sempre inventando uma festa. Esse meu último aniversário foi um sonho. Uso minha produção para isso, crio grupos, chamo, ligo, faço tudo. Acho que as pessoas gostam, porque eu não falo para os paparazzis e nem vendo para revistas. Todo mundo pode beber, ficar de porre, beijar na boca e fica tudo entre amigos”, riu. A lista de amigos, aliás, conta com famosos como Bruno Gagliasso, Fernanda Souza, Fernanda Paes Leme e muitos outros, mas nada disso o deslumbra. “Eu trabalho no meio há 20 anos. A maioria conheço antes mesmo de estourar. Posso até falar com muita gente, mas amigos são poucos e eu dou valor para cada um”, afirmou.

Realizado no que faz, Leo abriu o próprio negócio. A Twogether Teatro, parceria com Mauro Lemos, une “seu espírito mambembe”, como faz questão de dizer, com a disciplina do sócio. “Ele tem um agenciamento de famosos e nós dois juntamos forças para essa empresa de teatro”, explicou. Sala de trabalho, rotina, funcionários, reuniões e horários eram algo distante em sua vida e até hoje Leo confessa não ter se acostumado totalmente, mas reconhece: a produtividade aumentou muito. “Tento manter a rotina de escritório todos os dias, mas sou da rua. Meu sócio fica lá e eu viajo, trago clientes, faço o lobby. Para mim, trabalhar de segunda a sexta em horário comercial não funciona. Me pego as duas da manhã respondendo mensagens. Sou workaholic”, garantiu.

Com o sucesso na carreira, a vontade de atuar ficou para trás. “Sou tão grato à produção e ao que ela me proporcionou, que se me chamassem para uma peça ou novela eu não iria. Atuar me ajudou como produtor. Sou mais cara de pau, encaro personagens do dia a dia, enfrento mil leões. Fazer teatro é difícil, no Brasil é loucura e sem patrocínio, só os deuses do teatro para ajudar. Mas nós caímos, levantamos e fazemos o que amamos”, disse ele. “Fazer o que ama” já lhe rendeu, inclusive, o prêmio de melhor produtor de teatro do Brasil no Festival Internacional de Teatro de Angra. “Foi o momento mais feliz da minha vida. Eu estava concorrendo com ídolos, como a Maria Siman. Nunca pensei em ganhar, tanto que fui sozinho. Quando vi meu nome e recebi o prêmio não tinha ninguém na plateia”, lembrou, aos risos. A primeira providência? Contar aos pais! “Passei em casa com o troféu e minha mãe chorou. Eu trabalho com amor, com coração, verdade, vontade, sou guerreiro, faço tudo um pouco, não tenho ego, glamour, nada. Quero fazer o público feliz. Minha maior função é ver a plateia se emocionando e rindo”, declarou.

Família, aliás, é um capítulo à parte em sua vida. Os pais, antes receosos, hoje são só orgulho do sucesso do filho. “Eles tinham medo e hoje são mais tranquilos. Não sou mais uma criança cheia de sonhos, sou um adulto realizando. Eu amo meus pais mais do que tudo nessa vida. Até hoje ter eles na plateia me deixa nervoso, fico olhando as reações e amo ouvir a opinião deles quando acaba a peça. Sou orgulhoso por, através da minha arte, realizar meus sonhos e vê-los felizes. Os dois vão a todas as minhas estreias. Minha mãe brinca que ela quem é a produtora. Quando comecei, ela passava roupa do ator e tudo. O time vem de casa”, contou.

A humildade – mesmo após tanto sucesso, vem do mesmo lugar. “No teatro, o trabalho não acaba quando a gente conquista algo. Não é porque tenho produtora que cheguei ao topo. É artesanal. Não podemos perder a essência. Eu amo filipetar, ver o rosto do meu público, buscar as pessoas”, afirmou. As críticas, de acordo com ele, também são importantes para seu crescimento. “Eu fico triste, claro, porque trabalho com muito amor. Mas uso ao meu favor. Já tive espetáculos que eram fracasso e viraram sucesso porque eu ouvi as pessoas e mudei. É muito importante assumir que não sabe, pedir ajuda e aceitar opiniões, mesmo quando não gostamos delas. Estamos aqui para aprender”, discursa ele, que tem seus gurus: “As pessoas que eu mais ouço na vida são meu sócio, meus pais e meus amigos Bianca Abbas, Fábio Nicoletti e Bruno Gagliasso”, garantiu.

Não foram apenas a humildade e o profundo amor pelo que faz que fizeram com que Leo alcançasse o estrelato. Algumas outras características são essenciais para um bom produtor: “Honestidade, garra, ser sonhador e, principalmente, ser realizador”, enumerou. Alguém ainda tem dúvidas do motivo de tanto sucesso?