Entre as artes plásticas e o teatro, Analu Prestes reestreia peça e comenta cenário de crise na cultura carioca: “Não adianta eu ficar deprimida em casa”


A artista está em cartaz no Teatro Sergio Porto, no Humaitá, com o espetáculo “Um Dia Como Os Outros”. Com texto francês dos anos 1990, ela interpreta uma mãe que, de acordo com Analu, é atual até hoje. “Família é uma coisa que é igual em qualquer tempo e em qualquer país. Sempre tem uma mãe superprotetora”

Sua mãe é daquelas que te ama, mas adora se meter na sua vida? Pois bem, essa também é a personagem de Analu Prestes em “Um Dia Como Os Outros”. O espetáculo voltou em cartaz depois de sete anos no Teatro Sérgio Porto, no Humaitá, onde fica até o dia 10 de abril, com a história de uma família bem tradicional. Na peça, um encontro de rotina vira uma briga, mas depois tudo acaba bem no texto de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri. “Ela é uma mãe bem tradicional que ama os filhos, mas entra como um trator na vida deles. Aliás, como a maioria, né? Essa é uma peça que o público se identifica muito com os personagens e isso é bem legal”, contou Analu Prestes que completou sobre a personalidade de sua personagem na obra. “Ela é meio sofisticada e metida a besta e queria que a filha seguisse o padrão dela. Mas a menina é rebelde e meio irreverente”, acrescentou.

Ao seu lado, Analu tem um elenco de peso e de amigos. Além dela, Bianca Byington, Silvia BuarqueFlavio Pardal, Leandro Castilho e Marcio Vito e Alexandre Dantas revezando no outro papel. Com esse time, “Um Dia Como Os Outros” conta uma história que não tem época e nem lugar para ocorrer. Prova disso é que a obra de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri é dos anos 1990 na França. “Família é uma coisa que é igual em qualquer tempo e em qualquer país. Sempre tem uma mãe superprotetora ou um marido que não acompanha a modernidade. A minha personagem é uma mãe que tenta reproduzir a sua época nos moldes modernos. É verdade que ela tem muito amor pelos filhos, mas também se mete como um trator passando por cima dos desejos e sonhos deles”, contou aos risos.

“Um Dia Como Os Outros” estreia dia 10 de março no Teatro Sergio Porto, no Humaitá (Foto: Vicente de Mello)

Aliás, o humor é algo que Analu Prestes leva com força total para o palco. “O barato de fazer uma boa comédia é a verdade com que a gente fala sobre os assuntos. Pode até ser um drama, mas se a gente acredita naquilo, a situação acaba sendo engraçada. E é isso o que acontece na peça. Não tem piada, o texto que te encaminha para o riso”, explicou a atriz que disse comentou que a boa repercussão do espetáculo costuma estar diretamente ligado à identificação do público. Para Analu, as pessoas sempre acabam se reconhecendo em alguns dos personagens de “Um Dia Como Os Outros”.

Inclusive, Analu Prestes contou que se inspirou em sua própria mãe para criar esta matriarca da ficção. “Ela é a minha grande musa inspiradora. Em todos os sentidos. Para essa personagem, eu trouxe muitos trejeitos da minha mãe e deu super certo”, contou a atriz que não é mãe fora dos palcos. “Apenas de gatos e das minhas obras de arte”, corrigiu. Claro, Analu!

Analu Prestes, Bianca Byington e Silvia Buarque em cena na peça “Um Dia Como Os Outros” (Foto: Vicente de Mello)

Porém, a peça tem um sabor ainda mais especial para Analu e todo o elenco de “Um Dia Como Os Outros”. Eles retomam um texto que foi sucesso em 2011 como parte do projeto Duas Peças, que esteve em cartaz no Teatro Poeira sob direção de Bianca Byington. “Conseguir juntar esse grupo novamente em um momento como este para bater essa bola está sendo muito especial. Sempre quando a gente revisita um trabalho do passado ganhamos de alguma forma. E neste caso não está sendo diferente”, apontou Analu que acredita estar vivendo uma nova experiência com o mesmo texto. “Existe um amadurecimento natural como mulher e como atriz nestes sete anos. Quando a gente resgata alguns assuntos, temos mais recheio para falar deles com propriedade”, explicou.

O tempo que separou as duas montagens também revelou outras impressões à Analu Prestes. Muitas delas, segundo a atriz, ligadas ao ambiente externo ao palco. “Eu sinto que hoje a gente trabalha muito mais. Eu, por exemplo, estou há dois anos em uma rotina intensa para ganhar quase nada. Fazer teatro virou um ato de resistência em que é quase uma obrigação nossa manter a arte viva”, analisou a atriz que, mesmo assim, prefere lutar no teatro a ficar em casa esperando a oportunidade bater em sua porta. “Não adianta eu ficar deprimida em casa. Para ficar sem ganhar nada no sofá, eu prefiro estar no palco tentando. O artista precisa trabalhar. Eu acho que a partir do momento que estamos em nosso oficio, já pulamos para outra posição. Com ou sem dinheiro, temos que trabalhar”, destacou.

Por isso, Analu Prestes está fazendo sua parte e trabalhando a mil por hora. Além disso, a atriz e artista plástica ainda se prepara para sua nova exposição na Fábrica Bhering. Ainda sem nome definido, a mostra inaugura no dia sete de abril com trabalhos em papel assinados por Analu. “São recortes e rendas em papel que eu faço com estilete ou dobraduras. Nesta exposição, todas as peças serão preto e brancas e feitas em papel de aquarela”, adiantou a artista sobre a mostra que ainda está terminando de ser produzida, mas já tem uma peça de destaque. “Um vestidinho de papel manteiga que representa a figura feminina no meio do jardim”, apontou Analu.

Fora as habilidades manuais, Analu Prestes ainda volta aos palcos com “Tom na Fazenda” no final deste mês e busca patrocínio para um texto inédito chamado “Lá Fora Temporal”. Parar? Jamais.