Débora Falabella estreia peça de sua companhia de teatro e destaca dificuldade em produzir arte em tempos de crise: “Aos trancos e barrancos a gente vai tentando fazer o que dá”


A atriz estreia nesta sexta-feira, 20, o espetáculo “Love, Love, Love”, no Oi Futuro do Flamengo. O texto assinado por Mike Bartlet aborda as relações familiares com o panorama das transformações políticas e sociais dos anos 1967 a 2011 como pano de fundo

Os dramas e as relações de três gerações de uma família compõem o enredo do espetáculo “Love, Love, Love” que estreia nesta sexta-feira, 20, no Oi Futuro do Flamengo. No elenco, Débora Falabella interpreta Sandra, a mãe desta família, na primeira geração, que se passa nos anos 1960, e Rose, a filha do casal, nas duas fases seguintes, nos anos 1990 e 2010. Em entrevista, a atriz, que é uma das fundadoras da companhia de teatro Grupo 3, responsável pela peça, contou de sua relação com o autor da obra, Mike Bartlet. Em “Love, Love, Love”, não será a primeira vez que Débora Falabella e seus colegas de companhia, Yara de Novaes e Gabriel Fontes Paiva, interpretam um texto do dramaturgo britânico. “O primeiro trabalho do Mike Batlet que nós conhecemos foi ‘Love, Love, Love’. Mas, na época, decidimos que seria mais adequado e melhor para a companhia montar ‘Contrações’, outra peça dele. No entanto, aquele texto nunca havia saído da nossa cabeça. E, sem planejar, nós vemos hoje o quanto o texto de ‘Love, Love, Love’ se encaixa com as nossas questões atuais”, disse a atriz sobre o espetáculo que aborda as mudanças políticas e sociais de 1967 a 2011.

Elenco de "Love, Love, Love" que estreia nesta sexta-feira no Oi Futuro do Flamengo (Foto: AgNews)

Elenco de “Love, Love, Love” que estreia nesta sexta-feira no Oi Futuro do Flamengo (Foto: AgNews)

Por sinal, foram essas situações contemporâneas que ajudaram a compor as personagens de Débora Falabella no espetáculo que estreia nesta sexta-feira. Na maior parte da peça, em duas das três fases, a atriz interpreta Rose, uma jovem que sempre teve muita liberdade, o que pode ter atrapalhado um pouco suas escolhas de vida. “A Rose é fruto de um amor romântico desses pais que, apesar de serem jovens livres, tiveram aquele sonho tradicional de casar, construir casa e família juntos. Ela é uma filha que não conseguia ter muito diálogo com os pais, mesmo eles sendo muito abertos. Mas eu acredito que, muitas vezes, o exemplo de casa pode gerar influências na contramão. Ela poderia querer mais limites na vida, por exemplo”, avaliou Débora, que apontou um caráter de frustração na personalidade de sua personagem. “Ela não é a artista que queria ser, não tem casa nem carro. Ela é fruto dessa geração que criou os filhos sem muitos limites e que é um pouco frustrada. Essas pessoas, que hoje têm uns 30 anos, sofrem muito a pressão de ter que ser alguma coisa. E isso vem para a Rose. Só que, não necessariamente, a gente precisa ser espetacular”, explicou.

No espetáculo, Débora interpreta Sandra, na primeira fase, e Rose, nas duas gerações seguintes (Foto: AgNews)

No espetáculo, Débora interpreta Sandra, na primeira fase, e Rose, nas duas gerações seguintes (Foto: AgNews)

Com uma personagem tão densa em um espetáculo que transita por diferentes emoções e sensações do público, Débora ressaltou o primor no texto de Mike Bartlet. Seja para a atuação dos artistas em cena ou para gerar identificação na plateia que assiste, a atriz justificou por que esta é a primeira vez que a sua companhia repete um autor. “Ele é tão preciso neste texto que, inclusive, ele apresenta legendas para o ator compreender a maneira de dizer tal fala. E esse fluxo que você impõe à cena vai gerando para o espetáculo sensações muito poderosas. A emoção do palco acaba atingindo quem está assistindo”, explicou Débora que acredita que o humor particular de Mike Bartlet potencialize a identificação do público. “Em ‘Contrações’, por exemplo, ele falava das situações mais absurdas e o público se identificava e ria para só depois ter a consciência daquela dramaticidade. O texto até tem a questão da lavagem de roupa suja, mas é algo muito superior. Ele atinge outra camada”, analisou.

Pela quinta vez em uma montagem de sua própria companhia, a Grupo 3, Débora comentou dos 12 anos de trabalho no teatro ao lado de Yara de Novaes e Gabriel Fontes Paiva. Segundo a atriz, a consolidação que hoje o grupo possui foi conquistada depois de muito esforço. Ainda mais em tempos de crise e desvalorização da arte. “Muita gente acha que fica mais fácil produzir cultura quando a companhia já tem 12 anos de história. Mas é impressionante parar e ver como o mundo nos afeta. Está muito mais difícil fazer arte porque o mundo está muito mais complicado. Aos trancos e barrancos a gente vai tentando fazer o que dá. Mas, hoje em dia, eu acho que nós estamos sendo mais reconhecidos como uma companhia. No começo, parecia que não acreditavam muito no nosso trabalho”, lembrou a atriz que destacou a liberdade que possui para abordar temas que deseja no trabalho à frente do Grupo 3. “Na companhia, eu tenho muita autonomia no que eu faço e eu adoro isso. Como artista, é muito importante eu ter um espaço em que eu posso dizer o que eu quero. Mas eu também gosto de ser convidada para trabalhos e não precisar ter que me preocupar com todos os detalhes”, contou.

À frente de sua companhia de teatro, Débora destacou a dificuldade de produzir arte em tempos de crise (Foto: AgNews)

À frente de sua companhia de teatro, Débora destacou a dificuldade de produzir arte em tempos de crise (Foto: AgNews)

Por falar nos convites da carreira de Débora Falabella, a atriz nos confessou que não se imaginava trabalhando na televisão aos 37 anos. Ela, que é de uma família de artistas e cresceu no universo do teatro, disse que achava que precisaria ter outra profissão na vida se quisesse seguir a carreira de atriz dos palcos em Minas Gerais. “Eu sou de Belo Horizonte e achei que minha vida fosse acontecer toda lá. As mudanças foram acontecendo de forma natural e que, para mim, acabaram fazendo parte da minha formação. A minha família é toda do universo do teatro e eu sempre tive um ambiente propício a isso. Eu pensava que viveria desta arte, mas precisaria ter outra profissão, já que através do teatro eu não conseguiria me sustentar. Mas vir para o Rio e fazer televisão não estava nos meus planos”, revelou.

Ainda bem que hoje Débora Falabella abrilhanta a dramaturgia brasileira nos palcos, cinemas e televisão. Inclusive, foi nas telinhas onde a atriz teve um de seus principais trabalhos da carreira. Sucesso como a inesquecível Nina, de “Avenida Brasil”, Débora comemorou que a novela exibida em 2012 continue dando audiência hoje em dia. No Vídeo Show, a trama de João Emanuel Carneiro, que ganhou prêmios internacionais, foi estendida na grade do programa por causa do sucesso recorrente. “Eu acho ótimo ter feito parte de uma novela super emblemática que, há tempos, não tinha um enredo e um sucesso tão fortes. Assim como o Vídeo Show, eu acredito que se repetissem outras dez vezes a audiência seria tão boa quanto foi em 2012”, disse Débora que gosta de assistir à novela depois de pronta porque não possui a pressão e a cobrança de quando ainda está gravando.

Se em “Avenida Brasil” a atuação de Débora Falabella foi superdestaque, em “A Força do Querer” promete não ser diferente. Misteriosa, a atriz disse que ainda não pode adiantar qualquer novidade de sua próxima personagem na novela das 21h que substituirá “A Lei do Amor”. No entanto, o HT já revela que Débora Falabella será a vilã Irene, uma mulher manipuladora que tentará seduzir Eugênio (Dan Stulbach), que será casado com Joyce (Maria Fernanda Cândido). A previsão de estreia de “Força do Querer” é para abril deste ano.