Crítica Teatral: Rodrigo Monteiro analisa “Foi você quem pediu para eu contar minha história”: “Karla Tenório se destaca em espetáculo interessante”


Peça que tem no elenco Fernanda Vasconcellos, Bianca Castanho, Karla Tenório e Talita Castro marca a estreia de Paolla Oliveira como produtora

* Por Rodrigo Monteiro

A peça  “Foi você quem pediu para eu contar minha história” (“Neuf Petites Filles (push & pull)” no original) fica ainda melhor quando o espectador compreende que ela é sobre a habilidade humana de criar histórias e de abrigar-se nelas. Em cena, quatro meninas inventam narrativas, criam relações entre si e vivenciam coletivamente a imaginação, dando asas para situações que bem poderiam ser reais. Escrito pela francesa Sandrine Roche a partir de uma oficina de teatro para crianças, o texto foi finalizado em 2011 e, desde então, tem recebido algumas montagens ao redor do mundo. Dirigida com sensibilidade por Guilherme Piva, essa montagem é inédita e tem o mérito de assegurar o prazer do jogo na apresentação da narrativa. Fernanda Vasconcellos, Bianca Castanho, Talita Castro e principalmente Karla Tenório estão no elenco em trabalhos elogiáveis. O espetáculo está em cartaz até o fim de julho na Sala Fernanda Montenegro do Teatro Leblon.

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Adaptado por Thereza Falcão, o texto de “Foi você quem pediu para eu contar minha história” é resultado de laboratório criativo com jovens e crianças no GEIQ théâtre (Groupement d’Employeurs pour l’Insertion et la Qualification), em Lyon, no oeste da França. Foi vencedor da Jornada de Lyon de Autores Teatrais 2011 e publicado pela Éditions Théâtrales um ano depois. A tradução de Alan Castelo também gerou o curta-metragem “Climax” realizado com o grupo musical “Damas de Ferro”. Na peça, as atrizes dão vida a quatro meninas que brincam de inventar histórias, revelando medos, memórias, sonhos e valores, esses construídos a partir de suas realidades familiares. Em questão, a feminilidade, a misoginia, o status social e seus corpos de mulher em desenvolvimento. Na dramaturgia, a evolução dos jogos faz do caos inicial uma proposta interessante. Aos poucos, o público percebe como os personagens e as situações se repetem e o que isso pode querer dizer no modo como elas se apresentam.

A ótima direção de Guilherme Piva permite às personagens se apresentarem a partir das relações que estabelecem entre elas mais do que pelas características particulares de cada uma. O efeito deixa pensar que as meninas interpretadas pelas atrizes ainda estão com sua personalidade em plena formação. Por um lado, isso chama a atenção pela abordagem da infância e, por outro, por tematizar a habilidade do ser humano em construir histórias onde seja possível viver (quando a realidade não interessa). Todos os trabalhos de interpretação de Fernanda Vasconcellos, Bianca Castanho, Talita Castro são qualificados em termos de corpo, voz e movimentos, mas há destaque par ao trabalho de Karla Tenório pelo modo como ela as oportunidades se tornaram mais ricas em sua performance. Nela, o jogo de variação das emoções é mais visível e, ao lado das demais atrizes do elenco, reforça os méritos da produção como um todo.

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As atrizes do espetáculo com o diretor, Guilherme Piva

A luz de Renato Machado destaca a cena em um lugar entre o público e o fundo infinito, reforçando a concepção de narrativa que emerge através da criatividade. Formado basicamente por um balanço e por uma gaiola trepa-trepa, brinquedos comuns em um pracinha, o cenário de Paula Santa Rosa e de Rafael Pieri providencia à encenação vários níveis, profundidades e movimento. O figurino de Carol Lobato auxilia para a visão inicial das personagens como iguais a fim de se possa identificar, ao longo da narrativa, suas diferenças. Marcelo Alonso Neves colabora, através da trilha sonora, com a viabilização cênica da concepção do diretor.

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Talvez o mais interessante de “Foi você quem pediu para eu contar minha história” seja um convite que a peça faz de encontrar a infância não como um momento que antecede a vida adulta, mas como um lugar em que há menos barreiras para criar e para viver o que se cria. Nesse caso, ela pode acontecer em qualquer fase da vida e, relativamente distante da doçura que comumente a ela se atribui, isso pode ser terrível. Vale a pena assistir!

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SERVIÇO:

Onde: Teatro do Leblon
Quando: quartas e quintas-feiras, às 21h
Temporada: Até 30 de julho
Quanto: R$ 60.00

FICHA TÉCNICA
Texto – Sandrine Roche
Adaptação – Thereza Falcão
Direção – Guilherme Piva
Elenco – Fernanda Vasconcellos, Bianca Castanho, Karla Tenório e Talita Castro
Cenário – Paula Santa Rosa e Rafael Pieri
Figurino – Carol Lobato
Projeto de luz – Renato Machado
Trilha sonora – Marcelo Alonso Neves
Fotografia – Rodrigo Lopes
Assessoria de Imprensa – Daniella Cavalcanti
Mídia Digital – Chermont BR
Maquiagem (fotos) – Edilson Ferreira
Programação visual – Jaqueline Sampin
Vídeo Promocional – Videobooks Brasil
Operador de som – Gabriel Lessa
Operador de luz – Hélio Malvino
Assistente de direção – Lucas Massano
Assistente Assessoria de Imprensa – Fernanda Miranda
Cenotécnico – Attom Motta
Equipe de cenotécnica: Luciano Lucas, Carlos Dimas, Jorge Paé, Anderson Henrique e José Navarro
Captação lei Rouanet – Andreia Paiva
Coordenação administrativa leis – Antonio Camões Direção de palco – Cedeli Martinusso
Produção executiva – Luis Fernando Bruno e Lucas Massano
Elaboraçāo – Mariana Nogueira
Direção de produção – Beta Leporage
Produtoras associadas – Paolla Oliveira, Mariana Nogueira e Beta Leporage
Patrocínio – Brasilcap

* Rodrigo Monteiro é dono do blog “Crítica Teatral” (clique aqui pra ler) , licenciado em Letras – Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, bacharel em Comunicação Social – Habilitação Realização Audiovisual, com Especialização em Roteiro e em Direção de Arte pela mesma universidade, e Mestre em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor no Curso de Bacharelado em Design da Faculdade SENAI/Cetiqt. Jurado do Prêmio de Teatro da APTR (Associação de Produtores Teatrais do Rio de Janeiro) desde 2012.