Agenda Cultural: Luis Lobianco chega à reta final de “Gisberta” no CCBB discutindo a violência contra a população transgênero com maestria e sucesso


Ator ressalta o fato de levantar o debate no Brasil, o país que mais mata população transgênero no mundo. E mais: o cinema bomba e os shows animam a cidade durante essa semana entre feriados

Já muito consagrado como ator humorista, Luis Lobianco vem mostrando ao público carioca uma outra faceta sua na temporada de estreia da peça “Gisberta”.  Levantando o debate sobre a violência contra a população transgênero, o ator do Porta dos Fundos tem levado o público para conhecer e sentir a história da transexual homônima ao título desde o dia 1º de março de 2017 no Centro Cultural do Banco do Brasil. Gisberta foi uma brasileira vítima da transfobia que teve morte trágica em 2006, na cidade do Porto, em Portugal, após ser torturada por um grupo de 14 menores de idade durante sete dias.

Lobianco já consegue passar algumas percepções que tem tido do público nesse primeiro mês de temporada. Levando em conta o final trágico, ele comemora o envolvimento do público com a história que está sendo contada e acredita que falar sobre esses temas seja de extrema importância. “Está sendo incrível, uma jornada super emocionante. Transformador para todo mundo. Para mim, especialmente, como ator, por ser meu primeiro monólogo. Para o público, pelo tema e pela reflexão proposta. É o momento de falar sobre isso: transfobia, identidade, preconceito. O público costuma sair muito emocionado e muito mexido”, ressaltou.

Pensando nas cenas fortes da montagem, o ator relembra o tempo de preparo e construção do espetáculo e compara com o momento atual pós-apresentação. “Estou nesse processo há um ano. Quando eu comecei a ensaiar, passei por todos as etapas que isso me exigiu. Tem cenas de tortura muito pesadas e eu passava mal, vomitava, indigestão de verdade. Agora, eu já consegui criar um distanciamento que é exigido do ator. O engraçado é quando eu faço uma apresentação muito boa e saio pro camarim comemorando e vou ver o público e a galera está toda arrasada, chorando pelos cantos”, contou Lobianco.

A peça mistura um pouco de política, história, música, teatro, humor, poesia e ficção sendo capaz de agradar e abrir a cabeça para a conscientização de diversos públicos. Hoje em dia, o Brasil é o país que mais mata a população transexual do mundo sendo muito importante que todos estejam alertas e atentos sobre o assunto. “É uma história pensada para todo mundo entender, uma comunicação direta no coração de todos para que a mensagem chegue. Não é à toa que isso está em todos os veículos, nós precisamos falar sobre isso. Precisamos dar segurança para essas pessoas e tirar elas da margem da sociedade. Quando alguém me fala que viu a peça e quando saiu já vai ter um olhar novo sobre uma transexual ou travesti, sinto que valeu a pena”, disse esperançoso em mudanças.

Uma questão polêmica é a representatividade e o fato de Luis não ser transexual, mas mesmo assim levantar essa bandeira e mostrar essa história. É normal que críticas em relação a isso surjam, mas o ator pontuou o único momento em que ocorreu um caso desse tipo e ainda falou sobre a importância do trabalho no teatro ser imune nessa discussão. “Isso aconteceu antes da estreia. Achei estranho porque ninguém sabia muito o que eu ia fazer e já estavam acontecendo as críticas. Eu não faço a Gisberta. Eu conto a história da Gisberta. Faço teatro há 24 anos e estou no meu espaço por direito, que é um espaço de transformação. Nesse lugar, o ator tem um papel que transcende a essa discussão para que a sociedade se identifique e se veja, é a porta para levantar o debate. O ator está acima dessa discussão toda principalmente no teatro, onde não existe casting ou coisas desse tipo. Trabalhamos sem recursos quase nenhum. Eu criei esse projeto, chamei essa equipe para trabalhar comigo (que trabalhou 9 meses sem ganhar nenhum dinheiro) e o CCBB abraçou ele no final do ano passado”, falou.

Luis Lobianco ainda desenvolve dois outros projetos altamente ligados ao público LGBT. O primeiro – e mais antigo – é o Buraco da Lacraia, localizado na Lapa. Com linguagem e temática burlescas, a casa recebe festas, shows de drag queens e eventos dos mais variados estilos. O público ultrapassa o limite do óbvio, olhando a programação, e atrai toda a população boêmia de mente aberta do Rio de Janeiro e de outros lugares que já ouviram falar sobre esse espaço onde a liberdade e a diversidade são as grandes atrações. Comemorando os seus 30 anos em 2017, o Buraco continua sendo um dos espaços mais consolidados para todos aqueles que procuram diversão acima de qualquer julgamento de valor.

Outro projeto do ator é em parceria com a atriz Leandra Leal e seu marido Alê Youssef. O “Rival Rebolado” foi criado em setembro de 2016 como um projeto de Teatro de Revista moderno. Durante aquele mês, o Teatro Rival recebeu o público que formava fila para conferir apresentações de drags, transformistas e outras incríveis atrações. A temporada de 2017 será com a temática “BRASIL” e tentará trazer questões e reflexões importantes acerca do momento atual. O evento teve sua estreia ontem (12 de abril) e contará com uma edição por mês sendo a próxima no dia 10 de Maio.

Motivado por esse contato carinhoso e íntimo, Lobianco sentia a necessidade de levantar o debate sobre os assassinatos a população transgênero. “Eu me envolvi muito com essa comunidade com as trans, as travestis, lésbicas, drags. São as pessoas que eu convivo, que eu trabalho. São os meus amigos, as pessoas que frequentam a minha casa, sabe? Quando eu penso que essas pessoas sofrem violências físicas e verbais só por saírem na esquina pra comprar pão, me horroriza. Eu não sei o que é isso, nunca passei por isso. Nunca fui ofendido por assumir ser quem eu sou, por assumir a minha identidade. O Brasil hoje é o país que mais mata pessoas transgêneros no mundo. Quase metade dos crimes de transfobia do mundo, acontecem nesse país. A Gisberta é muito conhecida em Portugal, mas sendo brasileira penso que ela teria que ser conhecida aqui também. Precisamos sair desse ranking urgentemente. As pessoas trans são assassinadas aqui todos os dias em um ponto que já deixou de ser notícia”, pontuou ele em brilhante exemplo de empatia.

“O público não é um público classe teatral, é um público mesmo e acredito que se uma pessoa sair de lá pensando diferente já cumpri o meu papel. O CCBB propõe ingressos populares e é no Centro, o que facilita o acesso. Todos que vão lá tem se encantado com a história dessa mulher. Ela largou tudo no Brasil e foi para Portugal, ficou conhecida durante anos no Porto como a estrela da noite, tinha uma força incrível. É apaixonante a história de Gisberta”, falou empolgado. Luis Lobianco segue em cartaz até o dia 30 de Abril, de quinta a domingo às 19:30h. O texto é de Rafael Souza-Ribeiro e a direção de Renato Carrera.

Cinema

Despedida em Grande Estilo – Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin) são amigos há décadas. Eles levam uma vida pacata, mas sofrem com problemas financeiros. Quando Willie testemunha o assalto milionário a um banco, decide chamar Joe e Albert para elaborarem o seu próprio assalto. É a vez de os idosos se rebelarem contra a exploração dos bancos.

Argentina – Explorando a música popular, o documentário mescla passado, presente e futuro para se aprofundar no folclore argentino, contando com participações de Mercedes Sosa, Pedro Aznar, Soledad Pastorutti e Luis Salinas.

Pitanga – A vida, a obra, a trajetória e a carreira de Antônio Pitanga, um dos maiores atores do cinema nacional de todos os tempos, protagonista de momentos marcantes da cinematografia brasileira e protagonista de filmes importantes dirigidos por nomes como Glauber Rocha, Cacá Diegues e Walter Lima Jr.

Por Trás do Céu – Em um lugar tomado pela extrema pobreza, Aparecida (Nathalia Dill), mulher forte do sertão, vive cheia de sonhos e esperança. Enquanto o marido Edivaldo (Emilio Orciollo Neto) leva uma vida amargurada por uma tragédia do passado, a jovem decide tomar uma atitude que pode mudar sua trajetória para semore: partir para a cidade grande.

Teatro 

O Corpo da Mulher como Campo de Batalha – Com direção de Fernando Philbert, a história poderia se passar no Rio de Janeiro, mas acontece no pós-guerra da Bósnia nos anos 90. A vida de duas mulheres se cruzam: uma psicóloga americana que é voluntária no país, interpretada por Ester Jablonski, e uma refugiada que carrega um bebê fruto de um estupro, personagem de Fernanda Nobre.

Veja Mais: Fernando Philbert, diretor de O Corpo da Mulher como Campo de Batalha, fala sobre as questões do espetáculo como violencia contra mulher estupro e aborto

Josephine Baker, A Vênus Negra – A peça conta a história da dançarina, cantora, atriz e humorista Josephine Baker interpretada pela atriz Aline Deluna. A direção é de Otavio Muller e o espetáculo está em cartaz no Teatro Maison de France até 28 de maio. Qui, sexta e sábado às 20h, domingo às 19h.

Shows & Eventos

Call the Police Tour – Andy Summers (The Police), Barone (Paralamas do Sucesso) e Rodrigo Santos (Barão Vermelho), se unem para reverenciar uma das maiores bandas da história do Rock, o The Police no Vivo Rio. O show vai acontecer nessa quinta-feira, 13 de abril, às 21:30h

Veja Mais: Anos 80 em ação: astros rock nacional se juntam ao guitarrista do The Police, Andy Summers, para maratona de shows imperdiveis no Brasil

Maria Rita e Diogo Nogueira – A dupla se une para apresentação no Metropolitan no sábado, dia 15 de abril, às 22:30h.

Luan Santana –  o cantor sertanejo mais querido do Brasil lançará a sua turnê no Vivo Rio nesse final de semana. Sábado, 15 de abril, o show acontecerá às 22h, já no dia seguinte o evento começará um pouco mais cedo, às 20h.

Coro Come – Com pratos até R$ 20, evento cultural/gastronômico faz edição especial sobre a cultura hip hop. O tradicional evento cultural/gastronômico Coro Come está de volta em novo local, dessa vez no novo parque cultural urbano da Zona Portuária do Rio de Janeiro, o NAU.