Papo reto! MC Carol fala sobre participação em “Lucky Ladies”, momento atual do funk e episódio de racismo: “Fui tratada como bicho”


A funkeira que estourou no Rio com músicas como “Minha vó tá maluca” e a politizada “Não foi Cabral” ainda comenta a fama após participar do reality-show, os artistas que usam o gênero para subir na vida e por que não gosta de ser chamada ‘diva’

Dona de hits conhecidos entre os amantes do funk carioca, como “Minha vó tá maluca” e “Bateu uma onda forte”, MC Carol é o novo nome a estourar pelos bailes e festas do gênero, um fenômeno que, em partes, cresceu com a sua elogiada participação no reality show “Lucky Ladies”. O programa, exibido às segundas-feiras na Fox Life, acompanha cinco funkeiras – além de Carol, MC Sabrina, Karol Ká, Mc Filé e Mary Silvestre – que, sob a tutela de Tati Quebra Barraco, devem fazer um show inesquecível para entrar na história do ritmo. “Fiquei super com medo, mas no segundo dia eu já esqueci que havia câmera me seguindo”, conta MC Carol, em entrevista exclusiva ao Site HT.

A funkeira de Niterói tem se tornado uma verdadeira sensação nas redes sociais, onde sua personalidade engraçada e espontânea no programa rende memes e frases de efeito repetidos à exaustão pelos internautas. Para HT, Carol comenta que, quando foi convidada a participar do reality show, se sentiu apreensiva e não sabia que outras pessoas estavam por lá. Entretanto, ela comenta que a experiência foi positiva e serviu para dar maior visibilidade ao seu trabalho. “Participaria de outra temporada, com certeza. Aqui [no Morro do Proventório, onde mora] todo mundo me conhece, mas as pessoas têm me parado mais na rua, no aeroporto etc.”, conta, enquanto diz que só teve problemas de convivência com MC Sabrina e Karol Ká, apesar de hoje elas já estarem bem. “Mas se rolar outra temporada mesmo, vai ser complicado”, entrega.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Carol diz que sempre foi assim, de falar o que lhe vem à mente e expor sua opinião. Ela conta que, na época do colégio, chegou a sofrer muito por isso, porque batia de frente com os professores, que não aceitavam os questionamentos da garota à época. Um desses questionamentos, por sinal, tem sido um dos grandes motivos pelo qual a MC tem se tornado o nome mais quente do funk, e acabou virando música: “Não foi Cabral”, a faixa que questiona o descobrimento do Brasil em meio aos tamborzões e batidas eletrônicas do gênero. “Eu estava fazendo uma entrevista e contei que sempre discutia com meus professores por causa disso. Daí me sugeriram escrever um funk sobre o assunto. Primeiro, eu pensei: ‘Pô, não tem nada a ver’. Depois, resolvi gravar e acabou fazendo esse sucesso todo. Fiquei muito feliz, e emocionada mesmo de saber que os professores apoiaram a música”, explica MC Carol. “Sempre tive minha opinião formada e nunca fui pela cabeça dos outros. Desde criança sou assim. Essa música serviu para provar que eu estava certa de ter batido de frente com meus professores”, desabafa.


Mc Carol – “Não foi Cabral”

Mais do que fugir das letras hiper sexuais do gênero, “Não foi Cabral” pode ser vista como um retorno às raízes do funk que, quando começou a ganhar popularidade no início da década de 1990, tinha como uma das mais fortes premissas retratar o cotidiano e a realidade da periferia. Com HT, Carol comenta que, hoje em dia, o teor político do funk quase não existe mais. “Se fala, é pouco. E eu não ouço isso. Há espaço para tudo no funk, mas cada um canta o que quer”, declara.

MC Carol durante apresentação na "Bootie Rio", na Fosfobox (Foto: Argentino | I Hate Flash)

MC Carol durante apresentação na “Bootie Rio”, na Fosfobox (Foto: Argentino | I Hate Flash)

O apelo da artista de apenas 21 anos entre seu público foi constatado por HT durante o show que ela fez na festa “Bootie”, que lotou a Fosfobox no último dia 10. Por ali, jovens da Zona Sul e drag queens batiam cabelo e dançavam, enquanto entoavam os funks da MC na ponta da língua. Ela conta como começou a atrair o público gay: “Estávamos ensaiando para um show que teria alguns dançarinos vestidos de macacos. Percebemos que dava muito problema chamar mulher ao palco, porque sempre rolava briga com o marido na pista e elas queriam subir para dançar depois disso. Então, decidimos que só chamaríamos os gays para subir e, desde então, nunca deu problema, sempre foi uma parada maneira. Tem até casal que vai junto”, ri a moça, que diz acompanhar todas as mensagens de suas redes sociais.

MC Carol diz  que não entende como ainda existe racismo no país: " Isso aqui é Brasil, é mistura de cores!" (foto: Reprodução)

MC Carol diz que não entende como ainda existe racismo no país: ” Isso aqui é Brasil, é mistura de cores!” (foto: Reprodução)

 

Leia também: “Tati Quebra Barraco fala de “Lucky Ladies”, mulheres no funk, novas vertentes do gênero e vida no morro”.

Bem humorada na maioria do tempo, MC Carol comenta com HT que poucas coisas a tiram do sério e ela prefere “ficar de boa” na maioria das vezes. Entretanto, ela desabafa sobre um episódio no qual quase perdeu sua paciência: “Eu nunca sofri preconceito por ser gorda, sou fofinha desde criança eme aceito muito bem. Mas já sofri muito racismo por causa da minha cor. Na maioria das vezes, a gente finge que não percebe aquilo, para não gerar confusão. Mas, às vezes, não dá para passar batido”.

Carol conta que, na época das gravações do clipe de “Lucky Ladies” (que foi rodado no Rio de Janeiro em novembro e dezembro), ela decidiu pegar um táxi com uma amiga e, quando o taxista viu que ela estava entrando no veículo, se recusou a fazer a corrida, alegando que não era permitido comer dentro do veículo. Depois de explicar que só pretendia lanchar quando chegasse ao ateliê em Ipanema, onde estava indo cuidar do cabelo, Carol conta que o motorista em questão não se importou com a justificativa, desceu do carro, abriu a porta de trás e tirou a moça pelos braços. “Me tirou do táxi como se eu fosse animal, cara. Aquilo ali foi preconceito, foi uma violação. Eu acabei encarando numa boa, mas juro que não entendo um brasileiro destratar um negro. Isso aqui é Brasil, é mistura de cores! Por mais que você seja branco, seu avô, bisavô ou tataravô pode não ter sido 100% branco, entende? Não faz sentido nenhum. E outra: eu amo ser negra, acho minha pele linda!”. Precisa explicar mais por que ela é a nova musa do funk carioca?

MC Carol avalia o funk atual no Brasil: "Tem muita gente nesse meio que nem gosta de funk, só usa o ritmo para chegar aonde quer e, depois, abandona o 'MC'" (Foto: Reprodução)

MC Carol avalia o funk atual no Brasil: “Tem muita gente nesse meio que nem gosta de funk, só usa o ritmo para chegar aonde quer e, depois, abandona o ‘MC'” (Foto: Reprodução)

Leia também: “Nas redes sociais, Emicida desabafa sobre episódio de racismo em São Paulo”

Uma das características mais fortes de MC Carol é ter se mantido humilde mesmo após o sucesso e a agenda lotada de shows. Ela conta para HT que não se considera “diva” e que isso é para gente como Madonna, Beyoncé e Rihanna. “Eu sou uma mulher. Tem muita funkeira que fica se apelidando de diva e eu acho isso ridículo. É patético você se autodenominar ‘diva'”, aponta. Por fim, quando pedida para avaliar a leva de novos nomes do funk carioca, a artista vai direto ao ponto, como sempre o faz. “Tem muita gente nesse meio que nem gosta de funk, só usa o ritmo para chegar aonde quer e, depois, abandona o ‘MC’, dizendo que nunca foi funkeiro”, critica, sem medo algum do que os outros possam achar.