O Site HT se apaixonou pela cantora Ju Moraes em Salvador e foi bater um papo com a artista sobre música, empoderamento e mudanças no Carnaval da Bahia


A artista baiana falou sobre a correria no Carnaval de Salvador, onde é figurinha confirmada em diversas atrações pela cidade. Além disso, discursou sobre o empoderamento feminino no mês de fevereiro e conversou sobre as críticas em torno das marchinhas. Para completar, a ex-participante do The Voice Brasil comentou sobre as influências do programa na sua vida. A jovem se mostrou em um momento mais maduro da carreira no qual está abrindo as portas para novos gêneros

Entre os grandes destaques do Carnaval de Salvador está a cantora e ex-participante do The Voice, Ju Moraes. Para o desfile deste ano, a baiana exibe uma fase mais madura de sua carreira onde abraça diferentes ritmos que vão além do samba. A enxurrada de apresentações começa nesta sexta em Canavieiras, no sul do estado, e, no dia seguinte, estará na capital para sacudir o público na Casa Skol, no circuito Barra-Ondina. Além disso, estará no evento Bahiatursa, no Bloco Mordomia e no Pipoca D’Ju. “A gente já espera esta movimentação toda para o carnaval, o artista já está acostumado. No entanto, quando a folia é no início de fevereiro, o verão fica mais curto o que significa menos tempo para ensaios e preparação”, contou. A morena faz shows em fevereiro há oito anos e, por isso, já é tradição nos blocos da cidade. Além do lado profissional, o cansaço só aumenta porque não abre mão de curtir o pré-Carnaval, com direito saída entre amigos e a Festa de Iemanjá. “Sou da folia”, garantiu.

Ju Moraes confessou que é frequentadora assídua do pré-Carnaval (Foto: Sergio Baia)

A celebração está passando por uma espécie de revolução, na qual o público está lutando por formas menos exclusivistas de curtir o período, com trios sem cordas e o fim dos abadás. “A cidade começou a ganhar muito dinheiro com os camarotes e a venda de abadá, mas este comércio fez com que a folia perdesse um pouco o sentido, que é a democracia da rua. Nunca gostei de financiar isto e sempre preferi ficar na pipoca com os meus amigos. Alguns artistas, como a Daniela Mercury, incentivavam os blocos independentes, saindo pelo menos uma vez nestes trios sem corda. Portanto sempre tiveram trios democráticos, mas ganharam força agora pela necessidade do povo de voltar para rua. O movimento está sendo um presente para Salvador”, afirmou a baiana. Segundo ela, a polêmica por trás deste assunto só existe por impactar na economia da organização dos blocos. Um dos principais nomes do movimento independente é o BaianaSystem. O grupo busca resignificar a sonoridade da música urbana da Bahia. “Esta galera dispensa comentários porque já é um fenômeno em todo o Brasil. É um som libertador e diferente que arrasta uma multidão que estava sedenta por um espaço e, por isso, conseguiram tomar as ruas de volta”, explicou.

Ju Moraes garantiu que trios sem corda sempre existiram no Carnaval de Salvador, mas o movimento ganhou força agora (Foto: Sergio Baia)

Outro assunto que está sendo questionado com a chegada de fevereiro são as famosas marchinhas. O gênero é típico desta época do ano e muita gente está criticando o fato das letras antigas continuarem a serem reproduzidas. Isto porque as canções podem ofender os negros, mulheres e homossexuais. “Estamos em um momento de rever os nossos conceitos e a forma como enxergamos o mundo, mas isto depende dos seres humanos e como eles se comportam. Não adianta querer mudar uma música que foi escrita há cinquenta anos e achar que isto vai alterar quem somos hoje, porque somente as nossas atitudes é que impactam neste aspecto. Seria hipocrisia trocar a letra, sem agir de forma diferente. O mundo mudou e não adianta ficar olhando para trás, vamos pensar no futuro. Não é a marchinha que deve ser revista, o nosso olhar sobre aquilo é que precisa. Temos que mostrar para um menino pequeno que ele não tem que ser machista e explicar que aquela canção está ultrapassada”, criticou a cantora.

Para a artista, é importante continuar enaltecendo o empoderamento feminino (Foto: Sergio Baia)

A discussão sobre as marchinhas também é relevante ao falarmos do assédio sexual que rola neste período. Como diria a letra ‘Vou beijar-te agora. Não me leve a mal. Hoje é Carnaval’, nos blocos o clima de paquera aumenta o que também abre porta para certos excessos. Por isso, Ju Moraes garantiu que é importante continuar afirmando o empoderamento feminino. “Sempre me incomodei demais em sair na rua e passar por estas situações. Mas não tem jeito, a diminuição do assédio vai da consciência do próprio rapaz. No entanto, não podemos nos privar de colocar uma roupa por causa deles. Acredito que as coisas estão mudando. As mulheres precisam continuar se impondo e denunciar caso isto aconteça”, afirmou.

Não é por acaso que Ju Moraes está em todas no Carnaval. A sua música foi construída inteiramente a partir do samba, a raiz da cantora e a folia. Inclusive, o primeiro nome de sua banda era Samba D’Ju. “Faço festa brasileira, sendo o samba o pai e a mãe deste estilo, com a batida sempre muito forte e presente”, afirmou. No entanto, o último lançamento da cantora, Juntos, foi uma canção que é muito puxada para o pop, contrariando o seu lugar de origem. “Trouxe um estilo praiano com a presença do ukulele, o que não deixa de ser desafiador, porque as pessoas sempre esperam de mim algo semelhante aos meus trabalhos iniciais. Mas é gostoso para o artista sair da zona de conforto”, explicou. A melodia foi muito bem recebida e representa apenas o início de várias tentativas de testar coisas novas no mundo musical. “Comparo muito o meu estilo com o dos Novos Baianos, eles tem todos os gêneros. Quero ser um caldeirão”, explicou. O que explica o título de seu CD, Sabor Brasileiro, que passeia por algumas sonoridades sem perder a brasilidade.

A morena garantiu que o The Voice apenas lança novos talentos,
mas acabe ao artista investir na carreira (Foto: Sergio Baia)

Desde o início da formação da Banda D’Ju, a cantora já tocou ao lado Claudia Leitte, Ivete e Saulo Fernandes. A possibilidade de tocar com estes feras foi impulsionada pela participação de Ju Moraes no The Voice Brasil 2012. No entanto, de acordo com ela, o reality show deve apenas significar um pontapé na carreira do artista, porque o trabalho de continuar sendo um expoente no mercado musical precisa ser cultivado pelo próprio. “O programa é uma vitrine muito importante, mas o artista precisa entender que é temporário e focar em criar a sua própria carreira quando sair dali. O público vai procurar o seu trabalho, mas se não mantiver o fluxo de produção de conteúdo, a galera vai embora. O The Voice não vai transformar a pessoa em uma celebridade, é uma ilusão da pessoa pensar que a fama vai continuar igual. Foi tendo esta consciência que corri para lançar o meu primeiro CD seis meses depois do programa. O meu sucesso foi graças a Globo e ao meu trabalho. Eles revelam um talento, cabe o cantor correr atrás”, informou. Além disso, a baiana acredita ser importante e necessário se firmar dentro de sua região, já que o Brasil é um país muito grande. Isto foi o que ela fez e não é por acaso que a artista é figurinha confirmada em vários shows no Carnaval de Salvador. E a gente já ficou fã!