Na Fundição Progresso, Banda do Mar faz a plateia se sentir ótima enquanto Vanessa da Mata segue o som da positividade


Com cerca de 5.000 pessoas na plateia, o trio gravou videoclipe para seu novo single enquanto a veterana fez todo mundo se apaixonar de novo por seu disco mais recente

*Por João Ker

Apesar de terem se lançado ainda no meio do ano e de já terem se apresentado no Circo Voador há menos de dois meses,o sucesso que a Banda do Mar tem feito com seu disco de estreia é tão estrondoso que os músicos conseguiram cativar o público e lotar a Fundição Progresso mais uma vez neste sábado (6/11). A tarefa não foi executada sozinha, claro, porque a noite ainda teve um gosto especial, já que eles eram a atração de abertura para Vanessa da Mata, que também conseguiu segurar o público na casa da Lapa até as 3h30 da manhã com seu suingue envolvente e sua voz angelical.

Esta tem sido uma semana feliz para os fãs cariocas de Marcelo Camelo. Além do retorno de seu grupo com Mallu Magalhães e o português Fred Ferreira, foi divulgado na manhã de sexta-feira que os Los Hermanos também se reunirão para mais uma apresentação “final” em 2015, como parte das comemorações oficiais do aniversário de 450 anos da capital fluminense. Afastados dos palcos desde 2012, quando fizeram uma turnê de despedida, o grupo já vinha fazendo falta entre sua legião de fãs que não tem se contentado apenas com o ótimo Bloco Pra Iaiá, folia carnavalesca criada pelos próprios e que só toca músicas da banda.

Bloco Pra Iaiá – “Quem Sabe”

Assim como o show no Circo, a noite de ontem também teve seus momentos hermanescos, nos quais o público cantava músicas como “Além do que se vê”  e “Morena” em uníssono. Mas esse foi uma apresentação da Banda do Mar e, por mais que também gostemos de ter escutado Mallu cantando “Velha Louca”, foram momentos como a gravação do clipe de “Hey Nana”com direito a bis no final, que fizeram o nosso coração bater mais forte. Com o mesmo esquema de revezamento que trazem no álbum, com os dois vocalistas alternando suas músicas, a Banda mostra entrosamento e leveza no palco que deixam clara toda a positividade e amizade que comentaram com HT aqui.

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Mallu em quase nada se parece com a menina que surgiu para o Brasil com “Tchubaruba”. Nos trejeitos e na voz mais amadurecida, ela já é uma mulher jovem que mostra confiança e um talento ainda mais promissor no palco. Como não se envolver quando ela diz que “se sente ótima”, segurando um violão e cantando completamente em transe com as notas (ou talvez fosse apenas o calor da Fundição mesmo). Ao final de “Mia”, Camelo injeta dose extra de energia na guitarra enquanto descansa no colo dela. O carinho discreto dos dois no palco é algo lindo de assistir e altamente contagiante para aqueles que conseguem perceber. Talvez o melhor exemplo seja a sinceridade com que ele, de olhos grudados nela, canta de mansinho os versos “Olha menininha eu tenho que dizer, tudo o que eu faço é só por você”, da romântica “Faz Tempo”.

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Fred não fica de fora, já que enquanto ele e Mallu observam Camelo cantando “Dia Clarear”, a menina fica fazendo danças atrás do baterista, dublando a música entre as brincadeiras. Ao saírem do palco, o pedido de bis da plateia veio com espontaneidade e as cerca de 5.000 pessoas presentes ali conseguiram segurar sozinhas o refrão de “Hey Nana” mais uma vez, enquanto o cara apontava o microfone pedindo reforço. Em suma, foi um show lindo que pode voltar daqui a dois meses. Afinal, os cariocas ficarão sempre felizes de receber a Banda do Mar.

“Hey Nana” @ Fundição Progresso

Agora, se a Banda foi responsável pela languidez envolvente do mar, Vanessa trouxe à noite todos os mistérios e romances da mata (não resistimos ao trocadilho). As flores tomam conta do cenário, sejam pregadas no pedestal do microfone, projetadas no backdrop ou enfeitando os cachos da cantora. Sob aplausos ensurdecedores, ela entra balançando a barra do vestido dourado e brilhante, cantando “Toda humanidade nasceu de uma mulher”, faixa que abre “Segue o Som”,  seu aclamado e premiado álbum lançado no início do ano e que foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro. Com a voz forte, uma letra despretensiosamente feminista e a pegada do reggae, ela desafia a animação do público e lidera a multidão enquanto canta que é uma menina e só quer se divertir.

 

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O álbum foi o grande carro-chefe do show, com a maioria das músicas sendo apresentadas, como a faixa-título, “Não sei dizer adeus”, “Homem Preto”, “Sunshine on my shoulders”, “Desejos e medos” e por aí vai.  A produção afiada de Alexandre Kassin – que foi convidado ao palco – faz com que Vanessa domine as maiores correntes de ritmos contemporâneos, passando de uma verve a outra com sutileza e adequando com maestria seus vocais impressionantes. Há um quê de reggae que permeia todo o trabalho, assim como algumas guitarras que chegaram de algum lugar do rock e muitas outras influências que fazem do trabalho um suprassumo da música pop brasileira. A própria declara seu amor à produção nacional quando, ao chamar Kassin, ela também elogia a Banda do Mar e diz: “A música brasileira é incrível! Genial demais!”, fala fazendo referência também ao amigo e ídolo Gilberto Gil.

Vanessa da Matta – Segue o Som by João Ker on Grooveshark

Claro que, como não poderia ter sido diferente, ela abriu espaço para os hits que, ao longo dos anos, foram consagrando-a como um dos maiores nomes da música atual. Ela conta a história de preconceito vivida pelos avós nos anos 1940 – “Hoje também tem, mas naquela época a barra era mais pesada” – antes de “Não me deixe só”, conquista os românticos com “Amado” e segura “Ai ai ai” até o final, quando não fica uma única alma parada naquela Fundição. No bis, uma homenagem a Renato Russo – “Eu senti uma presença ótima ali atrás e lembrei dele” -, com a cantora cantando acapella “Por Enquanto”,  acompanhada pelas palmas e coro da plateia.

Só houve um problema que não ficou muito claro para os fãs. Mesmo com os pedidos unânimes para que ela cantasse “Boa Sorte/Good Luck, sua parceria de sucesso fenomenal com Ben Harper, a música não deu as caras pelo show. Será que houve treta com o músico californiano? De qualquer forma, Vanessa continua sendo “a menina que só quer dançar”, “perigosa e macumbeira”, “de paz e de bem”, e o público (nós inclusos) a ama incondicionalmente.