Maíra Freitas lança segundo disco, “Samba e Batucada”, revela veia autoral e reafirma suas raízes: “Sou mulher, negra e não gosto de alisar meu cabelo”


Filha de Martinha da Vila, a cantora aposta em trabalho autoral em seu segundo disco. “Foi um grande desafio pra mim. Diferente do que eu já tinha feito. Esse meu disco fala bem de quem é essa mulher de 30 anos que está aqui dando a cara a tapa, tocando piano e cantando”

Apesar de ter nascido em uma casa de bambas, a cantora Maíra Freitas criou resistência para se entregar ao deleite da pegada envolvente do samba. Pianista clássica por formação, a moça, que é filha de ninguém menos que Martinho da Vila e, consequentemente, irmã de Mart’nália, teve cautela ao se aventurar na arte do cantar. Em seu disco de estreia, lançado em 2011, a moça confessa que teve muita ajuda da família e tateou suas habilidades como compositora, mesclando três canções autorais com regravações de Paulinho da Viola, Chico Buarque e outras nomes da nossa música. Tudo com calma, para experimentar esses novos campos de atuação. Agora, quatro anos depois de sua estreia, Maíra lança “Piano e Batucada”, onde explora totalmente seu lado compositora, com dez músicas de sua autoria.

Maíra Freitas lança seu segundo CD (Foto: Divulgação)

Maíra Freitas lança seu segundo CD (Foto: Divulgação)

“O ‘Piano e Batucada‘ foi um grande desafio pra mim. Diferente do que eu já tinha feito, ele reúne muitas músicas autorais, todas composições minhas. O que ele tem de mais louco são os arranjos: tudo em piano e batuque. Eu canto e toco acompanhada apenas por bateria e percussão, então, não tem nenhum violão, guitarra, instrumento de sopro”, disse. “Foi um desafio fazer um disco pop e ao mesmo tempo com essa roupagem. Eu defino ele meio MPB, tem uma pegada samba-jazz também, samba canção e ritmos paraenses. Tem de tudo, mas, claro, que o samba está bem marcante na minha vida, então, não tem como não fazer batuque quando a gente faz música”, contou ela, com exclusividade ao HT.

Apesar de ter grandes referências musicais dentro de casa, a artista de 30 anos sentiu que estava na hora de entrar no estúdio sem a presença da família. Segundo ela, esse foi o momento ideal para mostrar quem é Maíra Freitas sem a influência de terceiros. “No primeiro disco ele (o pai, Martinho da Vila) opinou mais. Nesse segundo eu resolvi fazer tudo sozinha, sem muita pressão. Eu quis mostrar o meu lado. Claro que foi muito importante ter tido a ajuda deles no primeiro momento, mas agora eu estou mostrando exatamente o que eu sou. Esse meu disco fala bem sobre quem é essa mulher de 30 anos que está aqui dando a cara à tapa, tocando piano e cantando”, avaliou.

Mas muito se engana quem pensa que dar início a essa nova vertente foi uma tarefa fácil para Maíra. “Cantar pra mim foi um grande desafio. Quando eu lancei meu primeiro disco, confesso que foi bem difícil. Eu não estava acostumada com isso. Eu fui pega totalmente de surpresa, porque alguém me ouviu cantar e disse que eu tinha que gravar um disco. Como sou pianista de formação, eu fiquei em choque. Mas eu tô aprendendo. Cada vez que subo em um palco eu aprendo um pouquinho mais dessa arte que é estar à frente em um espetáculo”, ponderou.

A cantora com o pai, Martinho da Vila e os irmãos (Foto: Divulgação)

A cantora com o pai, Martinho da Vila e os irmãos (Foto: Divulgação)

Tomando as rédeas de sua carreira, a cantora acredita que o lugar da mulher é onde ela queira estar. Totalmente feminista, ela acredita que o diálogo é o ponto de partida para a conquista de uma sociedade mais igualitária. “Eu estou achando um momento muito bacana da nossa sociedade. As mulheres estão falando mais e, ao mesmo tempo, se ainda tem tanta coisa pra evoluir, muito já se caminhou. Às vezes, eu vejo umas pessoas que, há pouco tempo, eram supermachistas, hoje, já têm uma outra visão do que é ser mulher. Mulher sabe dirigir, sim, e o lugar dela vai ser na cozinha só se ela quiser cozinhar, sabe?”, alertou. “Eu sou mulher, negra e não gosto de alisar meu cabelo.  Acho que a mídia está vendo que a mulher cansou de sofrer. Ninguém mais tem saco pra isso”, observou ela, que ainda comentou sobre o aumento de ataques racistas na internet. “A rede social é ótima, porque você vê as pessoas entrando em contradição o tempo todo. Isso serve para mostrar para o mundo que o Brasil é um país superracista”, avaliou.

Apesar de “Piano e Batucada” ser um álbum predominantemente autoral, Maíra Freitas reservou espaço para três regravações. São elas “Estranha Loucura”, um clássico na voz dramática de Alcione, e “Feeling Good”, eternizada por Nina Simone, eMinha Festa”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. “Quem nunca colocou aquela música da Alcione no último volume, arrumando a casa? Gosto muito, é aquela mulher que está a ponto de matar a outra pessoa, mas ainda contida na loucura dela”, revela ela, aos risos.

Maíra também é pianista clássica por formação (Foto: Divulgação)

Maíra também é pianista clássica por formação (Foto: Divulgação)

Despretensiosa e carismática à la Martinho, ela garante que não almeja se tornar uma superstar da nossa MPB. “Eu quero continuar vivendo de música. Eu não tenho sonhos mirabolantes de ser uma Madonna ou uma Beyoncé. Muito pelo contrário, na verdade. Eu já conheço o sucesso de perto e tem coisas boas e coisas ruins. Eu só quero que as pessoas se emocionem com o meu trabalho e eu continue a viver dele”, finalizou.