Lançando DVD, Marcelo D2 dispara: “A legalização da maconha está longe. Eu achava que em 2016 ia estar vendendo na padaria”


Lançando o DVD/CD “Nada Pode Parar – ao vivo”, D2 também disse: “O Brasil ainda é um país muito de direita. Desde a ditadura não temos uma bancada tão reaça. E é meio triste isso, dá um certo medo”

Certa vez, HT foi a um show de Marcelo D2 no Circo Voador, Centro do Rio, e por lá haviam estandes com aquelas brincadeiras tradicionais dos parques de diversões, subvertidas para o conceito do rapper, como um irreverente ‘acerte o baseado na boca do D2’. Coisas do mesmo carioca que entoa: “Eu canto assim, porque eu fumo maconha. Adivinha quem tá de volta explorando a sua vergonha. Eu sou melhor do microfone, não dou mole pra ninguém”. E, como os versos sequenciais já avisam: “Então por favor, não me trate como um marginal. Se o papo for por aí, já começamos mal”. E como a gente gosta mesmo é de um bom papo cabeça no maior clima paz e amor, tratamos de ouvir atenciosos as palavras de D2 sobre como a sociedade encara a cannabis atualmente. Para começo de conversa, ele não se considera um líder de movimento, precursor de alguma coisa. Muito pelo contrário. Cada um na sua.

(Crédito: Rafael Kent)

(Crédito: Rafael Kent)

“Eu já fiz a minha parte. Neguinho tem que fazer a dele. O triste é que não mudou muito coisa sobre esse assunto desde que comecei a cantar. Aliás, não mudou quase nada. A gente vê o mundo inteiro andando a passos pequenos. A legalização da maconha está longe. Mas eu acho que vai acontecer. O problema é que tem muito coronel trocando voto por dentadura. O país ainda está engatinhando. Eu achava que em 2016 ia estar vendendo na padaria”, lamenta para, logo no emendo, se revoltar. “Não é possível, cara. É mais triste ainda ver que trafico é tão violento e ganha tanta força. Quando eu falo do tráfico, me refiro à guerra: fronteiras abertas para as armas, policia corrupta, moleque novo com fuzil. É triste para todo mundo. E tudo isso em prol de que? De que a maconha faz mal?”, questiona.

D2, em tom calmo, mesmo responde. “Tudo isso porque a droga pode matar? Porra! Mata-se para não se matar. É uma imbecilidade enorme. O mundo é dos imbecis. Eles é quem mandam”. Há espaço também para a política, até porque uma coisa leva a outra. “O Brasil ainda é um país muito de direita. Desde a ditadura não temos uma bancada tão reaça. E é meio triste isso, dá um certo medo”, conta para a conclusão: “Mas a gente fuma maconha mesmo assim. Mesmo ilegal”. O rapper, que completou dois anos na estrada com turnê do álbum solo “NADA PODE ME PARAR”, lança agora o registro ao vivo pela Universal Music com o  DVD/CD “Nada Pode Parar – ao vivo”, gravado no Áudio Club SP, nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro de 2014.

Está estranhando a data, certo? A demora não foi proposital. “Eu tive muito problema com sample. A gente teve que cortar muita música. Algumas que eu não abri mão de cortar eu demorei esses dois anos para resolver. No meu caso, que sou artista de uma gravadora grande, tem que declarar todos os samples. É muito trabalho e uma coisa que foi pouco de ingenuidade minha, que não previ. Foi um pouco desgastante, mas tudo bem”, revela. Com direção do próprio D2 no áudio e de Rafael Kent no vídeo, o DVD traz um repertório que inclui faixas como “Está Chegando a Hora (Abre Alas)”, “Eu Já Sabia” (participação especial Sain), “Eu tive Um Sonho” (participação especial Thaíde), “Fella” (participações especiais de Shock, Batoré e Akira Presidente) e mais.

A gravação, feita em dois dias, foi pensada previamente. “Porque aí não repetia nenhuma música”, explica. As mãos com celulares para o alto durante o show, idem. “Na passagem de som, eu estava filmando para fazer um post e achei que ficou irado. A gente começou a comentar que uma coisa que irritava muito nos shows era o pessoal com o celular para o alto. Então, pensamos: ‘Vamos usar isso a nosso favor’. Vamos escolher uma música, pedir para o pessoal filmar e depois eles mandam para algum endereço”, lembra. Essa conversa, feita por meio de hangout, ainda revela um lado pessoal de Marcelo D2. Ele, por exemplo, confessa que é um cara “muito competitivo” e que aprendeu isso muito com “o rap, as batalhas”. E não só: não se de estar no palco. “Eu fico um final de semana em casa e meus filhos falam: ‘Quando você vai viajar? Tá chato para caramba’. É minha vida viajar. E a banda, que já toca comigo há muito tempo, tem essa coisa do trabalho na estrada, de pegar baixo e fazer som em quarto de hotel. Fora que escrever no ônibus é muito bom”.

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O que não deve ter sido muito bom foram as críticas que D2 recebeu da turma de sua própria cena musical quando começou a misturar o rap com o samba. “Os radicais do rap começaram a falar que não era rap, que falar de maconha e misturar samba não era rap. Mas eu acho que é um caminho natural. Para virar música brasileira tem que ser cada vez mais assim. No princípio, tinha-se a visão de que o importante é a letra. Mas eu acho que quando você manda um timbre de caixa com um violão e uma guitarra, é uma mensagem. Quando os tropicalistas colocaram guitarra na música brasileira, eles estavam mandando uma mensagem de que vinha gente boa por aí. Então, se o cara achar que vai fazer rap que nem Wiz Khalifa, vai ficar ali só com os amigos”. Daquelas entrevistas que a gente até perde o prumo da reta.