Lady Gaga abandona o batidão eletrônico, assume sua porção Ethel Merman e se junta a Tony Bennett em novo álbum de jazz!


HT mostra que a cantora, extravagante como só ela sabe ser, sempre manteve um pianinho ao lado para equilibrar um pouco a carreira exacerbadamente pop

*Por Júnior de Paula e João Ker

Lady Gaga resolveu fazer tudo diferente neste seu próximo álbum: limpou os excessos visuais, tirou dos ombros aquele peso de querer atingir o topo do pop ad eternum, deixou de lado as coreografias rocambolescas e os cenários mirabolantes, resolvendo focar mais na música. Mais precisamente no jazz. Depois de participar do álbumDuets II”, de Tonny Bennett, no qual ele convidou várias cantoras para dividir os vocais com ele – Amy Winehouse, inclusive -, Gaga começou a desenvolver a ideia de fazer um álbum inteiro só com standards do jazz e gravar todos em dueto com ele mesmo: o mestre vivo do gênero, Mr. Bennett.

As conversas evoluíram, a ideia foi tomando corpo e os primeiros resultados já começam a pipocar aqui e ali. “Eu canto jazz desde os 13 anos. Este era o meu segredo, que Tony descobriu e resolveu mostrar para o mundo. 60 anos nos separam, mas quando a gente canta, quando estamos juntos, não há distância alguma”, conta a cantora em recente entrevista de divulgação do projeto. Nesta madrugada, por exemplo, Gaga disponibilizou o primeiro single dessa nova aventura, no qual a dupla recém-formada canta “Anything Goes”, o hit de Cole Porter que foi imortalizado por gente graúda décadas a fio, de Donald O’Connor a Mitzi Gaynor, de Ethel Merman (a favorita do eterno compositor) a Patti LuPone.

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Gaga e Tony por Steven Klein (Fotos: Divulgação)

Nas fotos, a gente consegue entrar um pouco nesse novo universo, com looks menos espetaculares de Gaga, maquiagem mais discreta, e uma imagem – pelo menos à primeira vista – mais próxima do que ela deve ser longe do personagem do qual virou refém, mas ao mesmo renovando essa atmosfera Broadway do sucesso de Porter. Tem Bennett enxugando as lágrimas da cantora, os dois se divertindo nas gravações, entre outros momentos de intimidade que aparecem também no vídeo oficial da música. Ela, por sinal, apresenta um glamour tipo Liz Taylor com ragazza italiana que raramente é visto em suas roupas e figurinos escalafobéticos.

Vídeo oficial de “Anything Goes”

O álbum, que vai se chamar “Cheek to Cheek” (olha Cole aí de novo!) , tem data de lançamento anunciada para o dia 23 de setembro e, também nesta semana, eles gravaram um espetáculo no Rose Theatre, que vai ao ar no dia 24 de outubro na TV norte-americana, no qual eles apresentaram pela primeira vez o novo repertório, dando pistas de quais músicas vão fazer parte do álbum. De acordo com nossas fontes que estavam por lá, o setlist incluiu as seguintes canções: “Anything Goes”, “But Beautiful”, “The Lady’s In Love”, “Goody Goody”, “Everytime We Say Goodbye”, “Cheek To Cheek”, “Sophistcated Lady”, “Lush Life”, “Bang Bang (My Baby Shot Me Down” ( Nancy Sinatra deve estar curiosa ), “Nature Boy”, “She Just Wants to Dance”, além de “Paradise”, uma composição de Gaga criada especialmente para este álbum.

Gaga e Tony no estúdio  (Foto: Divulgação)

Gaga e Tony em estúdio (Foto: Divulgação)

No palco, ela trocou de roupa várias vezes: um vestido longo com capa, depois outro dourado, turquesa, um macacão de couro rosa e acessórios para a cabeça, e Tony ficava por lá sentadinho esperando ela voltar. Quer mais novidades sobre o esperado “Cheek to Cheek”? A capa e as fotos de divulgação foram clicadas por Steven Klein ( o queridinho de Madoona) e dão um pouco do clima do que vem por aí. Abaixo, você confere o primeiro vídeo oficial dessa parceria, “Cheek To Cheek”, e outros momentos especiais ao piano que provam: nem só de batida eletrônica é feita uma Lady Gaga:

Não é surpresa para ninguém que o nome verdadeiro de Lady Gaga é Stefani Germanotta. A cantora, que nunca escondeu suas origens, aparece nesse vídeo como mais uma dentre os milhares de novaiorquinos que tentam odas as noites fazer seu nome em meio à boemia da maior metrópole mundial. Com os cabelos negros, sem maquiagem e vestindo um vestidinho rosa básico que faria a própria vomitar hoje em dia, Stefani ainda existe nas profundezas do Youtube para lembrar ao mundo que Lady Gaga começou de baixo e, desde o início, manteve a voz e a presença de palco, especialmente quando tem um piano à sua disposição.

Stefani Germanotta – “Wonderful” (2006)

Foi logo no início da carreira, quando suas maiores polêmicas eram o uso casual de lingerie e as ombreiras gigantes oitentistas, que Lady Gaga fez um cover inesquecível de “Viva La Vida, hit absoluto do Coldplay na época. A cantora reinventou completamente a música, quase da mesma maneira como os rapazes britânicos fizeram com o hit “We Found Love”, de Rihanna. É por esse e por outros vídeos e covers que o mundo sempre será grato à BBC Radio.

“Viva La Vida” – Coldplay Cover

Era o seu début no palco do VMA e Gaga sabia que a performance entraria para a história da sua carreira. O vídeo de “Paparazzi” marcou o início da extravagância esquizofrênica e deliciosa da direção artística que virou sua marca e essa apresentação não deixou por menos. Ela cantou, dançou, improvisou no piano e chocou o mundo ao simular um suicídio pela fama. Bizarrices à parte, o vozeirão nunca deixou de impressionar.

“Paparazzi”@ VMA 2009

O dia que Madonna engoliu seco o seu recalque. No palco do Grammy, onde a cantora recebeu na mesma noite dois gramofones de ouro, Lady Gaga se juntou a Elton John para um medley inesquecível da balada “Speechless” com “Your Song”, um dos maiores clássicos do Sir. Nem a maquiagem à la David Bowie e a decoração macabra do piano conseguiram apagar um dos maiores momentos vocais e icônicos na carreira de Gaga:

Lady Gaga com Elton John no Grammy de 2010

Pouco após o suicídio do gênio Alexander McQueen, a cantora homenageou o amigo pessoal com uma performance de “Telephone” no palco do Brit Awards. A parceria com Beyoncé nunca teve uma apresentação conjunta com as duas, mas essa versão acústica, preparada de última hora após um dos fins mais trágicos do mundo fashion, mostra que Gaga só se esconde atrás de batidas eletrônicas e sintetizadores berrantes porque quer.

“Telephone” @ Brit Awards 2010

Foi a sua segunda performance no VMA e nela, Gaga carregava o peso da abertura da premiação que mais tarde homenagearia Britney Spears como um ícone do milênio. Alguns disseram que o fato de Lady Gaga chegar vestida de homem era mais uma forma de copiar Madonna, mas quando que Madge seria capaz de sentar em um piano e fazer uma performance daquelas? “Yoü and I” – composta e produzida pela própria – pode não ter sido um hit, mas naquela noite Gaga foi mais uma vez coroada como a exímia performer que é. Excêntrica sim, mas não menos talentosa por isso.

“Yoü And I” @ VMA 2011

Gaga demorou três turnês para chegar ao Brasil, mas quando a Born This Way Ball chegou ao Rio de Janeiro em 2012, foi com lágrimas nos olhos e uma performance de arrepiar que a cantora gritou Hair e emocionou toda a Cidade do Rock enquanto se declarava para o Rio dizendo que, aqui, “sentia Deus”. É difícil não rir dos fãs desesperados ao seu lado, mas é igualmente difícil não sentir que a conexão da artista com sua fan base é verdadeira.

Hair @ Born This Way Ball, Rio de Janeiro

Depois de uma fase difícil em que ficou prostrada em uma cadeira de rodas, a cantora foi voltando aos poucos para divulgar seu álbum ARTPOP. Com um visual despido de artifícios, Gaga fez uma dedicação emocionada e tentou segurar as lágrimas enquanto cantava Dope e entoava versos como “eu sei que estraguei tudo de novo”. O desempenho vocal e a o sentimento vulneravelmente aflorado lhe renderam seu 13º top 10 nos charts da Billboard. Cinco estrelinhas muito merecidas para a música e para a apresentação.

Dope @ Youtube Music Awards 2013