Há 20 anos no mercado, a banda Hurtmold se apresenta no Rio de Janeiro neste domingo para comemorar o aniversário


Em conversa com o site HT, o vocalista Guilherme Granado falou sobre o crescimento do conjunto e a indústria musical no Brasil

O que Barbie Girl, do Aqua, Stand By Me, do Oasis, My Heart Will Go On, da Céline Dion, e o grupo paulista Hurtmold tem em comum? Todos eles juntos completam duas décadas de existência. De lá para cá muita coisa aconteceu: novas bandas surgiram, febres apareceram e o estilo musical do povo foi se alterando. Mas uma coisa é certa, o conjunto jovem dos anos 90, agora, transpira madurecimento e um estilo próprio que foi evoluindo com o tempo a ponto de formar algo completamente original. Maurício Takara, Rogério Martins, Guilherme Granado, Mario Cappi, Fernando Cappi e Marcos Gerez subirão ao placo da Audio Rebel neste domingo para provar que só melhoraram com o tempo. “A gente sempre trabalhou de um jeito muito tranquilo e natural. Nunca fizemos nenhum plano no sentido de conseguir coisas. Gostamos de estar juntos já que somos muito amigos. A nossa ideia de carreira foi simples: começamos a fazer, continuamos e, agora, estamos completando esta idade. Acho que continuo tomando as mesmas decisões do início, não fiquei mais esperto financeiramente, por exemplo. No entanto, se eu pudesse dar um conselho para mim mesmo de 20 anos atrás seria para que ele continuasse criando música se sentisse que algo legal ia sair dali, o que foi exatamente o que fiz”, afimou a voz e o teclado da banda, Guilherme Granado.
O estilo musical dos Hurtmold é muito diferente do que estamos acostumados por ser uma verdadeira salada de influências musicais. A percussão é a grande estrela das músicas devido ao jazz, mas também se pode escutar o sim do punk rock, o funk americano, a música eletrônica e ritmos regionais brasileiros. Todo mundo da banda teve sempre a preocupação de buscar a sua própria voz como artista que é a coisa mais difícil. Nós temos as nossas influências e, no início, somos dominados por elas. Com o tempo, ao criar novas coisas e continuar tocando, a pessoa começa a criar o estilo próprio. Nós tocamos muito, por isso sempre sai algo original sonicamente. É bom que depois de 20 anos temos alguma coisa. Nunca conversamos sobre misturar certos músicos. Fomos formando as nossas influências com base no que cada um gosta de escutar. Juntamos o que achamos que vai soar bem e funcionar para uma composição”, explicou o cantor.

O grupo possui seis integrantes que estão na estrada juntos há 20 anos (foto: Paulo Borgia)

O último CD foi uma verdadeira revolução na banda. Foi a primeira vez que a galera trouxe outra pessoa para produzir com eles. Considerados um dos melhores lançamentos de 2016 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), o álbum ‘Hurtmold e Paulo Santos Curado‘ somou o som dos sete músicos. “Este disco foi muito diferente dos outros porque nunca tivemos nem ao menos uma participação neles, sempre gravamos somente com a banda. Resolvemos mudar e fazer em parceria com o Paulinho mesmo e queremos continuar. A única dificuldade é reunir todos porque é muita gente. Mesmo assim, queremos fazer outros projetos com ele”, contou. No entanto, uma nova parceria continua apenas no imaginário e na promessa dos integrantes.
Guilherme não soube dizer se considera os trabalhos mais recentes melhores que os antigos pois acredita que isto é algo pessoal e relativo. “Cada disco é um reflexo daquela época, o que estávamos pensando quando criamos. Acho que este novo, em particular, apesar de ser uma parceria, parece ser uma composição de banda. Não parece que existe uma pessoa a mais. São sete pessoas, invés de seis, tocando juntos”, sugeriu sobre a última produção. Apesar de não ter nenhum plano concreto com Paulo Santos, o vocalista adiantou que podem ser lançadas novas músicas no show que ocorrerá no Rio de Janeiro, uma composição exclusiva da banda, sem parcerias.

A maior diferença no disco lançado ano passado foi a parceria com outra pessoa, Paulo Santos (foto: Paulo Borgia)

Depois de 20 anos no mercado musical, Guilherme já possui opiniões e discursos próprios sobre o cenário nacional. Ele revela que a chegada da internet alterou muito a forma do público lidar com a arte. “As novas comunicações ajudam e atrapalham, ao mesmo tempo. Assim como é mais fácil divulgar o trabalho, o excesso gera um borrão e ninguém consegue se destacar direito. Além disso, é legal ter mais acesso, mas as pessoas que criam precisam de dinheiro para produzir de alguma maneira, assim como comer e pagar o aluguel. O público não pensa nestas questões. Os músicos antigamente criticavam muito a dependência de uma gravadora, mas pelo menos era possível gerar conteúdo independente e vender os discos, mesmo que fossem poucos. Atualmente, é preciso se alinhar a patrocinadores o que acaba dando no mesmo, no entanto, o que eles estão preocupados é fazer propaganda de produtos. Os músicos acabam virando garotos propaganda e nem ao menos ganham tanto assim”, criticou. Apesar disso, o grupo está se virando bem com estas novas ferramentas já que tiveram que se acostumar desde o início a lidar e aceitar as opções que o ramo proporcionam. “Esta forma de mercado não nos afeta tanto porque sempre fomos independentes. Eu sempre tive a consciencia que este tipo de música não era para aparecer em capas de revistas e aceitei que a profissão não me geraria muito dinheiro. Se quisesse ser paparicado, teria que criar outro tipo de som. A solução para se dar bem neste meio é produzir o máximo que pode e saber o que quer”, explicou.
Para aprender a lidar com um ramo tão volátil, o cantor contou que precisou amadurecer e se acalmar. “A vida me mostrou que era necessário ser menos ansioso. Quando se é moleque, a pessoa quer tudo ao mesmo tempo. Nós precisamos ter paciência para tudo, esperamos para pegar o avião, passar o som ou começar um show. Depois que comecei a viver da música percebi que não adianta forçar algo, tudo tem o seu tempo. Algumas coisas são prometidas e não acontecem, por exemplo. Nas turnês, sempre digo que não ganhamos para tocar, na verdade, nosso ganho é todo o resto”, sugeriu.
Em todos estes anos, Guilherme já dividiu o palco com grandes músicos como Marcelo Camelo, Rob Mazurek, Thomas Roghrer e, um de seus favoritos, Pharoah Sanders.  “Tudo se aprende. Em todas as turnês e shows o músico sai com uma bagagem maior”, afirmou o cantor. Ele já rodou o mundo se apresentando e adiantou que não possui um favoritismo. “Gosto bastante de tocar em São Paulo porque nasci e cresci aqui, mas não vou falar sobre o Brasil senão as pessoas ficam bravas. Sempre quero voltar para Lisboa, Chicago, Itália e Espanha”, relembrou.

Serviço

Hurtmold

Data: 27/08/2017 (domingo)

Horário: 19h (primeira sessão) / 20h30 (segunda sessão)

Local: Audio Rebel

Endereço: Rua Visconde de Silva, 55 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ

Ingressos: R$30 (antecipado) | R$35 (na hora)

Compra antecipada: https://www.sympla.com.br/hurtmold-na-audio-rebel__177196

Classificação: 16 anos

Capacidade da casa: 90 pessoas (lotação máxima)

Forma de pagamento: para o ingresso, apenas dinheiro; no bar, todos os cartões de crédito

Casa equipada com ar condicionado e wi-fi gratuito

Horário de funcionamento da bilheteria: todos os dias, de 13h às 21h