Gay assumidérrimo, Neil Patrick Harris sai da zona de conforto e agarra com os dentes papel de transex!


Depois de inúmeros papeis certinhos no cinema e tv, astro brilha na Broadway como a irreverente cantora que ainda conserva uma polegada entre as pernas, em figurino da preferida de Madonna

* Por Junior de Paula

A gente já assistiu a algumas versões para Hedwig”, a história da cantora transexual alemã que passa por uma cirurgia desastrada para mudança de sexo que a deixa com uma polegada do seu antigo corpo. E a história não para por aí. Apaixonada por um garoto bem mais novo e com pretensões musicais, a personagem vê sua possibilidade de ascensão ficar para trás quando o agora ex-namorado estoura como um fenômeno pop. Detalhes, com as músicas de Hedwig sem nunca lhe dar crédito por isso.

Portanto, o musical, em cartaz no Belasco Theatre, em Nova York, transita entre o humor politicamente incorreto da protagonista e a melancolia que ela carrega junto de sua polegada remanescente de um passado que ela gostaria de esquecer. No papel principal, temos Neil Patrick Harris, um dos maiores astros assumidamente gays de Hollywood, que impressiona não por só por desconstruir sua figura um tanto quanto certinha, edificada por anos a fio de bons serviços prestados à arte de interpretar, como por seu talento e vitalidade ao defender esse que, talvez, seja o personagem de sua vida.

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Acompanhado por uma banda poderosa – a Angry Inch (daí o nome do espetáculo agora, “Hedwig and The Angry Inch”) –, e da namorada que se veste de homem e encarna uma figura andrógina que vive às sombras da amada, Neil é a estrela absoluta. O centro do palco e todos os holofotes são dele, que não tem problemas com as roupas justas, os saltos altos, as mil trocas de perucas e até um figurino todo de pele – tudo criado pela top stylist Arianne Philipps, a favorita de Madonna.

Madonna, aliás, estava na plateia da apresentação a que assistimos, nesta sexta-feira (23/5). Entrou acompanhada de Arianne e algumas amigas assim que as luzes se apagaram e Hedwig entoou os primeiros versos, saindo antes que as luzes fossem acesas de novo. Não sem antes recomendar fortemente o musical para todos os seus seguidores nas redes sociais. A gente também mais que recomenda. Uma experiência única – em um ato – em que a gente percebe a força que o talento de um ator pode causar no público. É emocionante ver o teatro inteiro explodir em aplausos non stop antes mesmo de a peça terminar.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura