Enquanto turnê com Seu Jorge engata segunda marcha, Ana Carolina diz: “Nosso país é um gigante que precisa despertar, é maior que a vontade de grupos”


Uma década depois, a parceria de sucesso ganha vida novamente – fazendo as gravadoras Sony e Universal darem as mãos. Para Ana, “é tempo de unir forças, de recriar a roda”. A dupla se apresenta neste final de semana no Metropolitan, zona Oeste do Rio

Há 10 anos, o cara que cantava o drama de “Seu Gonça” se juntou à mineira da garganta estranha e, juntos, gravaram um DVD e um CD. Era para parar por aí, mas a repercussão do som originado venceu a imaginação da dupla. “Quando vimos, passamos a ser cobrados. Havia uma sensação quase de dívida com o público e empresários que não entendiam o motivo de não fazermos uma turnê. Ali não havia a vontade de interromper nossos caminhos e projetos para simplesmente satisfazer uma demanda”, conta Ana Carolina em entrevista exclusiva ao HT. O que ela chama de “coito interrompido” agora vai ser rala e rola musical do bom e do melhor. Ana e Seu Jorge vão começar a rodar o Brasil entre os meses de abril e junho de 2016 ( com direito a lançamento do clipe “Mais Uma Vez  – Nós Dois”). Enquanto a turnê engata segunda marcha (o start foi dado em São Paulo na última semana e chega à nossa urbe-maravilha neste final de semana no Metropolitan), ela conversou com HT. Entre os assuntos, as conversas – que duraram seis anos – para o reencontro, a união das gravadores rivais Sony e Universal (cada um com uma) para fazer o projeto ganhar corpo e, claro, política. Para Ana, “é incrível como o tema da corrupção ainda não saiu da vitrola”. Bem que, nesse caso, os políticos podiam agir com candura para nos agradar. É que a gente não é beato e se criou na rua.

(Foto: Divulgação/Midiorama)

(Foto: Divulgação/Midiorama)

HT: Faz uma década que você e Seu Jorge se juntaram para aquelas quatro apresentações que renderam um CD e um DVD. O que mudou em você de lá para cá?

AC: Todo mundo muda o tempo todo, com a gente não é diferente. Estávamos nos ” inta” agora entramos nos “enta”, muda a forma de ver as coisas, você fica mais seletivo, fica mais atento ao que julga realmente ter importância. Aumenta os cuidados com saúde e se preza mais o tempo que se tem. Acho que a vontade de fazer o que se gosta aumenta também. Não sou de ficar observando esses movimentos do tempo, deixo acontecer, vivo cada dia e me dedico com afinco a tudo que faço. Acho que tudo passa a ter até mais intensidade.

HT: Em que ponto em específico a musicalidade de vocês mais se aproximam? E quando elas se distanciam?

AC: Musicalidade não é algo que se mede ou se compara, se coloca uma régua ou numa balança. Somos muito comprometidos com o que fazemos. Ambos são cantores autores e que tocam vários instrumentos. Há um certo perfeccionismo, há um respeito ao público e a palavra. Cada um tem seu estilo e quando cantamos é algo que vem da alma, é intenso. Às vezes tenso no sentido de que a gente mergulha fundo nessa arte de fazer da canção nossa identidade.

HT: Por que esse reencontro, com direito a turnê, agora? Há uma conversa para tal há quanto tempo?

AC: O primeiro projeto teve ares de “coito interrompido”. Ali não imaginamos que o registro lançado em DVD e CD teria tanta repercussão. Quando vimos passamos a ser cobrados, havia uma sensação quase de dívida com o público e empresários que não entendiam o motivo de não fazermos uma turnê. Ali não havia a vontade de interromper nossos caminhos e projetos para simplesmente satisfazer uma demanda. Em 2010 a gente pensou em retomar, mas eu não sabia mesmo o que poderia ser feito de novo. Em 2015 voltamos a conversar e ficamos surpresos com o peso de uma década e aí resolvemos retomar. Sabíamos da força do projeto e achamos que seria uma boa visitar as principais capitais do país, talvez visitar países onde nosso público também é grande. Estamos vivendo cada dia sem o compromisso de atender a expectativas apenas. Amamos fazer música, fazer o público dançar, se emocionar.

(Foto: Divulgação/Midiorama)

(Foto: Divulgação/Midiorama)

HT: O que pode adiantar do repertório?

AC: Posso adiantar que o repertório pode mudar a cada show, não nos obrigamos a uma fórmula a um modelo fechado, a gente gosta de ir para o estúdio, ensaiar e é maravilhoso ter um parceiro como o Jorge que está pronto para qualquer parada. Nossa vontade é a de entreter, tirar o público da previsibilidade, não gostamos de adiantar resultados, música é algo para se consumir de coração aberto. Quem viver verá, quem lá for vai descobrir.

Relembra nosso último papo com Ana Carolina – Ana Carolina em papo cabeça sobre política e preconceito: “Não é justo achar que alguém de outra cor ou ‘orientação sexual’ deva ser visto diferente” 

HT: Mikael Mutti e Rodrigo Tavares agora entram na dança de vocês. Como chegaram aos nomes deles e qual será a importância de ambos no projeto?

AC: Eles jogam junto e emolduram com seus beats, tons e dons. O Mika já vem trabalhando comigo há um tempo desde o “#AC” e o Rodrigo veio pelo Jorge. Eles são o tempero dessa nova jornada e diria que é justamente o que deixa tudo diferente do que fizemos. Não queríamos fazer um repeteco ou chover no molhado.

HT: Querendo ou não, Sony e Universal – duas concorrentes pesadas – tiveram que dar as mãos para que a nova parceria entre você e o Seu Jorge chegasse ao público. Com o mercado fonográfico estando como está, qual o significado dessa chancela estabelecida?

AC: É bacana poder experimentar novas fórmulas. Nosso mercado está em mutação constante. As “majors” são as vias de distribuição de nosso trabalho e acreditamos ser justa essa divisão de tarefas, investimentos e colheita de resultados. É tempo de unir forças, de recriar a roda.

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HT: Não faz muito tempo que você publicou uma foto legendando com uns versos de “Unimultiplicidade” (“Neste Brasil corrupção pontapé bundão/ puto saco de mau cheiro/ do Acre ao Rio de Janeiro/…Tem sempre alguém se dando bem/ de São Paulo a Belém”), que, tenha sido essa sua intenção ou não, caem como uma luva para o momento político do país. Acha que um dia os versos dela caíram em desuso?

AC: É incrível como o tema da corrupção ainda não saiu da “vitrola”, na verdade é uma pena. Essa canção traz uma esperança em recriar a fórmula a partir da sociedade, a partir da união de propósitos. Somos todos um e deveríamos trabalhar com a união e não somente na divisão de valores, na briga. Nosso país é um gigante que precisa despertar, mas pensando no todo, em todos, e não em apenas na vontade de uns, de poucos.

HT: Como cidadã, você corrobora ou é contra o discurso de “não vai ter golpe”? Por quê?

AC: Eu penso que devemos mesmo é usar nosso voto como uma forma de dizer o que queremos, refletir quem somos e o que pensamos. Tomar partido, apontar dedo, se colocar em oposição a algo não tem mais força do que exercer a nossa vontade colaborando com a democracia. Na próxima eleição certamente o povo brasileiro estará mais atento. Estamos amadurecendo, estamos aprendendo. É muito mais forte trabalhar com o SIM. Sim queremos melhor saúde, mais educação, a “ordem e progresso” que nossa bandeira estampa. Sairemos dessa. O Brasil é maior que a vontade de grupos, precisamos nos unir, nos entender.

A programação da turnê de Ana Carolina e Seu Jorge – até o presente momento:

Rio de Janeiro
Metropolitan

Fortaleza
Centro de Eventos Ceará

Recife
Classic Hall

Belo Horizonte
Chevrolet Hall

Salvador
Itaipava Arena Fonte Nova

Brasília
CICB – Centro Internacional de Convenções do Brasil

Florianópolis
Centro de Eventos Sapiens Park

Porto Alegre
Anfiteatro Beira Rio