Em uma mistura de música, filosofia, literatura, ciência e política, Jorge Mautner se apresenta no Rio de Janeiro nesta terça-feira


O artista interpreta músicos como Assis Valente, Noel Rosa, Nelson Batista e Dorival Caymmi em um show comandado pelo improviso: “A parte programada corresponde a uns 40%, enquanto os outros 60% são decididos na hora de acordo com o público, o tempo e o clima”

Sentir a plateia, cronometrar o tempo e deixar o turbilhão de conhecimento musical e intelectual aflorar. Essa é a combinação dos shows “Kaos Total” de Jorge Mautner, que ocorrem todas as terças-feiras de julho no AudioRebel, em Botafogo. O artista que, além de cantor também é escritor, compositor e tudo mais que couber na trajetória artística de um dos maiores ícones brasileiros, contou ao HT que gosta de levar aos palcos toda essa miscelânea de conteúdo. “Eu acho que não tem separação. Literatura, história e ciência são imaginações humanas que juntas funcionam como cultura. Então, está tudo sempre entrelaçado, inclusive política, que, ultimamente, está muito presente na vida das pessoas. O formato do meu show sempre foi assim”, explicou.

E, abusando do seu conhecimento multidisciplinar, Jorge Mautner acrescentou que gosta de enriquecer os shows com a história de determinadas músicas, a exemplo de “Maracatu Atômico”, que já foi regravada por artistas como Gilberto Gil e Chico Science & Nação Zumbi. “Eu falo bastante no palco antes de algumas canções. No Maracatu Atômico, por exemplo, eu conto um pouquinho da história da música, que é interessantíssima. Como eu também sou escritor, entram motivações de literatura, filosofia, ciência e, principalmente, erradicação da pobreza. A minha fala faz parte do espetáculo” disse Mautner que nos adiantou que na última terça-feira de julho, dia 26, fará um show destinado às crianças, com músicas infantis e linguagem para os pequenos.

O músico contou ao HT que gosta de incrementar seus shows com literatura, filosofia e ciênncia (Foto: Reprodução)

O músico contou ao HT que gosta de incrementar seus shows com literatura, filosofia e ciênncia (Foto: Reprodução)

Apesar de ir para a apresentação com uma ideia do que vai acontecer, Jorge Mautner disse que não gosta de seguir um roteiro. A cada show, o público tem uma experiência diferente e inédita. Além do improviso do artista, o projeto, que foi idealizado por Maria Borba e João Paulo Reis, ainda recebe diferentes convidados por semana, contribuindo para o caráter inovador da apresentação. “O roteiro combina algumas músicas minhas e outras de diferentes autores, como Assis Valente, Noel Rosa, Nelson Batista, Dorival Caymmi e outros. Como são muitas canções, eu escolho mais ou menos e vejo na hora. Tem algumas músicas que eu toco à capela e outras não. Tudo depende do momento. Os meus shows são bastante improvisados, embora exista um roteiro. A parte programada corresponde a uns 40%, enquanto os outros 60% são decididos na hora de acordo com o público, o tempo e o clima. O ineditismo vem daí”, esclareceu Mautner que, nesta terça-feira, 12, recebe a banda Tono, de Bem Gil.

Essa semana, Jorge Mautner recebe a banda Tono no AudioRebel, em Botafogo (Foto: Reprodução)

Essa semana, Jorge Mautner recebe a banda Tono no AudioRebel, em Botafogo (Foto: Reprodução)

Ele, que desde 1987 já incitava o debate sobre a cultura brasileira com o movimento “Figa Brasil” ao lado de Gilberto Gil, nos dias de hoje não é diferente. Questionado sobre o que achava do atual cenário artístico e cultural brasileiro, Mautner afirmou que, nesse momento, é o que o país tem de melhor. “O cenário cultural brasileiro está como sempre foi, muito vibrante. O que o Brasil mais tem é a cultura. Porém, esses costumes são fabricados pelos tambores de candomblé, escolas de samba, grupos de rap e etc. Hoje, você tem todas essas instituições nas artes. E sempre houve essa relação cultural, porque o povo nunca teve governo. Na verdade, os brasileiros se fazem através dos tambores, dos poetas e tudo mais. Mas aí é papo para uma longa conversa…”, resumiu.

Desde 1987 Jorge Mautner lá levanta discussões sobre a cultura brasileira (Foto: Reprodução)

Desde 1987 Jorge Mautner lá levanta discussões sobre a cultura brasileira (Foto: Reprodução)

E já que Jorge Mautner reconheceu no início do bate-papo com o HT que política é um assunto que não sai das rodas de conversas nos últimos tempos, fomos atrás de saber a opinião do músico sobre o atual panorama. Mautner, que hoje tem 75 anos, em 1962 ingressou no Partido Comunista Brasileiro, conviveu com artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil em Londres durante os anos de chumbo no Brasil e teve trabalhos no cinema censurados pelos militares. Sobre o cenário atual, o poeta se expressou através de versos em forma de argumento. “Eu acho ótimo essa discussão toda. Para mim, estamos vivendo a esperança da democracia, com muitas manifestações, todo mundo falando tudo. Eu acho que tem que ser assim mesmo. A democracia se faz noite e dia juntos e não só no dia da eleição. Assim como não existe alegria que não venha do coração, não existe democracia que não tenha oposição. Cada geração tem que conquistar a sua dignidade. Mesmo quando não houver nem mais fé nem esperança, o amor continuará a resplandecer no universo. Então é tudo isso e mais coisas ainda”, manifestou-se poeticamente o artista Jorge Mautner.