Em GIFs, vídeos e memes, as cinco pessoas que fizeram a cerimônia do Oscar 2015 valer a pena. Vem conferir!


Do extreme makeover de Lady Gaga, ao momento em que Sean Penn poderia ter ficado apenas calado e dormido sem uma patada em rede mundial

*Por João Ker

Finalmente, na noite deste domingo (22/2), o mundo pôde conferir a premiação mais importante e superestimada de toda uma indústria cinematográfica. Direto de Los Angeles, a 87ª cerimônia de entrega do Oscar teve o maior número de discursos a favor dos direitos humanos na história recente da premiação.

Entre vitórias garantidas, como a de Julianne Moore por “Para Sempre Alice” (como HT já havia comentado meses antes aqui), apresentações nonsense como a de “Everything Is Awesome” do “The LEGO Movie”, indicações questionáveis, a incrível esnobada em “Boyhood” e Richard Linklater, além dos vestidos deslumbrantes, abaixo você confere o Top 5 de pessoas que fizeram valer a pena dormir tarde no primeiro domingo pós-Carnaval só para ficar em frente à TV acompanhando tudo. Veja!

1 – O extreme makeover de Lady Gaga:  Claro que, em sua primeira aparição como performer no Oscar, a cantora jamais passaria despercebida. Logo no tapete vermelho, já houve um momento de extravagância Gaganesca: primeiro, tratando-se da própria, já era de se esperar um investimento extra no quesito fashion. Usando exclusivamente vestidos by Azzedine Alaïa que, como a própria comentou no Twitter, também fazia seu début na premiação, a cantora virou meme de dona-de-casa e/ou faxineira por ter aparecido com luvas vermelhas estranhíssimas.

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Mas errou feio quem achou que Lady Gaga estava no Oscar apenas para chocar. Sem a presença de Tony Bennett e invocando o visual de  “Noviça Rebelde”, a cantora subiu ao palco da premiação com uma missão: mostrar ao mundo que, apesar de todas as excentricidades com que surgiu no universo pop, ela que cresceu tocando jazz em bares de Nova York, tem uma voz potente e é uma cantora que não precisa de perucas coloridas para ser uma estrela. Com um medley incrível, dramático e perfeitamente executado de músicas do clássico “A Noviça Rebelde” (“The Sound Of Music”, 1965), ela mostrou a todos o que os fãs e conhecedores mais profundos de seu trabalho já sabiam: Lady. Gaga. Canta. E, ao contrário de nomes como Adele ou Idina Menzel, que sempre tiveram aprovação do público convencional por soltarem a voz, a apresentação da cantora revela um outro lado de seu talento e pode entrar para a história recente da cerimônia. Afinal, que outra popstar teve uma mudança tão positiva e repentina em sua imagem?

Lady Gaga apresenta um medley de música do filme “A Noviça Rebelde”

Para coroar tudo, Gaga ainda foi aplaudida de pé e recebeu todos os elogios sinceros de Julia Andrews. Pois é, enquanto umas voam pelo Super Bowl, outras são ovacionadas no palco do Oscar. E nada como um dia após o outro.

 

(Foto: Reprodução Tumblr)

(Foto: Reprodução Tumblr)

2 – Neil Patrick Harris, o showman completo: Não, você não leu errado. Apesar de ter sido considerado como um “sem graça”, Neil Patrick Harris foi um ótimo apresentador sim, senhor, e não há como negar. Claro, quem estava esperando uma cerimônia toda apoiada em momentos de descontração e piadas chapa branca como aconteceu com Ellen DeGeneres no ano passado, não gostou. Acontece que o ator é isso: um ator, e não um apresentador de um matinal diário, no sofá do qual grande parte de Hollywood já sentou ou vai sentar para se autopromover. Apostando em sua faceta teatral que já lhe rendeu ótimos momentos na Broadway, NPH também foi pela comédia, mas não abriu mão das acrobacias performáticas e, assim como havia feito no Tony Awards, ele cantou, dançou, pulou cambalhota etc.

Número de abertura de Neil Patrick Harris

As piadas vieram e, como já é de costume, muitas foram direcionadas à falta de representatividade negra entre os indicados/votante da Academia. Aparentemente, ainda não deu para perceber que colocar o dedo na ferida não é o mesmo que fazer alguma coisa para curá-la. Mas, enquanto eles fingem que estão fazendo a sua parte, o público também finge do lado de cá que as coisas estão mudando.  Neil Patrick Harris também não mudará sozinho o sistema inteiro de Hollywood, não é mesmo? Mas, ainda assim, o cara merece palmas por ter tido a coragem de aparecer apenas de cueca na festa.

(Foto: Reprodução Tumblr)

(Foto: Reprodução Tumblr)

3 – Patricia Arquette e o feminismo gritante desta edição: Beleza, Patricia já deve ter saído de casa deixando um lugar na prateleira para quando voltasse com seu Oscar, que já estava mais do que garantido (e, surpreendentemente, o único “importante” para “Boyhood”). Mas, se o Grammy foi marcado pelo discurso contra o preconceito racial (como você viu aqui), o Oscars 2015  foi marcado pela luta das mulheres em busca de igualdade na indústria cinematográfica.

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Sim, a performance/vitória de John Legend e Common com “Glory” rendeu um momento mais sério à luta social dos negros por igualdade, algo que, na Academia, pode ser visto como um pedido para que eles parem de ser reconhecidos apenas por filmes sobre escravidão, como vem acontecendo nos últimos anos – algo que pode se estender até a TV brasileira, onde diversos talentos de primeiro escalão vêm sendo desperdiçados com papeis secundários de empregada, motorista, bandido etc. E, também, não podemos esquecer de Graham Moore discursando sobre depressão, suicídio e, consequentemente, homofobia. Mas, dessa vez, a seriedade das mulheres ao exigir respeito e ser tratadas como um indivíduo pensante  já começou antes de Neil Patrick Harris subir ao palco.

John Legend e Common cantam “Glory” no Oscars 2015

Na verdade, o movimento teve início ainda no ano passado, quando gente como Cate Blanchett e Elisabeth Moss se rebelaram contra a cultura de mostrar todos os ângulos possíveis de seus looks, cada uma dando sua respetiva patada nos jornalistas que as filmavam. A moda voltou este ano, encabeçada pela campanha “#AskHerMore” (“Pergunte-a mais”), lançada por Amy Poehler que, assim como grande parte do público e da indústria, sabe que atrizes servem para ser mais do que cabides andantes com belos vestidos. O intuito é tratar as mulheres do mesmo jeito que os homens são tratados: não perguntar apenas da roupa e das dietas, mas focar na carreira e senso crítico de cada presença feminina no ambiente.

Cate Blanchett se revolta com a câmera do E!

O discurso de Patricia Arquette foi apenas o ápice dessa revolta. Em uma edição onde poucas mulheres – e negros – foram indicadas aos prêmios grandes, mantendo-se apenas às suas dedicadas categorias de “Melhores Atrizes”, produções como “Livre” (“Wild”), “Garota exemplar” (“Gone Girl”)“Dois Dias, Uma Noite” (“Deux jours, une nuit”)0 e “Para Sempre Alice” (“Still Alice”) também foram completamente ignoradas não fosse por suas estrelas principais. Ao pedir direitos iguais para as mulheres, Patricia denuncia não apenas esses aspectos da Academia, mas também todo um sistema de retribuição absurdo, onde um nome como Jennifer Lawrence ganha menos do que Christian Bale para estar em um filme, como foi visto graças ao hackeamento da Sony. E, se Meryl Streep levanta e grita para alguém, meu bem, ao resto do mundo só basta abaixar a cabeça e seguir o movimento.

(Foto: Reprodução Tumblr)

(Foto: Reprodução Tumblr)

4 – Eddie Redmayne, o gentleman britânico: Os homens da terra da Rainha sempre fizeram sucesso pela América, mas a dupla Benedict Cumberbatch + Eddie Redmayne saiu com o troféu de melhores maneiras nessa temporada de premiações, mostrando elegância e simplicidade em meio às poses, pompas e carões. O discurso do ruivo foi, sem dúvidas, um dos mais humildes e espontâneos de toda a noite e, consequentemente, a melhor representação de o que é estar realmente surpreendido e extasiado por ganhar um Oscar. Merecido.

(Imagem: Reprodução Tumblr)

(Imagem: Reprodução Tumblr)

5 – Alejandro González Iñáritu e a nada virtuosa ignorância de Sean Penn:  O Oscar 2015 foi, sem dúvida alguma, de “O Grande Hotel Budapeste” e “Birdman”, que ou levaram o maior número de estatuetas ou as mais importantes, com o mexicano ainda quebrando a famosa tradição de não ser premiado simultaneamente por “Melhor Filme” e “Melhor Diretor”. Mas ele seria apenas mais um latino com discursos agradecidos não fosse a entrada de Sean Penn ao apresentar a categoria mais importante da noite.

Ao ler “Birdman” escrito no envelope de Melhor Filme, o ator ex-galã teve a nada brilhante ideia de completar o anúncio com o comentário:  “Quem deu um green card para esse filho da p*ta?”, se referindo, obviamente, a Iñáritu e sua origem mexicana. O momento foi estranho e muitos se perguntaram se o cara tinha tal intimidade com o diretor para fazer uma brincadeira de mal gosto como essa. Mas Alejandro subiu ao palco e o abraçou, o que, momentaneamente, fez o público de casa achar que era algum tipo de piada interna entre os dois. Só que não.

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Antes de descer do palco, a resposta do cineasta latino veio cortante e, amém, cortou fundo toda a soberba dos norte-americanos que se não se acham apenas os donos do continente inteiro (Nota: um estadunidense tem o mesmo direito que um brasileiro de ser chamado ‘americano’), mas esquecem as próprias origens misturadas de imigrantes europeus. Ao dizer: “Eu rezo para que os imigrantes sejam tratados com a mesma dignidade e respeito que aqueles que vieram antes e construíram essa incrível nação de imigrantes”, um tapa teria doído menos na estima e na consciência de Sean Penn. Como dizia o ditado: boca fechada não entra mosca.

Iñáritu e a patada que doeu mais que um tiro em Sean Penn (Foto: Reprodução Tumblr)

Iñáritu e a patada que doeu mais que um tiro em Sean Penn (Foto: Reprodução Tumblr)

BÔNUS – John Travolta e Idina Menzel finalmente “let it go” juntos: Foram apenas alguns minutinhos de piadas, mas que renderam um dos melhores momentos da noite, encabeçado por Neil Patrick Harris. John Travolta foi obrigado a se desculpar por ter falado o nome de Idina Menzel errado na última cerimônia e, entre uma proximidade um tanto quanto constrangedora e sorrisos aparentemente sinceros, o momento marcou uma noite majoritariamente ensaiada.

Hora de fazer as pazes, galere! (Foto: Reprodução Tumblr)

Hora de fazer as pazes, galere! (Foto: Reprodução Tumblr)